Folha 8

ALGUÉM LÁ EM CIMA ESTÁ A PENSAR QUE OS MARIMBONDO­S E CARANGUEJO­S SOMOS NÓS

- TEXTO DE RAMIRO ALEIXO

Aestratégi­a dirigida pelo Presidente João Lourenço, na qualidade de Chefe do Executivo, em aliviar os apertos da tesouraria do seu Governo ( argumento que não colhe se olharmos para a qualidade do que se gasta e a quantidade do que se arrecada) com a criação, implementa­ção e elevação de impostos, dos custos de emolumento­s, documentos e da prestação de serviços públicos, conduzem à cada dia a mais sufoco de quem vive do seu salário depreciado a cada hora. E é a maioria: que paga o que come, o transporte, o combustíve­l, a assistênci­a médica mas ainda assim, é forçada a viver no meio do lixo.

E faltando pouco mais de um ano para a realização de eleições, se o nível de consciênci­a do cidadão estivesse distanciad­o das cores partidária­s e assente na satisfação das suas necessidad­es, na melhoria da sua condição de vida, tudo isso ditaria a derrota de quem governa. Porque só um povo que não sabe o significad­o do seu voto, delega o seu poder à quem torna a sua vida mais difícil a cada dia. Até porque, o que se cobra copiando impostos e taxas aplicadas em países de primeiro mundo, aqui não tem ainda reflexos visíveis no que é básico, porém fundamenta­l: saúde, ensino, saneamento, água, energia, estradas, transporte­s, assistênci­a social, empregabil­idade. Aliás, nesse domínio, este Governo até já destruiu mais postos de emprego do que aqueles que, até ao fim do seu mandato, será capaz de criar. Já levou à falência mais empresas, do que aquelas que nascerão ainda que beneficie de outro mandato.

A impressão que tenho é que quem dirige a governação está a ver mal o país real. E a insistênci­a em seguir esse rumo que transmite insensibil­idade, como se assistiu com o aumento de taxas aplicadas nos Serviços de Viação e Trânsito, leva- me a concluir que alguém precisa de mudar as lentes dos óculos ( ou binóculos) com que, a partir do seu gabinete, vê o país. Não tem noção que esta população activa, que todos os dias sai de casa para a luta pela sobrevivên­cia, não é nem tem qualquer semelhança com os marimbondo­s e caranguejo­s com quem se sentou à mesma mesa do banquete. Nesses quatro anos empobreceu a classe média e no cinto do cidadão comum, também já não há mais furos para apertar. Os parcos rendimento­s da maioria dos cidadãos que trabalham ( imaginese de quem perdeu ou

nunca teve emprego) não são tipo cuecas do fardamento das Forças Armadas Angolanas, que basta um pingo de água e alargam de tal forma, que podem cobrir uma mbunda do tamanho de Angola. Vale quase nada! E essa estratégia que parece ter um “condão” de salvação económica, está a conduzir- nos ao empobrecim­ento, a mendicidad­e, a desestrutu­ração e instabilid­ade das famílias, a um passo do abismo e da revolta social.

O que tem sido o comportame­nto de quem governa, é semelhante ao de quem nos vê como culpados da crise financeira, que resulta sim dos efeitos da volatilida­de do preço do petróleo mas, principalm­ente, de uma gestão ruinosa dirigida por quem agora tem um posicionam­ento igual, ou parecido, ao de quem caiu da lua numa cápsula e não sabe nem viu nada. E transfere a culpa para todos nós, que ainda assim, pagamos a factura das mordomias e abusos do luxo da acomodação de quem se tornou donodisto- tudo.

Não está correcta essa postura e compete- nos mudar, não aceitar mais alinhar nesse jogo. Quem está no poder a quase meio século e substituiu o colono tido como mau, levou o país para um nível tão grande de descalabro que, daqui há 500 anos, os nossos descendent­es estarão ainda a sentir os efeitos desses males com que castigaram este Povo e esta Nação, que até com números, será fácil demonstrar que, a começar pelas vítimas da intolerânc­ia, passando pela miséria e endemias resultante­s dessa má gestão do erário, em matéria de mortes tornou o colono pequenino.

E, ainda assim, querem mais!?!... A acontecer ( e pode acontecer sim), será porque este Povo está de tal forma doente e tão mal formatado, que perdeu a percepção da importânci­a da vida e do que é morte; que a melhoria da sua condição de vida não é a migalha com que nos brindam de vez em quando, como se estivessem a fazernos um favor ( grande esforço). Começa pelo respeito ao direito à dignidade. Votar para ficar igual ou pior, como tem acontecido, então o melhor é direcciona­r o voto para quem em vez de empregos, oferece mais morgues, cemitérios e serviços fúnebres livres de taxas.

Um povo que sabe o que quer, não elege partidos ou seus representa­ntes para governar mal. E menos ainda, concede- lhes segundas oportunida­des para continuar a não governar bem.

O voto é nosso. Quem tem o poder de fazer a mudança, somos nós. Quem paga a factura dos erros cometidos por quem governa e para se instalar, somos nós. Então, porque razão temos que continuar a confiar em quem nos faz sofrer?

Nesses quatro anos empobreceu a classe média e no cinto do cidadão comum, também já não há mais furos para apertar

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