A ufolo(gia) do diálogo armado
Ogovernador provincial da Lunda Norte, Ernesto Muangala, apelou ( como se o MPLA soubesse o que isso é) ao diálogo e reconciliação na vila mineira de Cafunfo, onde há um mês incidentes com a polícia provocaram um número indeterminado de mortes, afirmando que “é hora de sarar as feridas”. Ernesto Muangala falava no 09.03 em Cafunfo, perante mais de 500 pessoas, entre membros do executivo e autoridades eclesiásticas, oficiais da polícia, sobas e habitantes locais, que se juntaram no salão 4 de Abril para reflectir sobre os acontecimentos ( massacre é o termo mais exacto) de 30 de Janeiro. As versões divergem sobre se foi um ataque à esquadra de polícia num acto de rebelião armada como defende o Governo, ou massacre de manifestantes, tal como o número de mortes, que variam entre os seis contabilizados pelas autoridades policiais e os cerca de vinte relatados por activistas, membros da sociedade civil, religiosos, organizações internacionais e partidos da oposição angolana. Abrindo as jornadas organizadas pelo Ufolo — Centro de Estudos para a Boa Governação, em parceria com o Comando Geral da Polícia Nacional, com um discurso centrado na união e apelos à reconciliação, Ernesto Muangala focouse na defesa da segurança ( segurança que, na terminologia interna do Polícia Nacional do MPLA é pôr a razão da força acima da força da razão) como uma necessidade básica do ser humano e condição essencial para o exercício de direitos. “Trazemos todos nós marcas nos corações, sulcados pelos conflitos armados” ( estaria a pensar nos massacres de 27 de Maio de 1977 ordenado por Agostinho Neto?), vincou o responsável da Lunda Norte, sublinhando que deve ser desencorajada “a prática de todos os actos que atentem contra a segurança e soberania nacional, contra a Constituição e contra a lei”. Defendendo uma “Angola una e indivisível” ( tal como Salazar defendia um Portugal “uno e indivisível” incluindo Angola), o discurso de Ernesto Muangala contou com aplausos de parte do público presente em alguns momentos, mas gerou também burburinho discordante em alguns momentos, em particular ao falar sobre as receitas dos diamantes, acções do Executivo a nível das infra- estruturas e as obras na estrada que ligará Cafunfo até à fronteira com a República Democrática do Congo, “cujos trabalhos se iniciaram no dia seguinte [ 10.03.21]”.
O governador da Lunda Norte afirmou que as reivindicações e pretensões contrárias aos interesses de Angola “nunca terão respaldo no passado histórico nem nas tradições dos angolanos” e falou sobre o desenvolvimento da província, elencando várias obras.
“Não nos parece justo propalar que o
Executivo angolano não tenha planificado o desenvolvimento para a nossa província”, sublinhou. Destacou que a mudança só poderá ser feita “com a força do diálogo”, visando sobretudo aqueles que fizeram apelo à violência para promover os seus fins, numa alusão ao Movimento Protectorado da Lunda Tchokwe, que o Governo angolano responsabiliza pelo “acto de rebelião” de 30 de Janeiro.
“Sentimos neste momento dor pelo que aconteceu nestas terras”, continuou o governador, apelando à reconciliação, diálogo e luta contra as assimetrias.
“Não oponhais resistência à reconciliação”, enfatizou, dirigindo- se ao povo de Cafunfo presente na sala, afirmando que “é hora de sarar feridas” e abrirem- se à convivência.