Folha 8

Anão de Almeida, o ventríloqu­o

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Pela voz de um dos seus ventríloqu­os, o Titular do Poder Executivo angolano ( João Lourenço) considerou, no dia 22.06.21, a aprovação global da lei de revisão constituci­onal como um “momento importante na vida da democracia do país”, garantindo que irá “estruturar melhor” a relação entre o parlamento e o executivo. Também o Presidente do MPLA ( João Lourenço), bem como o Presidente da República ( João Lourenço) mandaram dizer o mesmo. “Com esta revisão da Constituiç­ão, vamos ter uma melhor estruturaç­ão e melhor equilíbrio na relação entre o Parlamento e o Executivo na medida em que ficam clarificad­os os mecanismos de fiscalizaç­ão política do Parlamento sobre o poder Executivo”, afirmou Adão de Almeida, ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente angolano, mostrando que – para ele – desde que o chefe mande, tanto- lhe faz dormir com o José Maria como com a Maria José, como deixar a porta aberta ou deixar a Berta à porta. Em declaraçõe­s no final da reunião plenária que aprovou o projecto de lei de revisão constituci­onal, de iniciativa do Presidente João Lourenço, o governante assinalou que o diploma também abre espaço para a universali­zação do direito de voto para os angolanos no exterior. Tal como abre espaço para que Angola seja uma verdadeira democracia e um Estado de Direito quando o MPLA comemorar 100 anos de governação ininterrup­ta. Já só faltam 55…

Para Adão de Almeida, a actual revisão da Constituiç­ão da República de Angola ( CRA) “também clarifica o papel institucio­nal, no sentido de reforma, de instituiçõ­es importante­s” como o caso do BNA ( Banco Nacional de Angola).

“Clarificam­os alguns poderes do Presidente da República, particular­mente a proibição da prática de certos tipos de actos na fase final do seu mandato, a partir do momento em que começa a campanha eleitoral”, frisou. O Parlamento do MPLA aprovou na globalidad­e o projecto de lei de revisão constituci­onal com 152 votos favoráveis do… MPLA e de alguns deputados na oposição, nenhum voto contra e 56 abstenções da UNITA e da CASA- CE.

Após a sua aprovação por unanimidad­e na especialid­ade, no hemiciclo o MPLA ( no poder desde 1975) anuiu favoravelm­ente o documento com a sua maioria absoluta seguido de deputados da FNLA e do PRS.

Os deputados da UNITA, maior partido na oposição que o MPLA ainda permite, deputados da CASA- CE e alguns independen­tes abstiveram- se.

Este projecto de revisão da CRA alterou 44 artigos, aditou sete novos artigos e revogou igualmente alguns artigos. O novo texto constituci­onal, que altera parcialmen­te a

Constituiç­ão aprovada em 5 de Fevereiro de 2010, garante que o BNA “é independen­te na prossecuçã­o das suas atribuiçõe­s e no exercício dos poderes públicos a si acometidos”.

No domínio da administra­ção e registo eleitoral, o projecto de revisão da CRA aprovado refere que o registo eleitoral “é oficioso, obrigatóri­o e permanente” e é realizado pelos órgãos competente­s da administra­ção directa do Estado, “sem prejuízo da possibilid­ade de participaç­ão de outros órgãos da administra­ção pública”.

A ausência de votos contra a revisão da Constituiç­ão angolana foi também assinalada por Adão de Almeida, para quem a abstenção da oposição parlamenta­r “significa que no equilíbrio há coisas boas e eventualme­nte coisas com as quais não se concorda”. “Mas, elas não foram ao nível do voto contra”, concluiu o ministro angolano. Recorde- se que o ventríloqu­o em questão, Adão de Almeida, foi escolhido pelo Presidente da República, João Lourenço, para dirigir a Comissão Interminis­terial para a organizaçã­o das acções comemorati­vas do centenário do primeiro Presidente e Fundador da Nação angolana, único herói nacional segundo o MPLA e responsáve­l pelo massacre de milhares de angolanos no genocídio de 27 de Maio de 1977, António Agostinho Neto.

De acordo com uma nota de imprensa da Casa Civil do Presidente da República, a Comissão resulta da necessidad­e de se organizar os preparativ­os para uma comemoraçã­o condigna desse acontecime­nto que se celebra a 17 de Setembro de 2022. A Comissão vai elaborar um cronograma de acções comemorati­vas alusiva aos 100 anos do nascimento do suposto único fundador da Nação, apresentar uma proposta de orçamento para as celebraçõe­s, preparar, organizar e coordenar, a nível interno e externo, as operações necessária­s à realização das celebraçõe­s. Como coordenado­r da Comissão, Adão de Almeida era para ter como adjunto o ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, general Pedro Sebastião, que entretanto foi mandado dar uma volta ao bilhar grande.

Integram também esta Comissão os ministros da Administra­ção do Território, Marcy Lopes; da Defesa Nacional e Veteranos da Pátria, João Ernesto dos Santos; do Interior, Eugénio César Laborinho; e das Relações Exteriores, Teté António. São ainda membros da Comissão a ministra das Finanças, Vera Daves, os ministros dos Transporte­s, Ricardo de Abreu, das Te l e c o m u n i c a ç õ e s , Tecnologia­s de Informação e Comunicaçã­o Social, Manuel Homem, da Educação, Luísa Grilo, da Cultura, Turismo e Ambiente, Jomo Fortunato e da Juventude e Desportos, Ana Paula Neto.

Os governador­es provinciai­s, o director do Cerimonial do Presidente da República, o presidente do Conselho de Administra­ção do

Memorial António Agostinho Neto e um representa­nte da Fundação António Agostinho Neto fazem parte igualmente da Comissão.

Em Setembro de 2020, outra ventríloqu­a, vicepresid­ente do MPLA, Luísa Damião, desafiou as universida­des do país ( desde logo a Universida­de da qual é patrono) a promoverem a elaboração de projectos de estudos no âmbito do centenário de Agostinho Neto. A caminho, presume- se, de uma série de galardões internacio­nais, caso do Nobel da Paz…

Luísa Damião, que falava na abertura de uma mesaredond­a sobre “A dimensão política e cultural de Neto”, propôs à Faculdade de Letras da Universida­de Agostinho Neto a criação de um departamen­to ou estudos sobre a vida e obra de Agostinho Neto, à semelhança de algumas academias do mundo. A vice- presidente do MPLA defendeu que não se pode diminuir ou denegrir a imagem ou reduzir a dimensão de Agostinho Neto. Tem razão. Para além de ter mandado massacrar milhares e milhares de angolanos no 27 de Maio de 1977, a dimensão genocida de Agostinho Neto tem outras variantes dignas de estudo.

“O seu sentido humanista e de liderança do país fica expresso na necessidad­e da formação do homem novo por via da educação e dos valores e ideias do povo angolano”, disse a oradora, certamente numa mensagem subliminar aos familiares das vítimas do massacre que, provavelme­nte, não viram nessas mortes o sentido humanista do carrasco. No colóquio, que decorreu sob o lema “Reforçar a Unidade Nacional com o Legado de Neto”, Luísa Damião defendeu que

Agostinho Neto deve ser sempre promovido, para o conhecimen­to e estudo das novas gerações. Tem razão.

Do ponto de vista do MPLA, e aqui a mensagem não é subliminar ( pelo contrário), importa que os angolanos se lembrem de que o 27 de Maio de 1977 “made in” Agostinho Neto não foi caso único e pode ser repetido sempre que o partido quiser.

Luísa Damião lembrou que Agostinho Neto é reconhecid­o internacio­nalmente e os seus feitos ultrapassa­m fronteiras ( em breve serão assinados com uma lápide em… Marte).

No seu percurso histórico, acrescento­u, além da dimensão humanista, tem as suas impressões digitais em vários domínios da vida do país. Modéstia. Na verdade as impressões digitais de Agostinho Neto estão sobretudo na morte dos angolanos.

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MINISTRO DE ESTADO E CHEFE DA CASA CIVIL DO PRESIDENTE ANGOLANO, ADÃO DE ALMEIDA
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