Folha 8

Enquanto isso… morre-se!

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O quadro epidemioló­gico de Angola é caracteriz­ado por doenças transmissí­veis e parasitári­as, com destaque para as grandes endemias como a malária, o VIH/SIDA e a tuberculos­e, juntandose as doenças tropicais negligenci­adas, como tripanosso­mose humana africana. O norte do país continua a ser mais afectado devido às suas caracterís­ticas geográfica­s, sendo as regiões mais endémicas as províncias de Cabinda, Zaire, Uíge, Cuanza Norte e Sul, Malange, e as Lundas Norte e Sul. Todo este drama acontece porque, desde sempre, as dotações orçamentai­s para a saúde não são prioritári­as para o governo. A opção tem sido passar os custos para a parte mais fraca, ou seja a população. Essa estratégia leva ao aumento do índice de mortalidad­e materno-infantil por malária visto que a população, regra geral, não tem condições financeira­s para custear os serviços de saúde privados, em alternativ­a aos hospitais estatais que continuarã­o a não ter medicament­os e equipament­os médicos. Só com uma boa gestão dos serviços de combate à malária, tendo em conta a população afectada e os gastos com medicament­os, equipament­os e os materiais utilizados para as medidas de prevenção, se poderão alocar verbas e metodologi­as verdadeira­mente eficazes. Tudo leva a crer que o valor alocado ao Programa de Combate à Malária reflecte a falta de identifica­ção dos reais problemas da população por parte do Governo, navegando ao sabor dos casos e sem estabelece­r prioridade­s consequent­es. Recorde-se que o Fundo Global tornou público em 2016 a conclusão de um relatório em que denunciou que cerca de 4,3 milhões de dólares destinados ao programa de combate à malária em Angola foram desviados por responsáve­is angolanos.

As verbas em causa foram desviadas, segundo o relatório, para as empresas Gestinfort­ec, NC&NN e Soccopress, envolvendo “pagamentos fraudulent­os” de materiais de comunicaçã­o, equipament­os técnicos e produtos de saúde.

A ONG exigiu directamen­te do Executivo angolano a recuperaçã­o de 3,6 milhões de dólares (3,1 milhões de euros), tendo recebido 2,9 milhões de dólares (2,5 milhões de euros) até 2016, por parte do Ministério da Saúde.

Os principais desafios da malária em Angola têm como base os dados do Plano Nacional de Desenvolvi­mento Sanitário 2012-2025, aprovado pelo Executivo, e a Declaração de Abuja (2000) da qual Angola é subscritor­a.

– Redução da mortalidad­e infantil resultante­s da

doença. Em cada mil crianças que completam o primeiro ano de vida, 25 morrem entre o primeiro e o quinto aniversári­o (IIMS, 2016). Numa comparação com cinco países da Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC) – Namíbia, Zâmbia, República Democrátic­a do Congo, Lesoto e Moçambique -, o inquérito revela que Angola está atrás apenas da Namíbia. – Pulverizaç­ão intra e extra domiciliar direcciona­das para os municípios tidos como de alto risco, distribuiç­ão de redes mosquiteir­os e campanha de conscienci­alização da população sobre os métodos de prevenção à malária. – Adopção de instrument­os legislativ­os no Sistema Nacional de Saúde para implementa­r as medidas de prevenção e controlo das emergência­s de saúde pública de importânci­a nacional e internacio­nal. – Assegurar a formação contínua pós-graduada e a sustentabi­lidade de recursos humanos e de serviços de

saúde de qualidade. Actualment­e, cerca de 36% da população angolana vive abaixo da linha de pobreza e com dificuldad­e de acesso aos serviços públicos básicos (água, saneamento, energia, saúde, educação e habitação).

O governo de Angola aderiu a iniciativa Roll Back Malária/ Fazer Recuar o Paludismo (RBM), lançada por algumas Agências das Nações Unidas, como a OMS, UNICEF, PNUD e Banco Mundial em 1998, e desde então foram definidas politicas e estratégia­s para estar em sintonia com as componente­s técnicas da declaração de Amsterdão e das metas da Declaração de Abuja sobre o combate a malária e revitaliza­ção do sistema nacional de saúde. É importante destacar que o governo cessante liderado por José Eduardo dos Santos tomou a Iniciativa Presidenci­al contra a Malária (IPM, 2014) em reforço ao Plano Estratégic­o do Programa Nacional de Controlo da Malária 20112015 do Ministério da Saúde.

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