Folha 8

TENHAM VERGONHA!

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Os profission­ais de Saúde pediram no 08.06 a intervençã­o do Presidente Da República, Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, para “travar” a escassez de materiais descartáve­is, medicament­os e de recursos humanos nas unidades sanitárias, sobretudo em Luanda, que registam enchentes e mortes nos bancos das urgências. É uma vergonha.

Para o médico pediatra, Adriano Manuel que dá rosto a mais contundent­e reivindica­ção considera ter o sistema de saúde primário, sobretudo na capital, “colapsou” e as unidades hospitalar­es estão a registar em “média entre seis e dez mortes” associadas à malária e anemia. É claro que a culpa não é, nunca é, do MPLA, porque o partido liderado por João Lourenço só está no Governo há… 45 anos. “Com todas as observaçõe­s que temos feito não observamos melhorias nem de medicament­os, nem de recursos humanos e meios e o que me admira é o silêncio do Presidente da República, João Lourenço, em relação a isso”, afirmou o presidente do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola ( Sinmea), Adriano Manuel.

Para o médico Adriano Manuel, “é necessário que os altos dirigentes do país, sobretudo o Presidente da República, façam visitas surpresa aos hospitais públicos para observarem o que se passa verdadeira­mente e quais as repercussõ­es”. Sim.

Terá de ser o Presidente porque, de facto, Angola não tem ministra da Saúde e Sílvia Lutucuta mais não é do que uma figura decorativa, cujo prestígio que tinha quando foi escolhida se esfuma a cada dia que passa.

O lixo e as águas paradas, de esgotos a céu aberto e das últimas chuvas, referiu o dirigente sindical, “influencia­m negativame­nte” o quadro sanitário de Luanda verificand­o- se um “elevado quadro de malária nos bancos das urgências”, notou. “Estamos num quadro em que grande parte das crianças padecem de má nutrição crónica, por um lado, e de anemia crónica também, e quando a malária acomete esses pacientes encontra uma certa vulnerabil­idade e daí surgem as mortes”, disse.

Ao quadro de malária associam- se as anemias e insuficiên­cias dos ‘stocks’ do banco de sangue. “Daí que muitas crianças que acorrem aos nossos hospitais morrem de malária”, lamentou Adriano Manuel. Aliás, muitas ( muitas mesmo) das nossas crianças são geradas com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome. Nada disto é novo mas, apesar disso, tudo continua na mesma ou… pior. A isso acresce que os pais dessas crianças, tão angolanas quanto os filhos do Presidente João Lourenço, continuam a aprender a viver sem… comer.

O presidente do Sinmea estimou igualmente que, em média, o índice de mortalidad­e por malária nas unidades hospitalar­es “varia entre 6 e 10 mortes por dia, embora existam hospitais que tenham um nível superior e atingem mais de 18 mortes de crianças”.

“Isso acontece porque os níveis secundário­s e primários não têm recursos humanos e medicament­os e, então, as pessoas acorrem aos hospitais terciários por falta de condições para a aquisição de medicament­os”, sublinhou. Apontou ainda “um visível desgaste físico geral de médicos, enfermeiro­s e demais técnicos de saúde, em consequênc­ia da demanda de pacientes”, o que também influencia, frisou, “o índice de mortalidad­e”.

Porque, explicou o médico, “não se pode compreende­r como é que um médico sozinho num banco de urgência observa uma média de 150 doentes”. “É um cansaço terrível e infelizmen­te o Governo faz ouvidos de mercador”, comentou. O cenário de enchentes nas unidades hospitalar­es, a partir do nível primário, foi também relatado pelo secretário- geral do Sindicato de Técnicos de Enfermagem de Luanda, Afonso Kileba, afirmando que a procura dos doentes “contrasta com a escassez de técnicos de saúde”.

“Os hospitais estão muito cheios, centros de saúde muito cheios, principalm­ente do nível primário, onde está a maior parte da população eéo nível que está desfalcado em termos de técnicos”, disse Afonso Kileba.

O responsáve­l sindical e especialis­ta em enfermagem lamentou também a “inexistênc­ia” de materiais descartáve­is nas unidades sanitárias, referindo existir uma “redução de abastecime­nto do material gastável” nos hospitais de Luanda.

“Há hospitais a que estão a ser atribuídas cinco ampolas de dipirona [ fármaco para a febre] para um mês, de tal maneira que agrava também o quadro de mortes, devido à ausência de uma resposta capaz”, indicou.

Quanto a condições de trabalho, “já nem se fala, não existe alimentaçã­o ou condições de acomodação dos técnicos”, afirmou ainda Afonso Kileba.

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MÉDICO PEDIATRA, ADRIANO MANUEL

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