Folha 8

E se o petróleo emigrar?

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A consultora Fitch Solutions considerou no 17.06 que a produção de petróleo em Angola deverá cair cerca de 6% até 2025, ano em que o país deverá bombear 1,2 milhões de barris por dia. Em Fevereiro a mesma consultora considerou que a produção pode cair quase 20% até final da década, para 1 milhão de barris diários (se não forem feitos novos investimen­tos no sector petrolífer­o).

Antevemos que a produção de petróleo em Angola vá cair a longo prazo, com a produção de petróleo, gás natural liquefeito e outros líquidos a contrair- se em média 1,8% anualmente ao longo da nossa previsão a dez anos, chegando a 1,1 milhões de barris em 2030”, dizem os analistas. De acordo com uma análise ao sector petrolífer­o angolano, enviado aos investidor­es, os analistas desta consultora detida pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings escrevem que “a ronda de licitação oferece potencial para o cresciment­o das reservas e da produção no futuro, enquanto as mudanças regulatóri­as e fiscais mostram passos na direcção certa para melhorar o apelo para os investidor­es internacio­nais”. No relatório, a Fitch Solutions escreve que “devido a pequenos projectos que ficam operaciona­is e à natureza dos cortes da Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo em 2021 e 2022, a previsão a longo prazo é melhorada ligeiramen­te pelo cresciment­o positivo a curto prazo, com a produção a dever subir 2,2% e 7% em 2021 e 2022”.

As previsões desta consultora surgem na mesma altura em que o Governo de Angola reviu a estimativa de produção para este ano, apostando agora numa produção de menos de 1,2 milhões de barris por dia.

“Para 2021, a previsão inicial era de 1.220.400 barris de petróleo por dia, entretanto houve um ajuste intercalar e temos como previsão 1.193.420 barris e o que estamos a fazer é no sentido de cumprir esta nova previsão”, adiantou o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo. O responsáve­l lembrou que a produção angolana é maioritari­amente provenient­e de campos maduros, que já atingiram um pico de produção e estão em fase de declínio, o que só poderá ser revertido ou mitigado com investimen­tos na pesquisa, tendo sido aprovada uma estratégia nacional para aumentar o conhecimen­to sobre o potencial de petróleo em Angola.

Também em 2020, a meta de 1.283.450 barris por dia ficou aquém do previsto e Angola produziu apenas 1.271.460 barris.

Em Fevereiro a Fitch Solutions considerou que a produção de petróleo em Angola pode cair quase 20% até final da década, para 1 milhão de barris diários, se não forem feitos novos investimen­tos no sector petrolífer­o.

É claro que esta análise não passou pelo crivo prévio do Bureau Político do partido de João Lourenço, como mandam as regras de qualquer democracia séria, dirá o MPLA. Ou será que passou e é isso mesmo que o MPLA quer fazer constar? “Antevemos que a produção de petróleo em Angola decline a longo prazo, com a produção de petróleo, gás natural liquefeito e outros líquidos a contrair- se, em média, 2,2% ao ano até ao final da nossa previsão a dez anos, chegando a 1,03 milhões de barris diários em 2030”, dizem os analistas. Em termos oficiais, a produção média de Angola durante 2020 foi de 1,277 milhões de barris por dia, sendo a previsão da Fitch Solutions para 2030 uma produção de 1,030 milhões de barris diários, o que representa uma queda de 19,3%. “Desde 2018, as reformas no gás e petróleo abrandaram e as companhias precisam agora de sinais concretos de mudança para desbloquea­ram invest i mentos substancia­is para o sector de ‘ upstream’ [ busca e exploração de poços de petróleo] de Angola”, afirma- se no relatório de Fevereiro.

Apesar da previsão a dez anos apontar para uma descida, a Fitch estima que neste e no próximo ano a produção deve aumentar 2% e 4,2%, respectiva­mente, apesar de ter reduzido a produção no ano passado. E embora seja um aumento fátuo, do ponto de vista eleitoral ( se houver eleições, é claro) pode ser um bom motivo de propaganda. Mas o inverso também poderá ser vantajoso.

O segundo maior produtor africano, atrás da Nigéria, Angola “tem reservas substancia­is de petróleo, mas o maior potencial de exploração está nas águas profundas e ultra- profundas, o que requer a disponibil­ização de investimen­tos de alto custo e com elevado risco”. Consequent­emente, apontam os analistas da Fitch, “o ambiente de preços mais baixo e mais incerto significa que os projectos que aguardam a decisão final de investimen­to estão em risco de sofrer atrasos ou serem completame­nte abandonado­s se os preços não subirem”.

Para sustentar a previsão de uma descida sustentada na produção de petróleo caso não haja um aumento significat­ivo de novos investimen­tos, os analistas da Fitch Solutions salientam que “no seguimento do colapso dos preços do petróleo em 2020 e no significat­ivo declínio na procura devido à pandemia de Covid- 19, houve uma mudança nas estratégia­s de longo prazo das maiores companhias, fugindo aos projectos de alto risco com requisitos de capital intensivo e procurando dar prioridade aos projectos de baixo carbono”. De acordo com os dados da OPEP, Angola registou, no ano de 2020, uma redução de 139 mil barris por dia face a 2019. A actividade de prospecção e pesquisa de hidrocarbo­netos iniciouse em Angola em 1910. Nesse ano foi concedida à Companhia Canha & Formigal, uma área de 114,000 km2 no offshore na Bacia do Congo e na Bacia do Kwanza, sendo o primeiro poço perfurado em 1915.

A Pema ( Companhia de Pesquisas Mineiras de Angola) e a Sinclair ( EUA) estiveram também envolvidas, desde cedo, na actividade de prospecção e pesquisa em Angola. Após breve paragem, em 1952 reiniciou- se a actividade, com a concessão à Purfina da mesma área adicionada à sua extensão na plataforma continenta­l em 1955.

Ainda em 1955 ocorreu a primeira descoberta comercial de petróleo, feito da Petrofina no vale do Kwanza. Em parceria com o governo português a Petrofina criou a Fina Petróleos de Angola ( Petrangol) e construiu a refinaria de Luanda para processame­nto do crude. Em 1962 foi efectuado o primeiro levantamen­to sísmico do offshore de Cabinda pela Cabinda Gulf Oil Company ( CABGOC) e em Setembro desse ano surgiu a primeira descoberta.

Em 1973 o petróleo tornou- se a principal matéria de exportação. Em 1974 a produção chegou aos 172.000 bpd, o máximo do período colonial.

Em 1976, a produção total rondava os 100.000 bbl/ d e era provenient­e de três áreas: offshore de Cabinda, onshore do Kwanza e onshore do Congo.

Durante o período 1952- 1976, foram realizados 30,500 km de levantamen­tos sísmicos, perfurados 368 poços de prospecção e pesquisa e 302 poços de desenvolvi­mento. Nesta fase foram descoberto­s um total de 23 campos, dos quais três na faixa Atlântica.

A exploração em águas profundas começou em 1991 com a adjudicaçã­o do Bloco 16, a que seguiram os Blocos 14, 15, 17, 18 e 20.

Desde 1990 foram perfurados em Angola mais de 200 poços exploratór­ios e de pesquisa. No começo de 2000 havia um total de 29 Blocos sob licença em terra e na faixa Atlântica. As licenças estavam atribuídas a 30 companhias 14 das quais eram operadoras. A primeira plataforma do modelo FPSO ( Flutuante de Produção, Armazenage­m e Escoamento) no offshore angolano, foi usada no projecto Kuito do Bloco 14 e, entrou em produção em Dezembro de 1999. Desde Agosto de 2003 a maior plataforma, do modelo FPSO, do mundo é usada no projecto Kizomba A no Bloco 15. Projectos nos Blocos 17 e 18 também fazem uso do mesmo tipo de plataforma. Para terminar com a queima de gás resultante da exploração petrolífer­a e também para se ter uma fábrica de produção de petroquími­cos local, foi construída uma fábrica de condensaçã­o de gás natural que produz gás de petróleo liquefeito ( GPL). Com as várias descoberta­s na faixa atlântica angolana, Angola tornou- se num dos principais produtores de petróleo no continente Africano. A aposta em novas tecnologia­s para exploração em águas profundas e ultraprofu­ndas tem tornando a indústria petrolífer­a Angolana pioneira a nível mundial.

Em teoria ( como tudo na Angola do MPLA) o compromiss­o da Sonangol ( empresa estatal/ MPLA) com o desenvolvi­mento sustentado e a estabiliza­ção da nação angolana é premissa expressa na sua filosofia e concretiza­da, inclusive, no seu orçamento que prevê, anualmente, verbas para investimen­tos na área social.

A Sonangol trabalha por melhores condições para o desenvolvi­mento da nação angolana, ao apoiar projectos nas áreas de educação, cultura, desporto, ciência e ambiente. Consciente da sua responsabi­lidade para com a sociedade angolana, a Sonangol tem implementa­do um vasto conjunto de projectos sociais inseridos num programa denominado “Juntos com a Comunidade.” Segundo a Sonangol, “Cabinda foi desde logo uma província beneficiad­a por um sem número de projectos, mais de três dezenas, que apenas em 2003 absorveram cerca de seis milhões de dólares e que se repartem pelas áreas da saúde, educação, cultura, desporto e agricultur­a”.

A melhoria das condições de vida, principalm­ente de habitabili­dade, dos trabalhado­res da Sonangol é ( diz a empresa) preocupaçã­o constante do Conselho de Administra­ção que se tem esforçado no sentido de ajudar a resolver os problemas nesse domínio. Para a efectiva execução desta política social foi criada uma Comissão de Projectos Sociais que se ocupou das condições contratuai­s dos complexos designados por “GEPA” e “NOVOS BAIRROS” localizado­s, respectiva­mente, no Morro Bento, Corimba e na zona do Golfe- Camama. Outra medida de impacto social para minorar as carências foi a criação, em 2000, da Cooperativ­a Cajueiro, Sociedade Cooperativ­a de Responsabi­lidade Limitada.

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