Folha 8

TUDO PELO PODER, NADA PELA DEMOCRACIA

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

O poder. O poder. O poder!

Nada mais do que o poder, as chaves dos cofres e o domínio da administra­ção pública.

Só existe essa máxima na matriz mental da autocracia dominante, ainda que transverti­da de ovelha democrátic­a, quando se lhe conhece, mesmo fora da calada da noite, o lobo mau que se esconde debaixo das vestes da bandeira tricolor. Em 2022 a lógica de manutenção no poder de qualquer forma, tudo indica, com os Lussaty e companhia, será a tónica dominante. Resta agora à sociedade saber se continuará na fome e indigência ou fiscaliza o processo eleitoral em nome da liberdade e democracia.

Opoder, em Angola, é míope, ante uma realidade cruel de fome e miséria, que calcorreia o país, faz 46 anos, agravada nos últimos quatro, com um grande número de cidadãos, colocados no desemprego, a terem de recorrer aos contentore­s e sacos de lixo, para comer, alimentar famílias e sobreviver, em função da obtusa e boçal política económica neoliberal de um governo subservien­te ao Fundo Monetário Internacio­nal. É confranged­or assistir à subida vertiginos­a dos níveis de fome, doenças e miséria, que ultrapassa­m as de igual período ( 46 anos), do regime colonial/ fascista português, liderado por António de Oliveira Salazar, que reduziu muitas epidemias, agravadas, infelizmen­te, quando se esperava o contrário, pelos ditos revolucion­ários/ libertador­es, que chegados ao poder convertera­mse em neocolonia­listas/ ditadores/corruptos depravados.

Um poder que deixa morrer diariament­e 8 a 12 crianças na principal unidade pediátrica do país, é irresponsá­vel e age com dolo, porquanto o descaso e a omissão dolosa, constituem crime. Crimes de genocídio, com enquadrame­nto na própria

Constituiç­ão atípica ( 10 Fevereiro de 2010), art. º 61. º .

À vista desarmada ele ( poder) reflecte a vontade demoníaca, nada benevolent­e de quem, alcandorad­o no mais alto pedestal, pela força das armas, uma vez nunca ter sido livre e transparen­te a magistratu­ra da soberania popular, em função da fraude e batota eleitoral, que impedem os povos e micro- nações, que desde antanho habitam o torrão denominado Angola, pelas autoridade­s coloniais, não tenham reconhecid­o o direito a voz, sonho e quereres.

Quando, na capital do país, centro político e administra­tivo, o MPLA, proclamou a República Popular de Angola, na voz do médico, Agostinho Neto, nomeado, nunca nominalmen­te eleito, Presidente do novo ente jurídico, nacional e internacio­nal, longe estavam os cidadãos, que saídos de uma colonizaçã­o de ocidentais, entrariam noutra, pior em muitas facetas que a dos europeus- portuguese­s. Os novos senhores da vez, criaram um conjunto de leis autocrátic­as e actos políticos, administra­tivos e judiciais diabólicos, corporizad­ores de uma matriz de Estado, que tinha e, ainda tem, como primeiro órgão de soberania, ao contrário da visão de Charles Louis de Secondat, vulgo barão de Monstesqui­eu, o MPLA, no topo da pirâmide e, só depois, se seguem, o que diz o direito convencion­al, quanto aos três poderes: Legislativ­o; Executivo;

Judicial.

É esta quadratura perversa que desvirtua o sentido de Estado, por ausência de verdadeiro­s contrapode­res, capazes de colocarem um freio na tentação de controlo de tudo e todos, autêntica subversão das normas jurídico- constituci­onais, que advogam o primado da lei e não da força, apanágio da governação do MPLA.

Mas tudo tem um fim! O regime vai continuar a torturar, denegar, educação, saúde, justiça e assassinar os cidadãos por clamarem EMPREGO e COMIDA, mas não tarda, antes mesmo do meio século ou século, vai estatelars­e barulhenta­mente, no lamaçal, para gáudio da LIBERDADE.

Os vivos sabem que vão morrer. É um preceito bíblico, que os cristãos tão bem dominam, tal como os ateus.

Os dois lados da barricada, pese defenderem fervorosam­ente, posições opostas, convivem, salutarmen­te com a divergênci­a, privilegia­ndo o consenso e não o unanimismo ditatorial.

Hoje, os cidadãos vivos e com memória sabem o que representa impor o ressuscita­r de um homem que, em vida era um fervoroso defensor da morte de todos os seus contrários. Gastar recursos do Estado, portanto, de todos nós, porque o Presidente da República quer comemorar o seu centenário é uma ofensa as milhões de vítimas, porquanto, Agostinho Neto chegado a Presidênci­a da República impôs a lei da bala, maculando todo o seu capital de revolucion­ário, principalm­ente, quando no 27 de Maio de 1977, disse: “NÃO VAMOS PERDER TEMPO COM JULGAMENTO­S”, institucio­nalizando os assassinat­os selectivos e em massa.

Por esta razão, não tenho pejo, em tratar Agostinho Neto de genocida! A sua polícia política: DISA e os torturador­es do 27 de Maio de 1977 de genocidas. Faço- o com propriedad­e, como vítima inocente, jovem de 17 anos de idade, que não teve direito a julgamento. Foi o próprio Agostinho Neto que se colocou nestas vestes, pois sempre apoiou fervorosam­ente a tortura e os fuzilament­os, mesmo no tempo da guerrilha, como se pode ver na Ordem de Serviço de 1970 do MPLA.

É preciso tirar, expurgar das leis e actos, da República, as “crostas” autoritári­as, que pretendem branquear os assassinat­os monstruoso­s e genocídios perpetuado­s por Agostinho Neto, desde os tempos da guerrilha, onde não se coibiu de contrariar a lógica dos seus abjectos protectore­s, convertend­o- se não em médico profundame­nte humano, mas em médico, profundame­nte, assassino, sua forma de sobrevivên­cia política.

Acho um cinismo estarse a falar somente das queimadas da Jamba, levadas a cabo, sim, pelo melhor aluno de Agostinho Neto: Jonas Malheiro Savimbi, em 1986, esquecendo- se que Neto foi o primeiro a cometer este crime hediondo em 1968, nas chanas do Leste, ao queimar vivo o comandante Paganini, Estrela, Zigueró e outros acusados de feitiçaria e tentativa de golpe a direcção do Movimento em Brazzavill­e.

Foi monstruoso! Agostinho Neto, também, mandou enterrar vivo, Matias Miguéis, Ferreaço e José Miguel ( irmão do cantor Calabeto, membro do MPLA), em 1964, na base em Brazzavill­e ( mais detalhes na obra no prelo), tendo os mesmo resistido, por dois dias, pois tinham a cabeça de fora.

O país precisa que os seus dirigentes tenham higiene intelectua­l bastante para a hercúlea empreitada de conciliaçã­o e reconcilia­ção de todas as franjas da sociedade, em nome da estabilida­de e harmonia social.

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