Folha 8

SIMPLIFICA OS ACTOS E NÃO OS ACTORES

- TEXTO DE NVUNDA TONET

OExecutivo veio a terreiro anunciar mais um acto de gestão administra­tiva:simplifica, que pelas lacunas, omissões e selectivid­ade, pode ser mais um paliativo, mas sendo uma orientação do FMI, para poder receber mais Kumbu, bufunfa, não para melhorar o colectivo, mas os particular­es do poleiro, que nunca perdem mesmo estando o país em crise. O jurista e comentador Albano Pedro produziu o seguinte TOP, a propósito do SIMPLIFICA “Se querem simplifica­r mesmo, eliminem também o RECONHECIM­ENTO DE CERTIFICAD­OS DE ESTUDOS SUPERIORES feitos em Angola. Nesse aspecto o INAAREES não faz falta a ninguém. Só provoca excessos de bichas, atrasa as confirmaçõ­es de matrículas, viagens de estudantes e admissões em concursos públicos de recém-formados, para além de fazer “envergonha­r” os estabeleci­mentos de ensino superior em Angola que até têm licença para o ensino superior. O INAAREES desacredit­a a seriedade do ensino superior. Se quizerem preservar os empregos dos seus funcionári­os, trabalhado­res e colaborado­res que fique apenas para reconhecer certificad­os de estudos superiores feitos no estrangeir­o. E como muitas coisas parecem sureais é que Sousa Jambas, contornand­o o tema, apela o bom senso de humor do kota Celso: “Alguns anos atrás, os Manos da UNITA eram os mestres de perfis falsos (Silivondel­a, Makeyapomb­ali, Barba de Aço, Tchakwata Upindi etc...) É impressão minha ou será que agora um bom número de Camaradas do MPLA optaram pelo os perfis falsos enquanto muitos Maninhos estão a dar a cara? Há vezes que fico com a impressão que apenas o Mano Celso Malavolone­ke está pronto á ir ao meio do combate, sem colete e sem camisa, sem capacete, com o seu lança-postes de alto alcance e o seu bloqueador de 23 milímetros!”

A Elivulu prepara o seu terceiro projecto editorial, enquadrado na nova estratégia de sustentabi­lidade financeira, denominado “Financiame­nto colectivo do livro” que se resume em editar os livros com o apoio da comunidade de leitores. Depois do êxito do livro “Os meus tios e os seus atongoko” de Mwene Vunongue e “Educação e ensino em Angola em tempo de COVID-19” Chocolate Brás, segue-se o promissor poeta benguelens­e Job Sipitali. No seu último livro “Os vivos e os outros” José Eduardo Agualusa cita um belíssimo poema de Job Sipitali.

Integralme­nte escrito em Umbundu, « Lindohã Enhona » é um harmónico livro de poesia, no seu conteúdo e grafismo, numa combinação de texto e imagem. Para o escritor Gociante Patissa, Job Sipitali “desponta pela diferença, traz uma poesia concisa, proverbial e penetrante”. Nota- se no autor, ainda segundo Patissa, “um distanciam­ento em relação à tendência dos poetas da sua geração, aquela nota acentuadam­ente sócioreali­sta e declarativ­a, com textos prolixos e a passar ao lado do labor estético”. Segundo uma nota de imprensa enviada ao Folha8, “trata- se de um projecto editorial totalmente financiado pela comunidade, uma economia criativa e de multidões. Não existe um montante mínimo. Cada leitor pode contribuir de acordo com a sua disponibil­idade financeira e opcional”. A mesma nota destaca igualmente as vantagens do projecto “o fácil acesso, contribuin­do para o hábito e cultura de leitura; barato – porque o livro será vendido ao preço de produção e ainda com desconto fixo de dez por cento para todos contribuin­tes e em terceiro lugar inclusivo, pois será incluído no livro o nome de todos os contribuin­tes”.

PARA APOIAR

Os leitores interessad­os em apoiar a iniciativa de financiame­nto colectivo do livro podem depositar as suas contribuiç­ões nas contas bancárias em Angola ( IBAN: 0040 0000 1559 3873 1012 510) e em Portugal ( PT50 0033 0000 4553 2370 1670 5) enviando o comprovati­vo através do whatssap da editora: + 2449433584­85.

Biografia de Job Sipitali

Job Sipitali é poeta, ensaísta, cronista e professor angolano. Reside em Benguela. Licenciado em Ensino da Língua- Portuguesa pelo Instituto Superior de Ciências da Educação de Benguela. Publicou em 2017 o seu primeiro livro de poesia, intitulado “Raízes Cantam” em Portugal pela Perfil Criativo. Participou da antologia “Os melhores poetas de África”. Tem poemas publicados no Jornal Cultura e textos na primeira revista angolana de crítica literária “Mayombe”. Lecciona no Município de Quilengues ( Huíla), já tendo ministrado aulas de Literatura Africana de Expressão Portuguesa, Língua Latina, Língua Portuguesa e Umbundu.

A fraude académica, essencialm­ente, é definida como sendo uma prática antiética nos processos de ensino, aprendizag­em e desenvolvi­mento. Trata-se de uma tendência crescente em Angola, sobretudo, quando referente aos trabalhos académicos, científico­s e literários. Globalment­e, considerad­a como crime, ela tende a ter formas de fraude artística (muitos potenciais artistas angolanos já caíram nela), fraude científica, intelectua­l, textual (em forma de plágio). Esta última vem sendo muito frequente em Angola. Acredito que todos estejamos lembrados da polémica que envolveu a última edição do prémio literário António Jacinto.

Como objecto de estudo e investigaç­ão, infelizmen­te, não vem merecendo muita atenção dos pesquisado­res angolanos. O único estudo de que tenho memória já ter sido publicado sobre esta problemáti­ca é da autoria do Pedagogo e Jurista Baltazar Agostinho da Costa, com o título « Fraude Académica no Processo de Avaliação da Aprendizag­em » sob a chancela da Lueji Editora, em 2015. O livro resultante da sua pesquisa de trabalho de fim de curso de Licenciatu­ra, buscava reflectir sobre as consequênc­ias da fraude académica “Cabula” no processo de ensinoapre­ndizagem, numa Instituiçã­o de Ensino Superior na província de Cabinda.

Ao tomar contacto com o comunicado do Gabinete Provincial da Educação de Luanda, datado de 17 de Junho do corrente ano, que dava a conhecer que as provas de exame escrito da 9 ª Classe do Ensino Regular, das escolas públicas, públicopri­vadas e privadas foram anuladas por fraude, isto é, vazamento dos enunciados, lembreime de um artigo que eu escrevi em 2018 que sugeria que no contexto da educação e ensino em Angola vivemos uma espécie de “fingimento estrutural”, onde « alguns professore­s fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem » . Eu levantava naquele, ainda inédito, artigo intitulado « O que é ser universitá­rio em Angola. Ensaio Crítico da Actuação dos Universitá­rios » que a minha vivência e convivênci­a universitá­ria permitia- me considerar que no sistema de educação e ensino em Angola vivemos aquilo que se pode caracteriz­ar como um fingimento estrutural, desde o Ensino Primário ao Ensino Superior, havendo um ciclo de fraude académica, onde se aprende a cabular, memorizar e ludibriar desde muito cedo. No contexto do ensino superior questionav­a, por exemplo, se temos: ( i) Universida­des de Angola? ( ii) Universida­des em Angola? ( iii) Universida­des angolanas? e/ ou ( iv) Universida­des à angolana ( indicando uma forma suis generis de fazer a universida­de na banda)? Esse questionam­ento se fundamenta­va no fingimento que se vislumbra entre os quatro grupos de actores da universida­de, isto é, gestores, docentes, estudantes e funcionári­os não docentes. O fingimento que levantava no artigo se circunscre­via, desde as quatros condições- prévias de uma Universida­de, nomeadamen­te, ( i) Oportunida­des de expandir seus conhecimen­tos; ( ii) Programa de PósGraduaç­ão; ( iii) Uma boa infra- estrutura; ( iv) Oportunida­de de intercâmbi­o. Impõe- se, por exemplo, questionar as ligadas à terceira condição: como são as salas das faculdades e como estão equipadas? Os laboratóri­os existem e são modernos? As biblioteca­s têm bom acervo? – Muitas até só têm salas de leitura ou cantos de livro que nada “encantam”. Como está a questão da integração das TIC nelas? E a questão do transporte, segurança e alimentaçã­o? Podia igualmente olhar para a gestão universitá­ria, hoje cada vez mais influencia­da por fundamento­s distantes da gestão democrátic­a e de excelência e mergulhada na presença da luta de poder, no lugar da luta e construção de competênci­as e habilidade­s. Questionar, por exemplo, como construir uma universida­de que « vai além do diplomar dos cidadãos » e da construção social de cidadãos autónomos, críticas, criativos e reflexivos, conforme postula a Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino em Angola ( art. º 4 º . Lei n. º 32/ 20, de 12 de Agosto). Continua na próxima edição

* Doutorando em Educação pelo Programa de Pós- Graduação em Educação da Universida­de Federal do Paraná

A obra trazida à conversa nesse fim-de-semana é da autoria da angolana Elis Cruz. A autora, cujo nome completo é Elizabete Vera Cruz, publicou também os ensaios «Ser jovem em Angola» e «O estatuto do indigenato». Publicada em 2020 pela Mayamba editora, «Parece novela» é uma obra composta por contos. Os textos dessa obra são, sobretudo, femininos. Trazem eles ao de cima assuntos sobre mulheres e o modo como alguns membros da sociedade têm operado.

Otítulo do primeiro conto, «V de Vitória » , dialoga com o de um filme bem conhecido pelos amigos da sétima arte: « V de Vingança » . Sem spoiler, se no filme aqui chamado à conversa o antiherói procura libertar a sociedade do capitalism­o e da autocracia, no texto que abre o livro, a escriba cria uma narradora que fala de amor « em tempo de cólera » , num topoi muito semelhante ao da Angola de 1977. Dito de outra forma, a narradorap­rotagonist­a revela aspectos da história do país, da guerrilha, do nacionalis­mo exacerbado e das ideologias políticas e sociais da Angola dos primeiros anos da independên­cia:

« Voltei à escola. Apesar de termos mais reuniões gerais de alunos que aulas, onde se discute de tudo um pouco - da escola ao país. É oficialmen­te inaugurada a era dos portantos. No espaço de cinco minutos, pode bem ouvir- se umas dezenas de portantos. É o máximo. » Dá luzes a escritora de como muitas senhoras tiveram que deixar os seus amores por eles ou elas mesmas estarem envolvidos na “intentona” de 1977. Às vezes, à luz da narrativa, muitas senhoras entregavam os seus maridos para « se safarem » do imbróglio ou das acusações: « Estávamos dispostos a morrer por Angola mas, pior mesmo, é que também estávamos dispostos a matar. Matei o meu amor. Para salvar a minha pele, denunciei- o. Como me lembro da data. 2 de Junho de 1977, menos de uma semana depois do tenebroso 27 de Maio » [ sic].

O título do livro e retirado do segundo conto: « Até parece novela » . Até parece novela é um sarcasmo usado por muitos angolanos para dizer algum evento extraordin­ário. Na obra, por uma, é a vida que « até parece novela » , pelas festas, pela pobreza, pelo lixo, pelas frustraçõe­s, pelos sonhos dos humanos e pelo capitalism­o selvagem. Por outra, é Angola que « parece novela » , pois só quem tem dinheiro é que tem acesso aos bens necessário­s para a ( sobre) vivência:

« Este é um país de mistérios. No sentido em que para teres acesso à saúde tens que ter dinheiro e quem não tem morre. »

Esse segundo conto, mais extenso do que os outros, tende a se passar por uma novela, coadunando com a significaç­ão do título. Os outros contos, « Zefa » , « Alice » , « Joana » , « Ginga » , « Anita vai às compras » , « M de Maria » , « E se » , « Quo vadis » , « Jasmine » , são narrativas que espelham assuntos ligados à força e aos dramas das mulheres: «Todos os dias Zefa desce a cidade depois da luta do comboio e de dois candonguei­ros que lhe levam parte do seu salário. Para voltar para a casa, a mesma coisa. » Breves contos cujos temas gravitam à volta da liberdade feminina, do amor, do sentido da dor, da violência doméstica, da teologia prosperida­de e da gestão da capital de Angola com algum labor estético.

É, portanto, um livro de 3 estrelas.

* Professor & Ensaísta

Oactivista não poderia ser mais assertivo ao afirmar: “Há um sentimento que começa a preocupar a mim e acredito que mais pessoas também. A preocupaçã­o reside no novo tipo de sociedade que se está a erguer, aonde os líderes políticos já existem e os outros não servem, aonde os que vão salvar Angola já existem e só deve ser aqueles, aonde a democracia é só para uns e os outros não podem levar essa bandeira porque supostamen­te esse é já um dado adquirido para os únicos donos da democracia, aonde iniciativa­s vindas de outros cidadãos são arrolados como projectos fracassado­s, vendidos, satélites etc. Será que não deve haver mais iniciativa­s que mereçam o apoio da sociedade angolana que muito precisa da pluralidad­e de vozes e instrument­os? Estamos insensívei­s as mudanças e a construção de um Estado novo, onde cada um de nós pode ter a sua livre iniciativa e contribuir para o bem de todos. O que mais preocupa é que até a nossa geração que criou o slogan “A nossa geração não pode falhar” é ela que se atira contra as pequenas iniciativa­s, preferindo assim continuar na mesmisse, por não pertencer ao grupo que trás uma ideia nova ao país. Continuamo­s a acalentar as noites frias dos nossos kotas que conhecem as razões do nosso sofrimento e que nunca lutaram entre eles, pelo contrário, nós é que lutamos entre irmãos por conta de problemas que não sabemos a essência. Com esses sinais que vejo desta geração, se não melhorar a visão sobre aquilo que os outros pensam e saberem que os termos como: vendidos, candonguei­ros, satélites, bufos do regime etc, sempre serviram para nos dividir e não haver nunca concertaçã­o entre nós, estamos de facto condenados ao fracasso e pelos piores motivos. Esta é uma reflexão que gostaria de apelar a nossa geração a fazer. MBOTE

BA YAYA”.

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