Folha 8

É hora da verdade

- TEXTO DE WILLIAM TONET

Averdade quando, consciente­mente, aniquilada, confere à mentira um pedestal institucio­nal e aos seus autores um carácter narcisista. O Presidente da República de Moçambique, faltou com a verdade quando, na qualidade de presidente da SADC, considerou ter havido uma vitória militar do exército angolano/ FAPLA/ MPLA, na batalha do Kuito Kwanavale, consideran­do por via disso o dia 23 de Março como de libertação da África Austral.

PRIMEIRA MENTIRA: Se fosse de libertação da África Austral, Moçambique teria parado a guerra em 23 de Março d 1988, mas a Frelimo/ governo e a RENAMO/ oposição, só pararam a guerra em 1990, com base nos Acordos de Roma e o governo de Angola/ MPLA, não fez parte da equipa de mediação… Igualmente no ex- Zaire, a guerra não parou em 88… Quid juris? SEGUNDA MENTIRA: Não ( nunca) houve nenhuma Batalha Kuito Kwanavale, nem como denominaçã­o, tão pouco as operações militares decorreram na localidade do Kuito…

PRIMEIRA VERDADE: Houve da parte das FAPLA/ Cuba/ Rússia a célebre OPERAÇÃO ZEBRA em 1987/ 88, a partir da localidade do Kuito Kwanavale, visando conquistar as bases mas avançadas da UNITA: Mavinga e Likua e depois desbaratar o seu bastião ( quartel- general) da Jamba, na província do Kwando Kwbango…

SEGUNDA VERDADE: A UNITA por sua vez denominou a sua operação militar, de resposta a ofensiva das FAPLA, com o nome: LOMBA 87, significan­do que, também, não participou em nenhuma Batalha do Kuito Kwanavale, que é fruto de uma elucubraçã­o política partidocra­ta do executivo; TERCEIRA VERDADE: As forças governamen­tais com apoio cubano e soviético, não conseguira­m contornar o rio Longa, alcançar Mavinga, nem a Jamba, logo não conquistar­am nenhuma posição inimiga: UNITA/ África do Sul;

QUARTA VERDADE: A guerra entre os angolanos e o desgaste dos aliados, levou à assinatura da Resolução 431 das Nações Unidas, visando a retirada das tropas cubanas e soviéticas, dos sul africanos e as negociaçõe­s para a independên­cia da Namíbia;

QUINTA VERDADE: A iniciativa e sonho da implantaçã­o do socialismo e de regimes de partido único, através da via militar, na África Austral, capitanead­a, por Angola fracassou, redondamen­te…

SEXTA VERDADE: Angola é o único país que gastou dinheiro público, para construção de um monumento, para retratar a vitória de uma batalha, que as suas forças não obtiveram no teatro das operações militares. África clama por líderes sérios Infelizmen­te as declaraçõe­s do Presidente Filipe Nyusi, no 23.03, não reflectem a posição equidistan­te de um estadista imparcial, mas o frete partidocra­ta do presidente de um partido amigo: FRELIMO ao presidente do partido no poder em Angola: MPLA. Aqueles que não conhecem a guerra, o seu chão, a sua pólvora e o seu sangue, mentem descaradam­ente… O verdadeiro militar, sabe distinguir a derrota da vitória, mesmo tendo em linha de conta, o objectivo político da sua acção. No Kuito Kwanavale a ideologia política do socialismo ( cheguei a acreditar nela): “Angola trincheira firme da revolução em África”, corporizad­a pelos militares das FAPLA versus russos/ cubanos sucumbiu, diante das forças militares das FALA ( UNITA) versus militares do apartheid, porquanto o exército de Angola, nem ocupou Mavinga, nem tomou a Jamba, quartelgen­eral de Jonas Savimbi, tendo pelo contrário recuado até a localidade do Kuito Kwanavale, com um somatório elevado de perdas humanas e materiais.

É preciso dizer a verdade e parar de institucio­nalizar a mentira, com apoio de líderes fracos que não lêem.

O presidente Nyusi poderia consultar, por exemplo, para não falar de outros, o livro do moçambican­o Marcelo Moose, onde consta uma entrevista do general França Ndalu, feita por Carlos Cardoso com o oficial angolano a reconhecer não ter sido alcançado o objectivo de derrotar a UNITA.

O que os jovens da África Austral precisam é da verdade, senhor presidente da SADC e não de uma mentira e narcisismo.

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FILIPE JACINTO NYUSI , PRESIDENTE DE MOÇAMBIQUE

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