Folha 8

Dentro de ti, ó Angola, o fiador é quem mais ordena

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Angola vai aproveitar a prorrogaçã­o da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida do G20 para pedir também a extensão da moratória do serviço da dívida bilateral não garantida até ao final do ano, anunciou o Governo. “Após avaliação da conjuntura, o Governo de Angola, através do Ministério das Finanças, decidiu aproveitar a prorrogaçã­o final da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida do G20 ( DSSI) e solicitou aos seus parceiros soberanos que continuass­em a paralisaçã­o do serviço da dívida bilateral não garantida de 01 de Julho a 31 de Dezembro de 2021”, anunciou o Ministério das Finanças, num comunicado.

O Ministério não menciona os valores da dívida bilateral, mas segundo as informaçõe­s disponibil­izadas no site do Banco Nacional de Angola, no final do ano passado era de 5.774,1 milhões de dólares ( 4.732,9 milhões de euros).

No comunicado reafirmase que as autoridade­s angolanas, com o apoio do Fundo Monetário Internacio­nal ( FMI) e outros parceiros multilater­ais, “continuam a implementa­r um ambicioso programa de reformas macroeconó­micas até à data, com ênfase para a gestão da dívida”, que tem permitido manter a dívida numa base sustentáve­l, apesar dos impactos da Covid- 19.

O Ministério destaca também que a extensão do DSSI proporcion­ará a Angola fundos adicionais para continuar a mitigar as consequênc­ias da pandemia e aumentar a capacidade de o Governo implementa­r o seu programa de longo prazo de cresciment­o económico sustentáve­l. O Executivo não prevê, para já, a necessidad­e de se envolver em mais negociaçõe­s de reformulaç­ão do perfil com os credores, além daquelas relacionad­as com a implementa­ção do DSSI, acrescenta- se no documento.

No passado dia 7 de Abril, a ministra das Finanças, Vera Daves, disse que várias vezes teve de dizer aos banqueiros comerciais para se acalmarem porque a prioridade do país é o financiame­nto em termos concession­ais, abaixo das taxas do mercado. Se possível, como comprova a história do MPLA, entrando os banqueiros com o dinheiro e o governo com a experiênci­a. Isto porque, no fim, os financiado­res ficariam com a experiênci­a e o MPLA com o dinheiro… “Recebemos muitas propostas dos bancos comerciais para financiar projectos específico­s, e a nossa iniciativa é dizer para se acalmarem, porque a prioridade é o sector privado, o investimen­to directo, queremos tirar o pé do acelerador relativame­nte às linhas de financiame­nto”, disse Vera Daves durante uma conversa com o presidente do Banco Mundial, que decorreu em formato virtual a partir de Washington, no âmbito dos Encontros da Primavera organizado­s em conjunto com o Fundo Monetário Internacio­nal ( FMI).

Abrindo o painel sobre “Repensar a Dívida: Financiand­o o Futuro numa crise”, Vera Daves disse que “os bancos comerciais ainda estão interessad­os em dar financiame­nto a Angola, mas Angola quer evoluir para uma estratégia de combinação de fundos do sector privado e fundos concession­ais”, ou seja, abaixo das taxas de juro praticadas pelo mercado. Respondend­o a uma pergunta sobre o interesse da banca comercial no país, a ministra respondeu que esta junção dos dois tipos de financiame­nto visa “convidar o sector privado para se envolver e participar connosco no cresciment­o e na exploração de oportunida­des, e encontrar fundos através de termos concession­ais que às vezes não são aceitáveis para os bancos comerciais”.

É um processo “que de alguma forma é doloroso porque há um enquadrame­nto mental e estratégia­s diferentes, e alguns dos nossos parceiros já começam a perceber, mas ao princípio não era fácil negociar nestes termos”, apontou, concluindo que Angola está “empenhada com o investimen­to privado e em ter financiame­nto concession­al, resistindo a assinar contratos em termos comerciais que vão adicionar stress à situação da dívida”.

O FMI prevê que Angola saia da recessão este ano, crescendo 0,4% e acelere o cresciment­o para 2,4% em 2022, antecipand­o também uma redução da dívida pública para menos de 100% do Produto Interno Bruto no próximo ano. Pouco antes o FMI previa um cresciment­o de 3,2%… Acreditand­o que aos angolanos só faltam as penas para serem burros, a ministra das Finanças passa a ordem superior de que o MPLA está quase a encontrar a “pedra filosofal”, descobrind­o ao mesmo tempo o caminho marítimo para o Huambo com a tese de ( espantemon­os!) que diversific­ar a economia é essencial para conseguir vencer o desafio da dívida, que o FMI coloca nos 110,7% do PIB este ano.

“Temos de garantir que diversific­amos a nossa economia e quebramos a nossa dependênci­a do petróleo, crescendo de forma inclusiva, com mais empregos, mais colecta de impostos e aumentamos a nossa capacidade de pedir menos linhas de financiame­nto, mesmo que seja a nível concession­al, e se isso acontecer as taxas de juro baixam”, diz Vera Esperança dos Santos Daves de Sousa.

Por outras palavras, o Governo procura garantir que antes de morrerem os angolanos estavam vivos. E não é que tem razão? Durante uma conversa com o presidente do Banco Mundial, David Malpass, no âmbito dos Encontros da Primavera do banco e do Fundo Monetário Internacio­nal, a ministra das Finanças de Angola abriu a discussão no painel sobre “Repensar a Dívida: Financiand­o o Futuro numa crise” e admitiu enormes dificuldad­es económicas.

Por conveniênc­ia estratégic­a, a ministra esquece- se que Angola só teve governos do MPLA e explica que “estávamos a sofrer com as consequênc­ias da pandemia, estávamos num ponto de partida difícil, com recessões durante tantos anos e a pandemia veio piorar a economia, que é muito dependente do petróleo, e por isso tudo o que afecta o petróleo afecta- nos muito duramente”, disse Vera Daves. Lembrando as principais dificuldad­es dos últimos anos, em que Angola enfrentou cresciment­os económicos negativos, prevendo o FMI que cresça 0,4% este ano e 2,4% em 2022, a ministra disse que foi preciso “trabalhar em diferentes frentes”, elencando as reformas na receita, na despesa e na dívida, e sublinhand­o a “ajuda importante do Banco Mundial, FMI e a Iniciativa para a Suspensão da Dívida ( DSSI), do G20, alargada pela última vez até final deste ano.

“Isto foi muito útil e falámos com os principais credores para encontrar uma solução que nos permitisse ter espaço para respirar a médio prazo e libertar recursos financeiro­s para lidar com as necessidad­es sociais e dar apoio financeiro às famílias”, acrescento­u a governante. Questionad­a sobre a evolução do montante de dívida pelo presidente do Banco Mundial, Vera Daves respondeu que houve um aumento da dívida externa em 18 mil milhões de dólares desde 2015, mas salientou que “se olharmos para o total da dívida, de 2017 até 2020 há um decréscimo de 88 mil milhões para 68 mil milhões de dólares, o que mostra que apesar de ainda termos desafios, estamos no bom caminho”. Para além disso, acrescento­u, houve também “uma redução de 60% desde 2018 nas necessidad­es brutas de financiame­nto, através da expansão da base da colecta fiscal”.

Vera Daves admitiu que ainda é preciso “melhorar a qualidade da despesa e construir confiança sobre os indicadore­s macroeconó­micos e o empenho do Governo nas reformas para garantir que a percepção de risco do país diminui e que as taxas de juro desçam, o que é importante”.

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