SIMPLIFICA OS ACTOS E NÃO OS ACTORES
OExecutivo veio a terreiro anunciar mais um acto de gestão administrativa:simplifica, que pelas lacunas, omissões e selectividade, pode ser mais um paliativo, mas sendo uma orientação do FMI, para poder receber mais Kumbu, bufunfa, não para melhorar o colectivo, mas os particulares do poleiro, que nunca perdem mesmo estando o país em crise. O jurista e comentador Albano Pedro produziu o seguinte TOP, a propósito do SIMPLIFICA “Se querem simplificar mesmo, eliminem também o RECONHECIMENTO DE CERTIFICADOS DE ESTUDOS SUPERIORES feitos em Angola. Nesse aspecto o INAAREES não faz falta a ninguém. Só provoca excessos de bichas, atrasa as confirmações de matrículas, viagens de estudantes e admissões em concursos públicos de recém-formados, para além de fazer “envergonhar” os estabelecimentos de ensino superior em Angola que até têm licença para o ensino superior. O INAAREES desacredita a seriedade do ensino superior. Se quizerem preservar os empregos dos seus funcionários, trabalhadores e colaboradores que fique apenas para reconhecer certificados de estudos superiores feitos no estrangeiro. E como muitas coisas parecem sureais é que Sousa Jambas, contornando o tema, apela o bom senso de humor do kota Celso: “Alguns anos atrás, os Manos da UNITA eram os mestres de perfis falsos (Silivondela, Makeyapombali, Barba de Aço, Tchakwata Upindi etc...) É impressão minha ou será que agora um bom número de Camaradas do MPLA optaram pelo os perfis falsos enquanto muitos Maninhos estão a dar a cara? Há vezes que fico com a impressão que apenas o Mano Celso Malavoloneke está pronto á ir ao meio do combate, sem colete e sem camisa, sem capacete, com o seu lança-postes de alto alcance e o seu bloqueador de 23 milímetros!”
A Elivulu prepara o seu terceiro projecto editorial, enquadrado na nova estratégia de sustentabilidade financeira, denominado “Financiamento colectivo do livro” que se resume em editar os livros com o apoio da comunidade de leitores. Depois do êxito do livro “Os meus tios e os seus atongoko” de Mwene Vunongue e “Educação e ensino em Angola em tempo de COVID-19” Chocolate Brás, segue-se o promissor poeta benguelense Job Sipitali. No seu último livro “Os vivos e os outros” José Eduardo Agualusa cita um belíssimo poema de Job Sipitali.
Integralmente escrito em Umbundu, « Lindohã Enhona » é um harmónico livro de poesia, no seu conteúdo e grafismo, numa combinação de texto e imagem. Para o escritor Gociante Patissa, Job Sipitali “desponta pela diferença, traz uma poesia concisa, proverbial e penetrante”. Nota- se no autor, ainda segundo Patissa, “um distanciamento em relação à tendência dos poetas da sua geração, aquela nota acentuadamente sóciorealista e declarativa, com textos prolixos e a passar ao lado do labor estético”. Segundo uma nota de imprensa enviada ao Folha8, “trata- se de um projecto editorial totalmente financiado pela comunidade, uma economia criativa e de multidões. Não existe um montante mínimo. Cada leitor pode contribuir de acordo com a sua disponibilidade financeira e opcional”. A mesma nota destaca igualmente as vantagens do projecto “o fácil acesso, contribuindo para o hábito e cultura de leitura; barato – porque o livro será vendido ao preço de produção e ainda com desconto fixo de dez por cento para todos contribuintes e em terceiro lugar inclusivo, pois será incluído no livro o nome de todos os contribuintes”.
PARA APOIAR
Os leitores interessados em apoiar a iniciativa de financiamento colectivo do livro podem depositar as suas contribuições nas contas bancárias em Angola ( IBAN: 0040 0000 1559 3873 1012 510) e em Portugal ( PT50 0033 0000 4553 2370 1670 5) enviando o comprovativo através do whatssap da editora: + 244943358485.
Biografia de Job Sipitali
Job Sipitali é poeta, ensaísta, cronista e professor angolano. Reside em Benguela. Licenciado em Ensino da Língua- Portuguesa pelo Instituto Superior de Ciências da Educação de Benguela. Publicou em 2017 o seu primeiro livro de poesia, intitulado “Raízes Cantam” em Portugal pela Perfil Criativo. Participou da antologia “Os melhores poetas de África”. Tem poemas publicados no Jornal Cultura e textos na primeira revista angolana de crítica literária “Mayombe”. Lecciona no Município de Quilengues ( Huíla), já tendo ministrado aulas de Literatura Africana de Expressão Portuguesa, Língua Latina, Língua Portuguesa e Umbundu.
A fraude académica, essencialmente, é definida como sendo uma prática antiética nos processos de ensino, aprendizagem e desenvolvimento. Trata-se de uma tendência crescente em Angola, sobretudo, quando referente aos trabalhos académicos, científicos e literários. Globalmente, considerada como crime, ela tende a ter formas de fraude artística (muitos potenciais artistas angolanos já caíram nela), fraude científica, intelectual, textual (em forma de plágio). Esta última vem sendo muito frequente em Angola. Acredito que todos estejamos lembrados da polémica que envolveu a última edição do prémio literário António Jacinto.
Como objecto de estudo e investigação, infelizmente, não vem merecendo muita atenção dos pesquisadores angolanos. O único estudo de que tenho memória já ter sido publicado sobre esta problemática é da autoria do Pedagogo e Jurista Baltazar Agostinho da Costa, com o título « Fraude Académica no Processo de Avaliação da Aprendizagem » sob a chancela da Lueji Editora, em 2015. O livro resultante da sua pesquisa de trabalho de fim de curso de Licenciatura, buscava reflectir sobre as consequências da fraude académica “Cabula” no processo de ensinoaprendizagem, numa Instituição de Ensino Superior na província de Cabinda.
Ao tomar contacto com o comunicado do Gabinete Provincial da Educação de Luanda, datado de 17 de Junho do corrente ano, que dava a conhecer que as provas de exame escrito da 9 ª Classe do Ensino Regular, das escolas públicas, públicoprivadas e privadas foram anuladas por fraude, isto é, vazamento dos enunciados, lembreime de um artigo que eu escrevi em 2018 que sugeria que no contexto da educação e ensino em Angola vivemos uma espécie de “fingimento estrutural”, onde « alguns professores fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem » . Eu levantava naquele, ainda inédito, artigo intitulado « O que é ser universitário em Angola. Ensaio Crítico da Actuação dos Universitários » que a minha vivência e convivência universitária permitia- me considerar que no sistema de educação e ensino em Angola vivemos aquilo que se pode caracterizar como um fingimento estrutural, desde o Ensino Primário ao Ensino Superior, havendo um ciclo de fraude académica, onde se aprende a cabular, memorizar e ludibriar desde muito cedo. No contexto do ensino superior questionava, por exemplo, se temos: ( i) Universidades de Angola? ( ii) Universidades em Angola? ( iii) Universidades angolanas? e/ ou ( iv) Universidades à angolana ( indicando uma forma suis generis de fazer a universidade na banda)? Esse questionamento se fundamentava no fingimento que se vislumbra entre os quatro grupos de actores da universidade, isto é, gestores, docentes, estudantes e funcionários não docentes. O fingimento que levantava no artigo se circunscrevia, desde as quatros condições- prévias de uma Universidade, nomeadamente, ( i) Oportunidades de expandir seus conhecimentos; ( ii) Programa de PósGraduação; ( iii) Uma boa infra- estrutura; ( iv) Oportunidade de intercâmbio. Impõe- se, por exemplo, questionar as ligadas à terceira condição: como são as salas das faculdades e como estão equipadas? Os laboratórios existem e são modernos? As bibliotecas têm bom acervo? – Muitas até só têm salas de leitura ou cantos de livro que nada “encantam”. Como está a questão da integração das TIC nelas? E a questão do transporte, segurança e alimentação? Podia igualmente olhar para a gestão universitária, hoje cada vez mais influenciada por fundamentos distantes da gestão democrática e de excelência e mergulhada na presença da luta de poder, no lugar da luta e construção de competências e habilidades. Questionar, por exemplo, como construir uma universidade que « vai além do diplomar dos cidadãos » e da construção social de cidadãos autónomos, críticas, criativos e reflexivos, conforme postula a Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino em Angola ( art. º 4 º . Lei n. º 32/ 20, de 12 de Agosto). Continua na próxima edição
* Doutorando em Educação pelo Programa de Pós- Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná
A obra trazida à conversa nesse fim-de-semana é da autoria da angolana Elis Cruz. A autora, cujo nome completo é Elizabete Vera Cruz, publicou também os ensaios «Ser jovem em Angola» e «O estatuto do indigenato». Publicada em 2020 pela Mayamba editora, «Parece novela» é uma obra composta por contos. Os textos dessa obra são, sobretudo, femininos. Trazem eles ao de cima assuntos sobre mulheres e o modo como alguns membros da sociedade têm operado.
Otítulo do primeiro conto, «V de Vitória » , dialoga com o de um filme bem conhecido pelos amigos da sétima arte: « V de Vingança » . Sem spoiler, se no filme aqui chamado à conversa o antiherói procura libertar a sociedade do capitalismo e da autocracia, no texto que abre o livro, a escriba cria uma narradora que fala de amor « em tempo de cólera » , num topoi muito semelhante ao da Angola de 1977. Dito de outra forma, a narradoraprotagonista revela aspectos da história do país, da guerrilha, do nacionalismo exacerbado e das ideologias políticas e sociais da Angola dos primeiros anos da independência:
« Voltei à escola. Apesar de termos mais reuniões gerais de alunos que aulas, onde se discute de tudo um pouco - da escola ao país. É oficialmente inaugurada a era dos portantos. No espaço de cinco minutos, pode bem ouvir- se umas dezenas de portantos. É o máximo. » Dá luzes a escritora de como muitas senhoras tiveram que deixar os seus amores por eles ou elas mesmas estarem envolvidos na “intentona” de 1977. Às vezes, à luz da narrativa, muitas senhoras entregavam os seus maridos para « se safarem » do imbróglio ou das acusações: « Estávamos dispostos a morrer por Angola mas, pior mesmo, é que também estávamos dispostos a matar. Matei o meu amor. Para salvar a minha pele, denunciei- o. Como me lembro da data. 2 de Junho de 1977, menos de uma semana depois do tenebroso 27 de Maio » [ sic].
O título do livro e retirado do segundo conto: « Até parece novela » . Até parece novela é um sarcasmo usado por muitos angolanos para dizer algum evento extraordinário. Na obra, por uma, é a vida que « até parece novela » , pelas festas, pela pobreza, pelo lixo, pelas frustrações, pelos sonhos dos humanos e pelo capitalismo selvagem. Por outra, é Angola que « parece novela » , pois só quem tem dinheiro é que tem acesso aos bens necessários para a ( sobre) vivência:
« Este é um país de mistérios. No sentido em que para teres acesso à saúde tens que ter dinheiro e quem não tem morre. »
Esse segundo conto, mais extenso do que os outros, tende a se passar por uma novela, coadunando com a significação do título. Os outros contos, « Zefa » , « Alice » , « Joana » , « Ginga » , « Anita vai às compras » , « M de Maria » , « E se » , « Quo vadis » , « Jasmine » , são narrativas que espelham assuntos ligados à força e aos dramas das mulheres: «Todos os dias Zefa desce a cidade depois da luta do comboio e de dois candongueiros que lhe levam parte do seu salário. Para voltar para a casa, a mesma coisa. » Breves contos cujos temas gravitam à volta da liberdade feminina, do amor, do sentido da dor, da violência doméstica, da teologia prosperidade e da gestão da capital de Angola com algum labor estético.
É, portanto, um livro de 3 estrelas.
* Professor & Ensaísta
Oactivista não poderia ser mais assertivo ao afirmar: “Há um sentimento que começa a preocupar a mim e acredito que mais pessoas também. A preocupação reside no novo tipo de sociedade que se está a erguer, aonde os líderes políticos já existem e os outros não servem, aonde os que vão salvar Angola já existem e só deve ser aqueles, aonde a democracia é só para uns e os outros não podem levar essa bandeira porque supostamente esse é já um dado adquirido para os únicos donos da democracia, aonde iniciativas vindas de outros cidadãos são arrolados como projectos fracassados, vendidos, satélites etc. Será que não deve haver mais iniciativas que mereçam o apoio da sociedade angolana que muito precisa da pluralidade de vozes e instrumentos? Estamos insensíveis as mudanças e a construção de um Estado novo, onde cada um de nós pode ter a sua livre iniciativa e contribuir para o bem de todos. O que mais preocupa é que até a nossa geração que criou o slogan “A nossa geração não pode falhar” é ela que se atira contra as pequenas iniciativas, preferindo assim continuar na mesmisse, por não pertencer ao grupo que trás uma ideia nova ao país. Continuamos a acalentar as noites frias dos nossos kotas que conhecem as razões do nosso sofrimento e que nunca lutaram entre eles, pelo contrário, nós é que lutamos entre irmãos por conta de problemas que não sabemos a essência. Com esses sinais que vejo desta geração, se não melhorar a visão sobre aquilo que os outros pensam e saberem que os termos como: vendidos, candongueiros, satélites, bufos do regime etc, sempre serviram para nos dividir e não haver nunca concertação entre nós, estamos de facto condenados ao fracasso e pelos piores motivos. Esta é uma reflexão que gostaria de apelar a nossa geração a fazer. MBOTE
BA YAYA”.