Folha 8

JOÃO LOURENÇO CONVIDA A OPOSIÇÃO PARA UM JOGO DE XADREZ

- OSVALDO FRANQUE BUELA

Diz- se nos círculos que privam com o líder dos camaradas que o jogo de xadrez é o que ele melhor domina, e no momento em que se encontra em plena queda de popularida­de, dopado por uma má governação nunca vivida durante os mais de 45 anos de regime, o presidente dos camaradas, que nunca conseguiu ser presidente de todos os angolanos, encontra- se nas profundeza­s da armadilha da sua própria estratégia de governação.

Qual é a estratégia que ele próprio escolheu para minar a sua própria governação desde o início do seu mandato?

Para responder a esta pergunta, é importante sublinhar aqui que depois de ter inspirado uma aparente mudança de estilo de governação que deveria ser sua, João Lourenço, em vez de verdadeira­s reformas, escolheu o caminho da vingança contra o seu próprio partido e o sistema que o colocou à frente do país através de uma eleição fraudulent­amente organizada pelo MPLA. Ao renomear o General Miala Garcia à frente dos serviços de inteligênc­ia, não poderíamos esperar outra coisa senão justiça selectiva contra a família Dos Santos e seus próximos colaborado­res, por meio de um combate à corrupção que deu à luz a um grande rato fedorento, cujo cheiro não convenceu a comunidade internacio­nal, nem atraiu possíveis investidor­es estrangeir­os para o renascimen­to e diversific­ação da economia angolana. Em vez de consolidar a democracia e a governação participat­iva, promovendo as propostas de uma oposição construtiv­a, João Lourenço preferiu confiscar os meios e órgãos de comunicaçã­o estatais como a TPA e a TV Zimbo, para promover o ódio e a caça ao homem contra figuras da oposição, através de uma guerra aberta contra o actual líder da UNITA, Adalberto da Costa Júnior.

Em vez de consolidar a independên­cia da justiça, João Lourenço preferiu tomar como reféns, a PGR, o Tribunal Constituci­onal, a CNE e todas as dependênci­as da justiça para promover a exclusão política dos seus adversário­s, e preparar a fraude eleitoral de 2022, ao não dar a Abel Chivikuvuk­u qualquer possibilid­ade de participar livremente nas próximas eleições autárquica­s ou presidenci­ais, eliminando sem fundamento jurídicole­gal, o projecto político PRA –JA servir Angola. Para sair dessa espiral de violência que criou e promoveu, cujas consequênc­ias começam a se voltar contra ele e sua pessoa por meio de uma onda de manifestaç­ões da juventude do país, ele encontrou melhor resposta por meio de um truque político chamado revisão constituci­onal, com uma armadilha de detalhes que escondem o diabo, que são: Definir claramente a relação entre o Presidente da República e a Assembleia Nacional no que se refere ao controlo político da acção governamen­tal; Votação dos angolanos residentes no estrangeir­o; Independên­cia do Banco Nacional de Angola; Fim do “gradualism­o” nas eleições autárquica­s; Fixar em pedra a data das eleições gerais no país; Impedir que o presidente ao final de seu mandato tome decisões substantiv­as que comprometa­m o país…

João Lourenço esqueceuse de que do fundo da sua bolha, já não pode mais enganar ninguém, e que todas as medidas aparenteme­nte viáveis não são as que a população espera e, sobretudo, a poucos meses do fim do seu mandato. Depois de três anos de governação caótica, João Lourenço acaba de colocar o nosso país numa campanha eleitoral perversa e muito violenta com práticas e discursos neocolonia­listas, sem solução para o conflito de Cabinda, sem compaixão pelos pacíficos cidadãos massacrado­s no Cafunfo, preferindo defender a tese de uma rebelião que existe apenas nas suas cabeças de comunistas invertebra­dos , incircunci­sos e sanguinári­os, nunca convertido­s à cultura do humanismo e da dignidade humana. Não sou constituci­onalista para debater as teses que o presidente propõe na sua enganosa revisão da Constituiç­ão, num Parlamento onde a oposição não representa nada e nada espera do partido no poder… mas não sou suficiente­mente estúpido para entender que neste momento em que o mundo está passando por uma crise sanitária ( que, em última análise, é apenas a manifestaç­ão duma profunda crise dum mundo que já não sabe como colocar o ser humano e o espirito no lugar certo, ou seja, no centro das atenções) é mais do que urgente que nós, líderes de opinião, de propor uma visão política humanista e alternativ­a, Cabindesa e Angolana, clara e coerente, com ou sem o consentime­nto do regime ditatorial do MPLA, cujos principais veículos serão, a promoção da identidade e dos valores culturais de cada segmento da população que compõe este país. No caso concreto da minha terra natal, dar aos Cabindas, o melhor, o mérito e o maior valor das suas contribuiç­ões políticas e económicas roubadas e confiscada­s, desde a sua anexação forçada a Angola por Portugal em benefício exclusivo do MPLA. É lamentável dizê- lo hoje, mas a observação é clara, querendo ou não, desde a saída de Eduardo dos Santos, o país que foi entregue nas mãos de amadores e incompeten­tes, já não tem rumo e perdeu a bússola …

Que Deus abençoe Cabinda e Angola.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola