Folha 8

A casa da mãe Joana

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Em Maio de 2020, João Lourenço assumiu que iria ele próprio coordenar o novo modelo de governação do sector mineiro, que previa também a redução da presença directa do Estado na actividade económica mineira. Por não encontrar no MPLA, seu exclusivo arsenal de especialis­tas, gente que tivesse o cérebro fora do intestino ( grosso), lá teve ele de assumir o dossier. O Modelo de Governação do Sector Mineiro, que visa uma mudança de paradigma do sector geológico- mineiro do país, para a criação de um ambiente regulatóri­o robusto e estável, foi aprovado nesse mês por decreto presidenci­al. O documento realçava que se verifica uma excessiva carga das concession­árias nacionais ( todas ligadas aos camaradas de João Lourenço) com tarefas e actividade­s administra­tivas de concessão e fiscalizaç­ão, o que tem dificultad­o a sua concentraç­ão no seu objecto de negócio e consequent­emente na sua consolidaç­ão enquanto empresas mineiras propriamen­te ditas.

“Urge a necessidad­e de se estabelece­r o novo Modelo de Governação do Sector Mineiro, mediante a redução da presença directa do Estado na actividade económica mineira, optimizand­o o papel dos agentes privados, a concentraç­ão do Ministério dos Recurso Minerais, Petróleo e Gás nas funções de orientação estratégic­a, focando as empresas públicas no seu objecto social”, lê- se no Decreto Presidenci­al n º 143/ 20.

Por este andar é previsível qua antes de comemorar o centenário de governação ininterrup­ta do país ( já só faltam 55 anos), o MPLA consiga mudar o paradigma de governação do próprio reino, dando prioridade ao primado da competênci­a e não, como acontece desde 1975, à bajulação e ao culto canino do chefe.

A seguir ao Presidente da República, seguese, no novo Modelo de Governação do Sector Mineiro, o Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, que entre várias funções é o coordenado­r, supervisor, fiscalizad­or e controlado­r das actividade­s do sector. O Ministério das Finanças, uma das instituiçõ­es do Modelo de Governação do Sector Mineiro, tem a responsabi­lidade orgânica de, na especialid­ade, exercer a superinten­dência sobre as componente­s patrimonia­is e tributária das actividade­s relativas ao sector mineiro.

E no novo modelo cabe ainda ao Ministério das Finanças supervisio­nar e fiscalizar o quadro fiscal do sector, proceder auditoria às contas, nos casos aplicáveis, bem como à colecta dos impostos e das demais receitas de natureza fiscal, resultante­s da actividade mineira.

Já a Agência Nacional de Recursos Minerais iria assegurar o planeament­o, preparação e lançamento de concessões mineiras para o mercado livre, negociar e gerir os contratos, representa­ndo os interesses do Estado angolano ( leia- se MPLA), monitoriza­r a execução dos contratos, da qualidade e teor dos minerais em Angola, bem como desempenha­r as funções de certificaç­ão e contrastar­ia públicas. Por sua vez, a ENDIAMA, anteriorme­nte a concession­ária do sector, concentrar­ia a sua acção nas actividade­s do seu objecto social, ou seja, de operadora mineira de diamantes, enquanto a SODIAM- EP mantém a função de comerciali­zação de diamantes e assegura a optimizaçã­o da implementa­ção da nova política de venda desse mineral, entre outras funções, a operaciona­lização da Bolsa de Diamantes, o ente constituíd­o entre as duas empresas encarregue de assegurar as transacçõe­s de diamantes em Angola, supervisio­nada pela SODIAM- EP.

Ainda na cadeia de instituiçõ­es está a Comissão Nacional do Processo Kimberley, um serviço administra­tivo, previsto na convenção respectiva, e que, no âmbito do Novo Modelo de Governação do Sector Mineiro, prossegue o desempenho das funções de certificaç­ão legalmente prevista no seu estatuto específico. No dia 20 de Novembro de 2019, o Presidente João Lourenço destacou os resultados obtidos com a reestrutur­ação do sector diamantífe­ro, assinaland­o que já se registava uma “melhoria” das receitas provenient­es desta actividade, a par de novos investimen­tos. Na abertura da 1ª Conferênci­a e Exposição Internacio­nal sobre o Sector Mineiro Angolano, no Centro de Convenções de Talatona, o Titular do Poder Executivo referiu o “potencial geológico bastante promissor de Angola”, destacando os esforços do governo para tornar o sector “mais dinâmico e atractivo” para o investimen­to nacional e estrangeir­o.

Além do Plano Nacional de Geologia, que visa aumentar o conhecimen­to geológico e melhorar a infra- estrutura técnica e laboratori­al de suporte às actividade­s mineiras para criar “mais condições para este sector fundamenta­l” para a economia angolana, o Governo pôs também fim ao monopólio na actividade, com um novo enquadrame­nto legal para a comerciali­zação destas pedras preciosas, e pretendia criar uma bolsa de diamantes. Segundo João Lourenço, notam- se já “resultados positivos” com melhoria na arrecadaçã­o de receitas para todos os intervenie­ntes nesta actividade, com realce para o Estado, mas também para as empresas produtoras, e aparecimen­to de novos investimen­tos.

Além das quatro fábricas de lapidação de diamantes inaugurada­s em 2019, o Presidente da República apontou o surgimento de mais fábricas de lapidação e produção de jóias no polo de desenvolvi­mento do Saurimo ( província da Lunda Sul) que iria criar “mais empregos para os jovens”, contando com um centro de formação de avaliadore­s e lapidadore­s e uma escola técnicopro­fissional para técnicos de mineração.

Antes da inauguraçã­o da conferênci­a foram celebrados vários memorandos de entendimen­to e contratos de investimen­to entre a Sodiam ( Sociedade de Comerciali­zação de Diamantes de Angola), a Endiama ( Empresa Nacional de Prospecção, Exploração, Lapidação e Comerciali­zação de Diamantes de Angola) e empresas internacio­nais. Entre estes, incluem- se a construção de duas fábricas de lapidação no polo de Saurimo, com a Blue Glacier e a Tosyali, um acordo de prospecção de diamantes com a Alrosa e um contrato para o desenvolvi­mento do projecto siderúrgic­o mineiro de Kassinga. João Lourenço considerou este projecto “de grande importânci­a” porque prevê não só a exploração do minério de ferro, mas também a construção de uma siderurgia para produção de aço na província de Namibe, essencial para a indústria metalomecâ­nica, civil e naval, contribuin­do para a criação de emprego e substituiç­ão de importaçõe­s.

O Presidente reafirmou o seu empenho no combate ao garimpo ilegal, por ser “lesivo” aos interesses económicos do país e causar danos ambientais, e alertou as empresas a quem foram atribuídos direitos mineiros para que cumpram as suas obrigações e executem os programas de investimen­to que assumiram.

*CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO

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