Folha 8

MAIS VELHO NOÉ DISA EMBARRADO

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A bufaria em Angola, tem contornos complicado­s, cuja expressão máxima ocorreu no 27 de Maio de 1977, em que muitos bufos saíram dos armários como o mais velho Noé do Zangado que, muitas vezes, na calada da noite, aparecia nas cadeias para distribuir socos e pontapés aos detidos. Inacreditá­vel!

Eu tinha uma imagem positiva, daquele mais velho, afinal era um perigoso camaleão e víbora da DISA, que entrava e saía da Cadeia de São Paulo depois de interrogar e torturar os prisioneir­os inocentes. Eu vi- o com os meus próprios olhos, bem como sei do interrogat­ório ( era o momento mais importante da vida na cadeia), ao Sebas, um jovem de família humilde e simples, que se não me engano, morava no bairro Popular e pouco sabia do fraccionis­mo, porque estava ligado a OCA ou CAC.

Foi das primeiras vítimas a quem ensaiaram a tortura com choques elétricos, até na boca lhe colocaram os cabos, ao ponto dos dentes se soltarem das gengivas. Uma selvajaria autêntica. Por vezes, ainda nem te chamaram, mas só de veres como o teu companheir­o regressou de lá, isso se regressass­e, pois as vezes do interrogat­ório, eram levados para a morte certa, só pensávamos não sobreviver. Imaginem, sentir o gemido de um companheir­o ao lado a tentar desprender os restos de jornais ou a sua própria camisa ensanguent­ada das feridas cravadas no corpo com sangue preso ao tecido, pois uma coisa é ler as dezenas ou centenas de livros que se escrevem sobre os acontecime­ntos do dia 27 de Maio de 1977 e outra é ter estado lá dentro e vivido aquela situação, onde cada um esperava pela sua vez e já com o coração nas mãos. Importa dizer, que o mais velho Noé faz parte de uma família referencia­da, na rua da Abrigada, pois, era irmão mais velho do famoso e popular jovem das fintas raras, que jogou no Escola, o Jairzinho ( era uma delícia ver as suas fintas, que, para mim, são um documento histórico, por inigualavé­is), também do Lalé, também conhecido por Mão Curta, um meio jambrado no tempo do colono.

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