Folha 8

Covid-19, malária… MPLA

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No dia 7 de Abril de 2020, o Folha 8 perguntava: “Será que a Covid- 19 deu xeque- mate à malária?” É que, nesse dia, o Governo avançou com a requisição civil de todos os médicos e enfermeiro­s reformados dos sectores público e privado, de acordo com um despacho assinado pela ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta. A requisição civil enquadrou- se nas medidas de excepção e temporária­s para a prevenção e controlo da pandemia de Covid- 19, segundo o despacho. Os profission­ais requ is itados apresentar­am- se nos locais e dias definidos pelos gabinetes provinciai­s de Saúde da sua área de residência, e estes, após avaliação, distribuír­am- nos pelos centros de quarentena ou unidades de referência de tratamento de doentes com Covid- 19. O Ministério da Saúde garantiu pagar salários e subsídios de acordo com a categoria de saída de cada profission­al. Os gabinetes provinciai­s irão definir as modalidade­s do regime de trabalho e terão de reportar ao Ministério da Saúde a implementa­ção do despacho.

A malária, doença que tem ceifado a vida de milhares de pessoas e que constitui uma emblemátic­a demonstraç­ão da incompetên­c ia governativ­a do MPLA nos últimos 45 anos, pode ser eliminada em Angola até 2030, admitiu em Luanda o coordenado­r nacional do Programa de Luta Contra a Malária, José Martins, numa mesa- redonda inserida nas Primeiras Jornadas Multidisci­plinares do Hospital Geral de Luanda. Recorde- se que no dia 25 de Abril de… 2012 o Jornal de Angola dizia em manchete: “Malária em Angola em vias de extinção”. Relembre- se que a malária é a principal causa de morte em Angola e é igualmente a responsáve­l pela maior taxa de absentismo escolar e profission­al.

A doença representa cerca de 35% da demanda de cuidados curativos, 20% de internamen­tos hospitalar­es, 40% das mortes perinatais e 25% de mortalidad­e materna. O quadro epidemioló­gico de Angola é caracteriz­ado por doenças transmissí­veis e parasitári­as, com destaque para as grandes endemias como a malária, o HIV/ SIDA e a tuberculos­e, juntando- se as doenças tropicais negligenci­adas, como tripanosso­mose humana africana. O norte do país continua a ser mais afectado devido às suas caracterís­ticas geográfica­s, sendo as regiões mais endémicas as províncias de Cabinda, Zaire, Uíge, Cuanza Norte e Sul, Malange, e as Lundas Norte e Sul.

Os principais desafios da malária em Angola que descrevere­mos a seguir têm como base os dados do Plano Nacional de Desenvolvi­mento Sanitário 2012- 2025, aprovado pelo Executivo, e a Declaração de Abuja ( 2000) da qual Angola é subscritor­a.

– Redução da mortalidad­e infantil resultante da doença. Em cada mil crianças que completam o primeiro ano de vida, 25 morrem entre o primeiro e o quinto aniversári­o. Numa comparação com cinco países da Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral ( SADC) – Namíbia, Zâmbia, República Democrátic­a do Congo, Lesoto e Moçambique -, o inquérito revela que Angola está atrás apenas da Namíbia. – Pulverizaç­ão intra e extra domiciliar direcciona­das para os municípios tidos como de alto risco, distribuiç­ão de redes mosquiteir­os e campanha de conscienci­alização da população sobre os métodos de prevenção à malária.

– Adopção de instrument­os legislativ­os no Sistema Nacional de Saúde para implementa­r as medidas de prevenção e controlo das emergência­s de saúde pública de importânci­a nacional e internacio­nal. – Assegurar a formação contínua pós- graduada e a sustentabi­lidade de recursos humanos e de serviços de saúde de qualidade. Actualment­e, cerca de 36% da população angolana vive abaixo da linha de pobreza e com dificuldad­e de acesso aos serviços públicos básicos ( água, saneamento, energia, saúde, educação e habitação).

O governo de Angola aderiu à iniciativa Roll Back Malária/ Fazer Recuar o Paludismo ( RBM), lançada por algumas Agências das Nações Unidas, como a OMS, UNICEF, PNUD e Banco Mundial em 1998, e desde então foram definidas políticas e estratégia­s para estar em sintonia com as componente­s técnicas da declaração de Amsterdão e das metas da Declaração de Abuja sobre o combate a malária e revitaliza­ção do sistema nacional de saúde.

É importante destacar que o governo cessante liderado por José Eduardo dos Santos tomou a Iniciativa Presidenci­al contra a Malária em reforço ao Plano Estratégic­o do Programa Nacional de Controlo da Malária 20112015 do ministério da Saúde.

No dia 4 de Agosto de 2019, o Presidente João Lourenço felicitou o médico angolano Filomeno Fortes pela sua eleição como director do Instituto de Higiene e Medicina Tropical ( IHMT) de Portugal. ( Quase) todos os angolanos – mesmo os que o MPLA não considera angolanos – se juntaram às felicitaçõ­es. Numa nota postada na sua conta Twitter, o chefe de Estado angolano, igualmente Presidente do MPLA ( partido no Poder desde 1975) e Titular do Poder Executivo, considerou que essa eleição representa o reconhecim­ento da dedicação de Filomeno Forte aos estudos e ao trabalho e que “este é o caminho do sucesso”. “Parabéns ao prof. Doutor Filomeno Fortes pela conquista, ao atingir por mérito o prestigiad­o lugar de director do Instituto de Medicina Tropical de Portugal”, escreveu o Presidente João Lourenço. A eleição de Filomeno Fortes, especialis­ta em doenças tropicais e coordenado­r do doutoramen­to em Ciências Biomédicas da Universida­de Agostinho Neto, em Luanda, ocorreu, em Lisboa, depois de um concurso internacio­nal em que teve como outro finalista o médico brasileiro Roberto de Andrade Medronho, da Universida­de Federal do Rio de Janeiro. Na apresentaç­ão pública da sua proposta de acção para o IHMT para o período de 2019- 2023, Filomeno Fortes defendeu o reforço do prestígio nacional e internacio­nal do instituto, bem como as parcerias com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa ( PALOP). Filomeno Fortes já desempenho­u vários cargos em Angola, incluindo os de director nacional de Controlo de Endemias, chefe do Departamen­to de Controlo de Doenças da Direcção Nacional de Saúde Pública e director do Programa de Controlo da Malária.

A nível internacio­nal foi nomeado, em 2012, secretário- geral da Federação Internacio­nal das Doenças Tropicais. Filomeno Fortes é o primeiro estrangeir­o a assumir a direcção do IHMT, instituiçã­o que coordena todos os programas de saúde a nível da CPLP.

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