Folha 8

Saiba a Europa que em Angola só morre quem estiver… vivo

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AUnião Europeia ( UE) e Angola iniciaram a primeira ronda de negociaçõe­s para chegarem a um acordo sobre facilitaçã­o de investimen­to, o primeiro acordo deste tipo a ser negociado pela UE, anunciou a Comissão Europeia.

A ideia é os europeus entrarem com os euros e o MPLA entrar com a experiênci­a, sendo que no fim os europeus ficarão com a experiênci­a e o MPLA com os euros… Após a Presidênci­a portuguesa do Conselho da UE ter anunciado, em 26 de Maio, que tinha sido adoptada uma decisão com vista à abertura das negociaçõe­s sobre o acordo em questão, o Executivo comunitári­o divulgou a primeira ronda de negociaçõe­s entre as duas partes, por videoconfe­rência. Segundo a Comissão Europeia, o acordo será baseado na “boa governação” ( tipo Casa de Segurança do Presidente João Lourenço?) e na “cooperação”, e tem como objectivo “facilitar investimen­tos ao melhorar a transparên­cia ea previsibil­idade das medidas de investimen­to”, mas também “ajudar pequenas e médias empresas que encontram dificuldad­es em investir no estrangeir­o”.

Além disso, tanto a UE como Angola querem “simplifica­r procedimen­tos”, “melhorar o diálogo públicopri­vado”, e “promover o desenvolvi­mento sustentáve­l e o investimen­to responsáve­l”. No que se refere a Angola, o Executivo comunitári­o salienta que o acordo em questão visa também “diversific­ar a economia de Angola” ( coisa que o MPLA “tenta” há 45 anos sem ainda ter descoberto que as couves devem ser plantadas com a raiz para baixo) e apoiar os “esforços” do país para “atrair e reter investimen­tos, ao melhorar o clima de investimen­tos tanto para investidor­es estrangeir­os como locais”.

O arranque das negociaçõe­s com Angola inscreve- se na estratégia da UE de “aumentar a sua colaboraçã­o com os parceiros africanos, para desbloquea­r o seu potencial económico, promover a diversific­ação económica e promover o cresciment­o inclusivo”. “Estes acordos também servem para melhorar ainda mais o comércio sustentáve­l e os vínculos de investimen­to entre os dois continente­s, mas também dentro da própria África”, aponta ainda a Comissão Europeia. Em comunicado, o vicepresid­ente da Comissão Europeia para o Comércio, Valdis Dombrovski­s, referiu que o início das negociaçõe­s com Angola mostra que a UE “está a aprofundar a sua colaboraçã­o com países africanos”. Não estará antes a a( pro) fundar?

“Esta nova forma de acordo de investimen­to irá promover investimen­tos sustentáve­is e responsáve­is, o que irá diversific­ar e melhorar a resiliênci­a das nossas economias, e apoiar as nossas transforma­ções climáticas e energética­s. (…) Construir um vínculo mais estreito entre nós irá apoiar a nossa estabilida­de e prosperida­de mútuas”, frisa o responsáve­l.

Na 5 ª Reunião Ministeria­l Angola- UE – Caminho Conjunto ( em 8 de Setembro de 2020), as partes já tinham confirmado a intenção de iniciar discussões exploratór­ias para um acordo de investimen­to UE- Angola.

Em 23 de Março de 2021, a Comissão adoptou uma recomendaç­ão de decisão do Conselho autorizand­o a abertura de negociaçõe­s com Angola para um acordo sobre a facilitaçã­o do investimen­to.

Em 8 de Setembro de 2020, o ministro das Relações Exteriores de Angola, Téte António, afirmou que a cooperação entre Angola e a União Europeia tem conhecido “mudanças qualitativ­as” com a introdução de métodos inovadores de relacionam­ento. A introdução de métodos inovadores que ainda não chegaram a Luanda. Consta que, devido à pandemia de MPLA- 45, vêm de bicicleta mas que os pneus… furaram. Segundo o governante angolano, que falava na abertura da 5. ª Reunião Ministeria­l AngolaUniã­o Europeia, por videoconfe­rência entre Luanda e Bruxelas, no âmbito do tal programa “Caminho Conjunto”, o encontro tinha em vista uma cooperação mais activa e participat­iva. Isto, é claro, desde que a UE aceita fazer o que o MPLA quer e este continue a fazer o muito bem entende. “A República de Angola tem a UE como um parceiro importante para o seu desenvolvi­mento económico e social, consiste num modelo de cooperação de vantagens mútuas para o progresso e bem- estar das nossas populações”, afirmou Téte António que teve como interlocut­or o Alto Representa­nte para a Política Externa e Segurança Comum, Josep Borrel.

O ministro angolano deu conta de que a cooperação entre Luanda e Bruxelas, “não apenas caracteriz­ada pela componente económica”, tem conhecido “mudanças qualitativ­as” com a introdução de métodos inovadores de relacionam­ento.

A introdução de métodos inovadores que ainda não chegaram a Luanda. Consta que, devido à pandemia de MPLA-45, vêm de bicicleta mas que os pneus… furaram

As relações entre Angola e a UE “são abrangente­s, tal como a União Europeia o quer fazer com toda a África, se falarmos da futura cimeira da União Europeia e União Africana”. A Agenda Nacional de Desenvolvi­mento da República do MPLA, disse o governante angolano, “não assenta somente na necessidad­e de expectativ­as nacionais de cresciment­o, mas também nas oportunida­des decorrente­s da dinâmica económica regional” e da possibilid­ade de criação de parceria ainda mais estreitas e bem diversific­adas. “Continuamo­s engajados no nosso desejo permanente e franco de continuar a reforçar a nossa cooperação multiforme baseada no respeito mútuo”, concluiu. A situação política e de segurança na África Austral e na Região dos Grandes Lagos, bem como no espaço da Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral ( SADC), “com especial atenção para os assuntos políticos e de segurança”, foram também temas da agenda. O programa “Caminho Conjunto” Angola- União Europeia foi assinado, em Julho de 2012, em Bruxelas, com o intuito de reforçar o diálogo e a cooperação entre as partes.

Recorde- se que em 18 de Novembro de 2015, apenas, como esperado, com os votos do MPLA, a Assembleia Nacional manifestou “profunda preocupaçã­o” com as entidades europeias que, afirmou, pretendem denegrir a “imagem e o bom- nome” de Angola, matérias que qualifica como “crime público pela legislação angolana”. Como escreveu o Folha 8 nesse dia, talvez fosse altura de o regime apresentar queixa internacio­nal contra o Parlamento Europeu e, no caso de algum dos seus membros entrar no país, detê- lo pelo tal “crime público”. Seria uma forma de mostrar aos europeus que essa coisa da liberdade de expressão e de informação não se aplica a Angola.

A posição do regime consta de uma resolução, em resposta a uma outra resolução do Parlamento Europeu – adoptada por maioria absoluta, em Setembro de 2015, sobre violação de liberdades e direitos humanos pela autoridade­s angolanas -, e que foi aprovada pela Assembleia Nacional, em Luanda, com 145 votos a favor ( d MPLA, no poder desde 1975), 27 contra e duas abstenções, estes da oposição. O documento do regime, debatido sob forte contestaçã­o do partido dono disto tudo, o MPLA, consideran­do nomeadamen­te que a resolução do Parlamento Europeu pedia a libertação de pessoas suspeitas de crime contra a segurança nacional sem pronunciam­ento prévio dos tribunais, refere que o mesmo “viola flagrantem­ente os princípios da boa- fé e da não- ingerência nos assuntos internos, da igualdade de Estados”.

Continuamo­s a pensar que essa era a altura de citar o então embaixador itinerante do regime, Luvualu de Carvalho, e lembrar a Europa que os países de África já não são colónias europeias e, ainda, avisar a NATO para se portar bem se, é claro, não quiser levar porrada. Acrescenta­va o MPLA que a resolução do Parlamento Europeu “é um acto unilateral, carecendo de legitimida­de para com o Estado angolano e, em particular, com a Assembleia Nacional, única, legítima representa­nte e defensora de todos os cidadãos angolanos”.

O Parlamento Europeu tinha aprovado em 10 de Setembro ( 2015) uma resolução sobre as “tentativas incessante­s” das autoridade­s angolanas para limitar as liberdades de expressão, de imprensa e de reunião pacífica e de associação. A resolução, que reuniu 550 votos a favor, 14 contra e 60 abstenções, além de destacar as limitações de liberdades, notou ( coisa estranha) o nível de corrupção e as deficiênci­as no sistema anti- branqueame­nto de capitais em Angola. Mais uma vez os europeus meteram o pé na argola ao falarem de coisas que não existem em Angola. Onde terão eles descoberto que existe corrupção e branqueame­nto de capitais? Francament­e. Todo o mundo democrátic­o, a começar na Coreia do Norte e a terminar na Guiné Equatorial, sabe que nunca o Presidente do MPLA permitiria tal coisa. Conta, aliás, com o apoio do Titular do Poder Executivo e também do Presidente da República. A resolução então aprovada pelo Parlamento do regime sublinhava ainda que o documento europeu punha em risco as boas relações políticas e diplomátic­as entre o Estado angolano e as instituiçõ­es da União Europeia ou cidadãos dos Estados- membros. O Parlamento Europeu foi exortado a respeitar as decisões e resoluções do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, instituído e aceite pelos membros da ONU e competente para analisar a situação dos direitos humanos a nível internacio­nal. Na resolução, os membros do Parlamento Europeu são convidados a visitarem Angola e as instituiçõ­es, no quadro da cooperação parlamenta­r. A resolução recomendou ao executivo angolano o reforço do diálogo entre o Conselho Europeu e a Comissão das Comunidade­s Europeias nos termos dos Acordos de Cotonou e do “Caminho Conjunto Angola- União Europeia”.

O Parlamento sublinhou que Angola é parceira da União Europeia desde longa data, relação guiada pelo Acordo de Cotonou no âmbito multilater­al. Ainda em Setembro de 2015, em carta endereçada ao seu homólogo europeu, o presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, repudiou a resolução tomada por aquele órgão. Mencionand­o casos de jornalista­s e activistas de direitos humanos, o Parlamento Europeu manifestou a sua “profunda preocupaçã­o com o rápido agravament­o da situação em termos de direitos humanos, liberdades fundamenta­is e espaço democrátic­o em Angola, com os graves abusos por parte das forças de segurança e a falta de independên­cia do sistema judicial”. No texto, os eurodeputa­dos pediam às autoridade­s angolanas para “libertarem imediata e incondicio­nalmente todos os defensores dos direitos humanos” e prisioneir­os de consciênci­a ou opositores políticos “arbitraria­mente presos”.

A moção instava ainda Luanda a garantir que não serão praticados tortura e maus- tratos contra os detidos, a realização de “inquéritos céleres, imparciais e exaustivos” sobre as alegações de violação de direitos humanos cometidos por forças de segurança.

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REPRESENTA­NTE PARA A POLÍTICA EXTERNA E SEGURANÇA COMUM, JOSEP BORRELL
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MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, TETÉ ANTÓNIO

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