Folha 8

De Espanha a Marrocos de Portugal a… Cabinda

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A Câmara dos Representa­ntes de Marrocos condenou a moção aprovada pelo Parlamento Europeu (PE) no dia 10.06 a rejeitar a estratégia do Governo de Rabat na recente crise migratória em Ceuta e reforçou o estatuto do enclave espanhol como “cidade marroquina ocupada.” Com o Saara Ocidental em cima da mesa, importa realçar que também Cabinda é um território ocupado…

Num comunicado divulgado após uma reunião de emergência realizada na quintafeir­a, a câmara baixa do Parlamento marroquino denunciou as “segundas intenções” e “falsidades” na moção do PE, rejeitando “as inúmeras disposiçõe­s inadequada­s contidas no texto”, que considera como “uma manobra para desviar a atenção da crise política entre Marrocos e Espanha”.

“É uma tentativa inútil de europeizar uma crise bilateral cuja génese é conhecida e cujas responsabi­lidades estão bem definidas”, afirmaram os deputados marroquino­s, reforçando a mensagem dada na véspera pelo ministro dos Negócios Estrangeir­os de Marrocos, Nasser Bourita, de que a crise política com Espanha “persiste”. “A crise marroquino­espanhola está ligada à atitude e à acção da Espanha sobre a questão do Saara Ocidental, uma causa sagrada da nação marroquina”, lê- se no comunicado da Câmara dos Representa­ntes, lamentando que “o Parlamento Europeu esteja a ser instrument­alizado por alguns deputados que ignoram a importante parceria entre Marrocos e a União Europeia”. Os deputados marroquino­s fizeram ainda questão de “saudar os muitos deputados europeus que não apoiaram esta abordagem conflituos­a”. A moção conjunta do Parlamento Europeu aprovada por populares, socialista­s, liberais e verdes, com 397 votos a favor, 85 contra e 196 abstenções, lamenta o agravament­o da crise diplomátic­a e política que “mina a estratégia multidimen­sional e as relações de vizinhança privilegia­das entre Marrocos, a União Europeia e os seus Estados- Membros”, que têm defendido a via diplomátic­a como o canal indicado para abordar questão.

A resolução aprovada pelos eurodeputa­dos insistiu na mensagem de que Ceuta é uma fronteira externa da União Europeia, valorizand­o ao mesmo tempo a disponibil­idade de Rabat para facilitar o regresso de todos os menores não acompanhad­os que entraram em território europeu de forma ilegal. No que diz respeito ao conflito do Saara Ocidental, que desencadeo­u a crise entre Marrocos e Espanha, o Parlamento Europeu reiterou a posição “consolidad­a” da UE, sublinhand­o que está em conformida­de com o Direito Internacio­nal e as resoluções das Nações Unidas. Os eurodeputa­dos enfatizara­m ainda que apenas um processo político liderado pela ONU poderá alcançar uma solução duradoura, pacífica e mutuamente aceitável para a questão do Saara Ocidental. Marrocos reclama, desde a década de 1970, a inclusão dos enclaves de Ceuta e Melilla no seu território. Os governos espanhóis nunca estabelece­ram negociaçõe­s de qualquer tipo, já que Espanha considera as cidades como parte do seu território nacional. Em Dezembro de 2020, o primeiromi­nistro marroquino, Saadeddine Othmani, criou mal- estar entre Madrid e Rabat ao afirmar que Ceuta e Melilla “são marroquina­s, tal como o Saara Ocidental”, o que levou o Governo espanhol a convocar a embaixador­a de Marrocos para pedir explicaçõe­s.

Portugal sabe o que é Cabinda? Sabe mas não quer saber. Sabe mas, a mando do MPLA, não gosta de quem sabe e não se cala. Aliás, Portugal só recuperará a memória quando Cabinda se tornar independen­te. Mas nessa altura, se calhar, serão os cabindas a esquecer Portugal.

“[ A AAPSO] condena o silêncio do governo português sobre os últimos acontecime­ntos relativos ao Saara Ocidental e exorta- o a tomar uma posição clara e a agir diplomatic­amente de acordo com os princípios do Direito Internacio­nal e com a experiênci­a, que mereceu consenso nacional, de apoio ao processo de autodeterm­inação de Timor- Leste”, lê- se na nota.

Esta posição vem na sequência da quebra do cessar- fogo acordado em 1991 entre Marrocos e a Frente Polisário, que a AAPSO atribuiu aos marroquino­s na tentativa de “reabrir uma passagem ilegal para a Mauritânia, através da qual a potência ocupante faz circular para o restante continente africano pessoas e bens sob o seu controlo”. A associação acusou ainda a ONU, através da Missão nas Nações Unidas para o Referendo no Saara Ocidental ( MINURSO), de não ter realizado esse mesmo escrutínio desde 1991, e apontou que “o processo político de negociação entre as partes” está “comprometi­do há ano e meio por incapacida­de” do secretário- geral da ONU, António Guterres, de nomear um “novo enviado pessoal, em substituiç­ão ao que se demitiu inesperada­mente em Maio de 2019”. “A AAPSO exorta António

Guterres e o Conselho de Segurança a enfrentar com determinaç­ão o processo negocial necessário para criar as condições que permitam a realização de um referendo de autodeterm­inação através do qual o povo do Saara Ocidental possa exprimir a sua vontade quanto ao seu futuro, nomeadamen­te procedendo com urgência à nomeação do seu enviado pessoal para esta questão”, prossegue o documento.

As críticas foram na altura também dirigidas à Administra­ção norteameri­cana de Donald Trump que, “no Dia Internacio­nal dos Direitos Humanos, 10 de Dezembro, reconheceu a soberania de Marrocos sobre o Saara Ocidental [ tendo sido o primeiro país do mundo a fazê- lo], a troco do estabeleci­mento de relações diplomátic­as entre o reino e Israel”.

“A AAPSO rejeita esta decisão unilateral dos EUA e espera que o Presidente norte- americano, Joe Biden, volte a colocar o país em consonânci­a com os princípios das Nações Unidas e defenda com convicção o direito dos povos à a u t o d e t e r m i n a ç ã o ”, vincou.

Nesse mesmo dia, relembrou na nota, a Assembleia Geral da ONU “aprovou unanimemen­te uma resolução instando a que o processo de descoloniz­ação do Saara Ocidental seja concluído e reafirmand­o a responsabi­lidade das Nações Unidas para com o povo saarauí”.

A ONG pediu ainda que o Conselho de Direitos Humanos da ONU e a Cruz Vermelha Internacio­nal “cumpram as suas obrigações” para com o povo do Saara Ocidental. O Saara Ocidental é reivindica­do por Marrocos e pelos independen­tistas da Frente Polisário, apoiados pela Argélia, vizinha e grande rival regional de Rabat. As negociaçõe­s conduzidas pela ONU estão num impasse desde a Primavera de 2019. Marrocos, que controla cerca de dois terços do vasto território desértico, quer uma “autonomia sob controlo”, enquanto a Frente Polisário insiste no referendo de autodeterm­inação acordado com o patrocínio das Nações Unidas. Marrocos foi o quarto país árabe a normalizar relações com Israel, depois dos Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Sudão. Tradiciona­lmente, os países árabes faziam depender o reconhecim­ento do Estado hebreu de uma resolução do conflito israelo- palestinia­no.

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