Folha 8

“Félix Mavakala” O CARRASCO IMPLACÁVEL DO BAIRRO NOÉ & LONG LIFE ÁFRICA

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Oagente era amigo. Amigo da malta lá do bairro, afável, inicialmen­te, até que a metamorfos­e lhe invadiu os neurónios. O Félix Mavakala, às vezes penso nele, foi meu e nosso amigo na tropa nos tempos do colono “branco”, mas mal chegou a dipanda e trouxe consigo de tudo um pouco de mau, para Angola e angolanos, que ele ( Félix) não quis ficar atrás e embarcou nos “Serviços da Bufaria Nacional”, tornando- se num agente implacável que, por onde passasse, deixava fumo, fogo, feridos e mortos. Nunca percebi onde ele tinha ido buscar assim, de repente, tanta “pulunguza” ( força), que fazia tremer qualquer um. Mas a bronca toda foi quando chegou o 27 de Maio de 1977 e o Félix, amigo dos tempos de escola e do bairro, teve o desplante de prender e matar um “awilo”, que era seu vizinho, o Adé ( Adelino) cujo assassinat­o deixou a sua mãe com graves perturbaçõ­es psíquicas, que lhe levaram mais tarde a morte. Apesar do clamor que isso causou, mostrava- se insensível e para além das investidas no bairro, na caça aos amigos do peito estendeu- as a outras áreas, como na antiga loja do Tondela onde foi prender o kamba Lisboa, um simpático, bem educado, querido e respeitado na zona, levado a Casa da Reclusão, onde teve sorte, sabe Deus como, de não ter sido morto.

Mais tarde, o carrasco Félix chegou a disfarçars­e de empresário, como muitos que andam por aí, mas continuam bófias, agora, mascarados de comerciant­es... E, como tudo na vida tem um fim, recebi, recentemen­te, a notícia do bófia Félix ter morrido de desgosto, passional.

Particular­mente, não teria nada contra se alguns assassinos e genocidas já falecidos fossem enterrados algemados; Agostinho Neto, Félix e tantos outros, por terem deixado feridas que jamais se cicatrizar­ão no corpo e na alma de muitas das suas vitímas e familiares, mas seja como for, para não fugir à regra e sem me esforçar tanto, ainda assim desejo que descansem em paz...

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FERNANDO VUMBY*

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