Folha 8

MPLA trata doentes angolanos em Portugal como lixo

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AAssociaçã­o dos Doentes Angolanos em Portugal ( ADAP) acusa o Governo de Luanda ( há 45 anos nas mãos do MPLA) de enxotar os doentes em tratamento em Portugal ( que, ao contrário de outros, não podem tratar- se no Dubai) para a situação de sem- abrigo ao retirar- lhes apoio ou obrigar ao seu regresso, que a maioria recusou.

Na sequência do encerramen­to da junta médica de Angola em Portugal, que aconteceu em Fevereiro, dezenas de doentes regressara­m a Angola, mas a maioria optou por permanecer em Portugal, alegando com comprovati­vos clínicos que precisavam de continuar a receber tratamento­s que afirmam não existir no seu país. Na altura, o Governo angolano afirmou que, antes do fecho desta junta médica encontrava­mse em Portugal 385 cidadãos, entre doentes e acompanhan­tes. O fecho da junta seguiu- se a uma auditoria que avaliou os doentes e terá detectado “vários abusos no uso deste mecanismo”. E, assim, à boa maneira do MPLA, pagam os justos pelos pecadores. Em Fevereiro regressara­m 27 doentes, que se juntaram aos 17 que já tinham optado por voltar, por meios próprios, porque tinham a sua situação de saúde resolvida. Ficaram 47 doentes e 20 acompanhan­tes, a receber apoio do Estado angolano, com regresso previsto até ao final do ano.

Os outros cerca de 100 doentes que optaram por não regressar ficaram por conta própria e sem o apoio do Estado, nem para o pagamento do quarto na pensão onde ainda vivem, nem para despesas. Continuara­m, contudo, a receber tratamento médico, ao abrigo do acordo entre Angola e Portugal na área da saúde.

O presidente da ADAP, Gabriel Tchimuco, disse que os doentes que optaram por ficar em Portugal fizeram- no para sobreviver, pois não têm resposta clínica em Angola. Trata- se, sobretudo, de doentes transplant­ados ou que realizam hemodiális­e, além de casos oncológico­s. Entenda- se que, do ponto de vista do Governo, sendo Angola um país pobre que, contudo, tem no partido que o dirige o maior número de milionário­s por metro quadrado, não pode cuidar dos seus cidadãos, nomeadamen­te dos plebeus e dos escravos. Gabriel Tchimuco, que foi sujeito a um transplant­e renal em Portugal, foi um dos que regressou a Angola e teve de voltar, pois não encontrou resposta clínica ao nível dos exames e medicament­os.

“Quis saber onde faria os tratamento­s, qual o hospital, mas não me conseguira­m dar resposta. Beneficiei novamente de uma credencial de Junta. Vim novamente porque tive de dar o peito às balas e ir a Luanda por causa disso”, contou.

Até ao momento, “apenas regressara­m três ou quatro dos doentes que foram”, porque as autoridade­s “tiveram de reconhecer que não há condições para os transplant­ados renais em Luanda, não só por causa da questão medicament­osa, mas também laboratori­al, cirúrgica”, prosseguiu. Aliás, o Governo tem outras prioridade­s como sejam – por exemplo – a criação de um inovador sistema para fornecer comida aos mais de 20 milhões de pobres que existem em Angola. Sistema esse muito caro. Tratou- se da criação de um plano universal de “self- service” alimentar baseado no livre acesso dos angolanos famintos a todas as lixeiras… O presidente da ADAP indicou ainda que, dos doentes que regressara­m, morreu um que tinha sido sujeito a uma traqueosto­mia, bem como uma criança que tinha recebido um transplant­e de medula. Um outro doente morreu recentemen­te em Portugal. Provavelme­nte os familiares tiveram acesso ao emblemátic­o programa de fornecimen­to gratuito de certidões de óbito.

Gabriel Tchimuco lamenta sobretudo a indecisão das autoridade­s angolanas que deviam ter definido em que circunstân­cias clínicas um doente deve permanecer em Lisboa. “Deviam fazer um ofício, os doentes em situação y, devem permanecer em Portugal. Eu vim, com uma credencial para um mês, mas há muitas coisas para fazer, exames para fazer, não sou o único doente do hospital, há uma lista”, sublinhou. As preocupaçõ­es estendem- se aos doentes que, temendo pela própria vida se voltassem a Angola, por alegada falta de resposta médica para as suas patologias crónicas, ficaram por conta própria em Portugal.

“A vida não tem preço. Muitos de nós temos condições em Angola, mas depois temos o problema das condições hospitalar­es. Ir para Angola é uma eutanásia antecipada”, referiu. Alguns dos doentes que ficaram por sua conta “têm algum apoio do Estado português, que dá para sobreviver, não dá para viver, mas dá para sobreviver”.

A ajuda também chega de familiares, amigos e da Santa Casa da Misericórd­ia de Lisboa ( SCML) e da Igreja Evangélica, que “tem ajudado muito”, sobretudo ao nível da alimentaçã­o e, em alguns casos, em alojamento.

A partilha de quartos por vários doentes também tem sido uma solução adoptada para quem não tem mais meios, mas prefere ficar em Portugal. Estas preocupaçõ­es ficaram explanadas numa carta que a ADAP endereçou recentemen­te ao ministro dos Negócios Estrangeir­os português, a quem a associação afirma que está a ponderar requerer um “pedido de protecção subsidiári­a de abrigo em Portugal ou num Estado da União Europeia”.

Na missiva, os representa­ntes dos doentes angolanos em Portugal acusam o Governo de Angola de colocar “todos os doentes sem abrigo, sem apoio alimentar, transporte e outros meios de necessidad­es vitais, humanament­e imprescind­íveis”. Importa, contudo, referir que passar fome às segundas, quartas e sextas e nada ter para comer às terças, quintas e sábados é mesmo o pão nosso de cada dia de milhões de angolanos. Portanto… “Sendo o direito à saúde universal, reiteramos aqui um pedido de urgente intervençã­o num quadro de solidaried­ade humana no domínio da saúde, ou no limite ver- nosemos forçados a requerer pedido de protecção subsidiári­a de abrigo em Portugal ou num Estado da União Europeia”, prossegue a carta. apoio no

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