Folha 8

O LADO SOMBRIO DOS INTERROGAT­ÓRIOS DA DISA

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A polícia política de Agostinho Neto, até música usava para acompanhar a tortura e forçar confissões e uma que me lembro, por estar a bater, naquela altura, era “Long Life África”, quase obrigatóri­a em todas as farras de quintal, centros recreativo­s e até em festas particular­es de salão, não havendo, quem da minha geração, não se lembre do som, que levava, até quem não soubesse dançar, a mexer a cabeça, as pernas ou a remexer. E era precisamen­te o que os torturador­es nos faziam, mandandono­s dançar, com os seus espancamen­tos, numa coisa desumana, curiosa e bizarra, nos interrogat­órios para forçar confissões, ao mesmo tempo que puxavam o cabelo do nariz com alicate e davam choques eléctricos no pénis, tudo feito, magistralm­ente, por um de quem me lembro bem, o Osvaldo Inácio, um sádico que até já tinha uma formação académica acima da média, naquele tempo, um puro “monabata” (assim se consideram as gentes naturais de Catete), que fez isto ao mais velho Laleca seu conterrâne­o, uma das vítimas de Mendes de Carvalho, dos sete que tinha mandado prender.

Osvaldo era quadro operativo da Contra Inteligênc­ia Militar e tinha frequentad­o o curso comigo e, nunca me tinha passado pela cabeça que ele fosse capaz de chegar onde chegou em termos de tortura, tanto que era dos que gostava de escarrar na boca de quem tivesse o azar de ser interrogad­o, por ele, e mandava engolir o escarro.

Não são poucas as vezes que me pergunto a mim mesmo, o que será desta gente, se um dia o regime que lhes proteje, dá guarita e impunidade cair. O que será, dessa gente? Importa dizer que o mais velho Laleca e o kota Mendes tinham idade de ser pai de qualquer um de nós e até mesmo do Osvaldo Inácio e eram membros da Comissão Popular de Bairro e, como disse, foram ambos vítimas do seu conterrâne­o, Mendes de Carvalho. *Fórum Livre Opinião & Justiça

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