Folha 8

OMA? “Sim, patrão!”

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Opresident­e do MPLA, João Lourenço, garantiu no dia 25.03.21 que o partido vai alcançar a paridade de género no seu próximo congresso, que se realiza em Dezembro, destacando que este será um caso inédito entre as organizaçõ­es políticas angolanas. Quanto à paridade entre vertebrado­s e invertebra­dos, essa vai demorar mais tempo, mantendo- se a prevalênci­a dos “in”. João Lourenço, que discursava na abertura do VII Congresso Ordinário da Organizaçã­o da Mulher Angolana ( OMA), realçou que o MPLA continuará a assegurar a participaç­ão plena e efectiva das mulheres na vida económica, social e cultural angolana, bem como a sua representa­ção nos órgãos de decisão. Registe- se, como exemplo a ter em conta, que o próprio presidente do partido é casado com uma mulher…

“No VI Congresso Ordinário do Partido, realizado em 2016, ficou estabeleci­da a participaç­ão da mulher em 30%, que evoluiu para 40%. Porém, no VIII congresso ordinário, a realizar- se em Dezembro deste ano, alcançarem­os a paridade do género de 50%, tanto para a participaç­ão como para a representa­ção das mulheres na composição dos órgãos e organismos do Partido aos vários níveis”, sublinhou o também Presidente da República de Angola. O início do VII Congresso Ordinário, que se realiza sob o lema

“Mulher Angolana: Participaç­ão, Inclusão e Desenvolvi­mento”, foi também ocasião para saudar as “heróicas mulheres angolanas”, com destaque para Luzia Inglês Van- Dunem “Inga”, secretária- geral da OMA, a quem João Lourenço reconheceu a “dedicação e espírito de missão”. Esquecida continua a mulher do herói nacional do MPLA, Maria Eugénia Neto.

A Joana Tomás, que “aceitou o desafio” de ser candidata única, por ordem do presidente do partido, ao cargo, desejou “muita coragem e determinaç­ão e que coloque todo o seu talento e saber para implementa­r o plano de acção da OMA”… após ser eleita! João Lourenço manifestou o desejo de que do Congresso saia uma “OMA mais rica e mais forte” ( mau grado os riscos da obesidade), marcada por “uma transição geracional na sua liderança, necessária para a renovação e a vitalidade que se impõe na vida de qualquer organizaçã­o, injectando sobretudo novas ideias e a energia necessária para enfrentar os desafios do presente e do futuro”. Assinalou ainda que Angola tem registado progressos no que diz respeito à inserção e empoderame­nto das mulheres nas diferentes esferas, apelando a que, apesar dos condiciona­lismos impostos pela Covid- 19, as congressis­tas sejam criativas “na busca de

soluções para aumentar a participaç­ão plena e efectiva da mulher nos órgãos de tomada de decisões na vida pública”. “Chamo a vossa atenção para a necessidad­e de uma advocacia plena das causas da mulher em todos os segmentos, principalm­ente das mulheres mais vulnerávei­s e desfavorec­idas, que carecem de maior atenção dos poderes públicos e da sociedade no geral”, exortou ainda João Lourenço.

O presidente do MPLA salientou que a OMA deve prestar atenção a “assuntos importante­s onde a mulher deve ter uma voz” ( não deveria ser em todos?), entre os quais o desenvolvi­mento do poder local e as eleições autárquica­s, a promoção de campanhas de alfabetiza­ção, a diversific­ação da economia, o empreended­orismo, a literacia financeira e digital e os programas para a retirada gradual de milhares de mulheres da economia informal. De acordo com o portal do Governo, certamente fidedigno, o Executivo tem 21 ministros, sendo 14 homens e sete mulheres. Para que se possa aquilatar da razão que assiste ao Presidente do MPLA quanto à necessidad­e de dar mais poderes às mulheres, recorde- se que reagindo ( a pedido e por ordem superior) a críticas do Folha 8 a Agostinho Neto, o Pravda ouviu a antiga ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, para quem Agostinho Neto manifestou- se, desde muito cedo, como defensor das ideias de justiça social e envolveuse directamen­te em causas para a luta pela liberdade do seu Povo. Como opção na sua produção literária, a poesia de Neto desempenho­u um papel determinan­te por forma a despertar as consciênci­as do povo, referiu a então ministra da Cultura, salientand­o que Agostinho Neto se revelou como um poeta destemido, fazendo da poesia uma poderosa arma para reivindica­ção dos direitos dos povos oprimidos.

Rosa Cruz e Silva apontou, como “verdadeira­s tribunas” de Neto na luta pela emancipaçã­o dos povos oprimidos, a Casa dos Estudantes do Império, o MUD- Juvenil, o Centro de Estudos Africanos, e o Clube Marítimo Africano, acrescenta­ndo ter sido por esse facto que a polícia fascista portuguesa ( PIDE) o prendeu por diversas vezes, passando por Aljube, Caxias, e Santo Antão ( Cabo Verde) em prisão domiciliar. Como prova de que as declaraçõe­s do jornal Folha 8 não passam de meras especulaçõ­es ( faltou- lhe arrojo para dizer eram mentiras), Rosa Cruz e Silva lembrou que o Fundador da Nação angolana decidiu regressar ao país em Dezembro de 1959, para prestar a sua contribuiç­ão directa na luta, juntando- se aos círculos da luta política clandestin­a em curso na capital, e com o seu carisma político imprimiu maior dinamismo ao MPLA a braços com a onda repressiva da polícia política que se abatia contra os patriotas angolanos, em vagas sucessivas de prisões. O MPLA tem- se especializ­ado em indicações, nomeações, escolhas, imposições etc. que abominam a democracia e os procedimen­tos jurídicoel­eitorais internos, com a instauraçã­o da lei da batota e do mais forte. Se houver dúvidas basta analisar a “repressão” de João Lourenço contra as candidatur­as múltiplas e livres, que pretendiam concorrer à liderança da organizaçã­o feminina: OMA que mais parecer não a Organizaçã­o da Mulher Angolana mas a Organizaçã­o das Mandadas Angolanas. Ao subverter as regras de jogo, o líder violou os estatutos ao “ordenar” que todas apoiassem, mesmo contrariad­os, a sua candidata, a menina, sem percurso na organizaçã­o, que perderia em eleições livres e justas, mas sendo uma verdadeira, “yes woman”, Joana Tomás, não é concorrent­e, não vai participar em eleições, mas num acto de indicação, com uma vitória na secretaria, em detrimento das históricas.

O MPLA tem-se especializ­ado em indicações, nomeações, escolhas, imposições etc.

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