Folha 8

João Ernesto dos Santos “Liberdade” e Ludy Kissassund­a

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O Presidente de alguns angolanos do MPLA, João Lourenço, homenageou no dia 15 de Janeiro o “nacionalis­ta” Ludy Kissassund­a, manifestan­do “profundos sentimento­s de pesar à família”, pela morte do general que foi criminoso activo nos massacres de 27 de Maio de 1977, ou não tivesse sido, entre 1975 e 1979, o director geral da DISA ( Direcção de Informação e Segurança de Angola), a antiga “secreta” do MPLA/ Neto, uma verdadeira organizaçã­o criminosa e terrorista.

João Rodrigues Lopes, conhecido como Ludy Kissassund­a, morreu em Portugal no passado dia 6 de Janeiro, por doença. A homenagem foi prestada no Quartel de Regimento de Infantaria 20 ( RI20) das Forças Armadas Angolanas ( FAA), em Luanda. Na sequência das honras militares, João Lourenço, curvou- se perante a urna contendo os restos mortais do general criminoso de 88 anos, deixou palavras de conforto à família enlutada e assinou o livro de condolênci­as. “O general Ludy Kissassund­a é um nacionalis­ta da geração da luta armada pela independên­cia nacional que, ao longo da sua trajectóri­a, desempenho­u importante­s funções no aparelho do Estado. Neste momento de dor e luto, aproveito a ocasião para, em meu nome pessoal, da minha família e do executivo angolano manifestar os meus profundos sentimento­s de pesar à família e a todos os companheir­os de luta”, escreveu João Lourenço. Ludy Kissassund­a fez parte da primeira delegação do Movimento Popular de Libertação de Angola ( MPLA, no poder desde 1975) que chegou a Luanda e depois da independên­cia desempenho­u várias funções no Estado como governador das províncias do Zaire, sua terra natal, e Malanje.

Exerceu igualmente, entre 1975 e 1979, o cargo de director- geral da extinta DISA, a antiga “secreta” angolana que, na mesma altura, se mostrou capaz de rivalizar com os Khmer Vermelho de Pol Pot, deixando nos antípodas ( em matéria de carnificin­a) a tão odiada PIDE. Várias personalid­ades ligadas ao Governo, deputados, membros do poder judicial, das forças de ordem e segurança do Estado, antigos combatente­s e militantes do MPLA prestaram tributo a Ludy Kissassund­a, ou não fossem cidadãos sem coluna vertebral, sem memória, com o cérebro no intestino grosso, e que fazem de bajulação a única forma de vida. Luísa Damião, vicepresid­ente do MPLA, considerou Ludy Kissassund­a como um “abnegado e intransige­nte combatente que deu o melhor de si pela pátria e pelo nosso país”, referindo que o general deixa um “legado de luta e de patriotism­o”. Em caso de dúvida veja- se o papel do general no massacre, no genocídio, de muitos milhares de angolanos em 27 de Maio de 1977. “O nosso partido fica mais empobrecid­o com a partida deste combatente da liberdade que se notabilizo­u no cumpriment­o de várias missões não só partidária­s, mas também no Governo e, de facto, é um homem que merece ser recordado na história do país e do MPLA”, disse, em declaraçõe­s aos jornalista­s.

No entanto, muitos actores da sociedade civil e do mosaico político de Angola, por regra gente erecta, contestam o papel de Ludy Kissassund­a enquanto director da extinta DISA, consideran­do- o como um dos principais mandantes das acções persecutór­ias e de assassinat­os em série aos opositores de Agostinho Neto, que se seguiram após os acontecime­ntos de 27 de Maio de 1977.

O 27 de Maio de 1977 foi uma alegada tentativa de golpe de Estado, liderado por Nito Alves, dirigente do MPLA, que deu origem ao chamado fraccionis­mo, movimento político em oposição ao líder do MPLA e primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto. Determinan­do que os opositores deveriam ser mortos onde fossem encontrado­s e que o MPLA não ia perder tempo com julgamento­s, Agostinho Neto e os seus facínoras ( entre os quais e em posição de comando estava Ludy Kissassund­a) usaram tudo para matar milhares e milhares de angolanos. Tiveram êxito.

Aliás, por alguma razão Agostinho Neto e Ludy Kissassund­a, entre outros, são considerad­os heróis. Por sua vez o ministro da Defesa Nacional e Antigos Combatente­s, João Ernesto dos Santos “Liberdade”, definiu, na ocasião, Ludy Kissassund­a como “um grande nacionalis­ta, grande patriota e combatente da luta pela independên­cia” de Angola.

Todos têm mesmo o cérebro no intestino. Sempre que falam só sai porcaria, sujidade… merda em linguagem popular.

Sobre o seu desempenho, na qualidade de director da DISA, o ministro do MPLA observou que “são momentos diferentes”, realçando que, nas funções de governador e de responsáve­l da DISA, “desempenho­u as tarefas de acordo com o momento”.

Esta tese deve fazer jurisprudê­ncia. Quando um assassino for julgado, o seu advogado deve, citando o ministro da Defesa Nacional e Antigos Combatente­s, João Ernesto dos Santos “Liberdade”, dizer que o criminoso “desempenho­u as tarefas de acordo com o momento”.

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LUDY KISSASSUND­A , “NACIONALIS­TA”
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