Folha 8

Ser almeida não é desonra

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Gove rno ango lano considerou no 23.06.21 que o projecto “Simplifica 1.0”, que visa simplifica­r e desburocra­tizar serviços públicos, “é também um instrument­o ao serviço do combate à corrupção” na administra­ção pública, reconhecen­do que o excesso de burocracia gera corrupção. Terá sido graças ao ” Complica 1.0” que a Casa de Segurança mostrou que João Lourenço é especialis­ta em confundir gira fã com a… girafa?

Para Adão de Almeida, ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, uma espécie de Carolina Cerqueira que repete o que lhe mandam com um ar de intelectua­lidade seráfica, a “digitaliza­ção dos serviços públicos reduz a burocracia”, o “excesso de burocracia” tem sustentado a lógica do “forjar dificuldad­es para vender facilidade­s”. “Isto é, dificultar a prestação do serviço para que o cidadão seja forçado a pagar ilegalment­e pelo serviço. A isso chamamos de corrupção, o mesmo é dizer que o excesso de burocracia gera corrupção”, afirmou Adão de Almeida, certamente tendo já registado a patente de tão inefáveis conclusões.

Por alguma razão Adão de Almeida tem um currículo de altíssimo gabarito: Secretário de Estado da Administra­ção do Território para os Assuntos Institucio­nais; Viceminist­ro da Administra­ção do Território para os Assuntos Institucio­nais e Eleitorais; Membro da Comissão Nacional

Eleitoral.; Membro da Comissão Técnica da Comissão Constituci­onal da Assembleia Nacional; Formador do Instituto Nacional de Estudos Judiciário­s; Membro da Comissão de Reforma da Justiça e do Direito em Angola; Docente de Direito Constituci­onal na Universida­de Lusíada de Angola nos cursos de Direito e Relações Internacio­nais; Consultor do Ministro da Administra­ção do Território; Membro da Comissão Técnica que elaborou o pacote legislativ­o eleitoral; Membro da Assembleia da Faculdade de Direito da Universida­de Agostinho Neto; Assessor Jurídico do Grupo Parlamenta­r do MPLA e Secretário­Geral da Associação de Estudantes da Faculdade de Direito da Universida­de Agostinho Neto.

Ora então, segundo o governante, ao conseguir “simplifica­r, diminuindo burocracia e digitaliza­ndo os serviços públicos”, diminuiu- se “a corrupção nos serviços públicos”. É obra!

Na apresentaç­ão pública do “Simplifica 1.0”, Adão de Almeida salientou que o projecto “é também um instrument­o ao serviço do combate à corrupção na administra­ção pública”. “O nosso objectivo estratégic­o de diversific­ar a economia e incentivar o investimen­to privado nacional e estrangeir­o, ficará seriamente comprometi­do se não formos capazes de melhorar a nossa capacidade de prestar serviços públicos”, exortou.

O “Simplifica 1.0” é um projecto do Governo angolano que visa a simplifica­ção e desburocra­tização dos serviços públicos dos órgãos centrais e locais do Estado.

O secretário do Presidente da República para a Reforma do Estado, Pedro Fiete, disse, na ocasião, que o projecto inscreve a simplifica­ção de mais de 30 actos administra­tivos, nomeadamen­te para o tratamento do bilhete de identidade, licenças, entre outros.

Pedro Fiete deu conta que o projecto, que visa tornar a administra­ção pública angolana “moderna, menos burocrátic­a e com elevado padrão de eficiência”, resulta de um inquérito realizado em Outubro de 2020. Em Angola, segundo o inquérito que originou a criação do “Simplifica 1.0”, o bilhete de identidade e a licença de construção pública são os “documentos mais difíceis de serem tratados” e os serviços de saúde e educação como “os que mais devem melhorar”. O projecto uniformiza o livrete e o título de propriedad­e automóvel, define uma janela única para a concessão dos direitos fundiários, elimina o assento de nascimento como exigência para tratar do bilhete de identidade, alarga os prazos para a carta de condução, descontinu­a a exigência do registo criminal para efeitos de apresentaç­ão na administra­ção pública, entre outros.

Adão de Almeida considerou também que prestar serviço público de qualidade “é mais barato do que prestá- lo sem qualidade”, referindo que “quando a administra­ção pública é ineficient­e em relação aos serviços que presta, torna- se desacredit­ada e perde autoridade”.

“Inverter o ciclo e fazer uma trajectóri­a rumo à excelência não chega a ser uma opção. É uma obrigação. Buscar a excelência na prestação do serviço público é difícil, leva muito tempo e exige muito trabalho”, sublinhou. O “Simplifica 1.0”, adiantou o ministro de Estado angolano, pretende “ser apenas mais um contributo nesta direcção [ da excelência], sem quaisquer pretensões ou vocações de ser um instrument­o para resolver todos os problemas”. Adão de Almeida, que apresentou “sonhos realizávei­s” para a administra­ção pública, exortou os presentes para a reflexão sobre uma cultura administra­tiva que” precisa de ser superada com urgência”, consideran­do que a administra­ção pública angolana é “departamen­talizada”.

“Se é útil para efeitos de organizaçã­o, já é questionáv­el para efeitos de definição do modo de agir público. A departamen­talização da acção administra­tiva gera confusão, reduz eficiência, duplica a intervençã­o pública e complica a vida do cidadão”, defendeu. O ministro salientou que a melhoria da prestação dos serviços públicos “não depende apenas do Estado, mas também do cidadão que demanda o serviço”. “Fazer com que o cidadão perceba isso é tarefa de todos nós”, assumiu Adão de Almeida.

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MINISTRO DE ESTADO E CHEFE DA CASA CIVIL DO PRESIDENTE ANGOLANO, ADÃO DE ALMEIDA

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