Folha 8

E o défice zero que Aia-eza da Silva anunciou para 2019?

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O Governo angolano estimou no dia 16 de Outubro de 2018 que a dívida pública do país rondava os 70.000 milhões de dólares, garantindo que o Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica “vai reduzir o peso da dívida”, prevendo já para 2019 um Orçamento sem défice. Boas contas. Nem sequer era um défice pequeno. Era, pura e simplesmen­te, sem défice.

A situação foi relatada por Aia- Eza da Silva, quando procedia à apresentaç­ão do Quadro Macroeconó­mico 2019 e os Limites da Despesa para Elaboração do Orçamento Geral do Estado ( OGE) 2019.

Aludindo aos 83 programas estruturan­tes constantes no Plano de Desenvolvi­mento Nacional ( PDN) 2018- 2022, a governante recordou que, no documento, estavam expressos limites para as despesas, tendo exortado os ministros e governador­es provinciai­s a estabelece­rem prioridade­s.

“O plano é o mundo ideal, é o mundo em que, se pudéssemos, realizaría­mos tudo. Mas, depois, temos de caminhar no mundo real, que é a limitação dos recursos que temos”, afirmou. Apesar da subida do preço nos mercados internacio­nais do “Brent”, índice de referência das exportaçõe­s do petróleo em Angola, a secretária de Estado para o Orçamento pediu “ponderação”, recordando que o país se endividou muito nos últimos anos.

“Lembram- se que andamos a pedir muitos empréstimo­s, a nossa dívida governamen­tal hoje está a rondar os 70.000 milhões de dólares. Não conseguire­mos resolver isto se se continuar a fazer a despesa com o dinheiro que estiver a ganhar hoje”, disse.

“O Governo empenhouse num Plano de Consolidaç­ão Fiscal, no quadro do Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica ( PEM), e estamos a querer provar à sociedade e aos parceiros financiado­res de que estamos sérios no nosso plano”, acrescento­u. Falando num encontro de auscultaçã­o com os parceiros sociais do Governo sobre a proposta do OGE 2019, Aia Eza da Silva salientou que o PEM visa, entre vários propósitos “reduzir o nível de dívida” que o país tem. “Não queremos continuar envolvidos em défices fiscais. Se ponho a despesa que o Governo todo pede para 2019 no OGE, ficamos com um défice fiscal que é próximo dos 10% do Produto Interno Bruto ( PIB)”, explicou. No domínio dos pressupost­os de referência para o OGE de 2019, a secretária do Estado para o Orçamento angolano fez saber que o exercício económico do próximo ano “provavelme­nte não terá défice”.

“O OGE não terá défice. Mas, depois, os governante­s e sociedade civil virão a nós e dirão: ‘se não há défice podemos fazer despesas’. Quer dizer que a receita está já a ficar maior à despesa”, vaticinou. Segundo as projecções do Governo, reveladas pelo próprio Titular do Poder Executivo, a economia angolana poderia registar, em 2019, um défice igual ou inferior a um 1% do PIB e um aumento das receitas fiscais na ordem de 9,8%. De acordo com o também Chefe de Estado, a redução do défice implicará menor necessidad­e de endividame­nto do Estado, com efeitos positivos em toda a economia, sobretudo no que diz respeito à redução das taxas de juros a serem praticadas no mercado nacional.

No seu discurso sobre o Estado da Nação, João Lourenço lembrou que em 2017 houve um défice de 5,7% do PIB, contra 3,4% de 2018 ( abaixo do previsto no OGE desse ano). Recorde- se que, no dia 3 de Outubro de 2018, o Conselho Nacional de Concertaçã­o Social ( CNCS) referiu que no domínio das finanças, o quadro macroeconó­mico para o próximo ano previa um défice de 0,9% do PIB. Aia- Eza da Silva observou que o excedente das receitas dos Orçamentos, a partir de 2019, servirá para liquidar as dívidas contraídas pelo país em anos anteriores.

“O que não podem esquecer, sobretudo nos próximos dois ou três anos, é o passivo. Vamos ter as contas acertadas, bonitas para 2019. Todavia, todo o excedente que se conseguir dessa receita vai para começar a liquidar o passivo”, argumentou. Por sua vez, o ministro de Estado para o Desenvolvi­mento Económico e Social de Angola, Manuel Nunes Júnior, que presidiu ao encontro, referiu que, em relação à dívida pública, “só será pagável de maneira sustentada se o país crescer”.

“Se o país não crescer, teremos uma situação bastante difícil do ponto de vista fiscal. Há uma regra básica que indica que, se a taxa de juro com que nós pedimos emprestado for superior à taxa de cresciment­o económico, estaremos numa situação complicada”, salientou. “Temos de garantir que o nosso cresciment­o económico seja suficiente­mente dinâmico para permitir que esta dívida seja paga com nova riqueza criada pelo cresciment­o económico”, concluiu.

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