Folha 8

Diamantes na… agro-indústria

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AEnd iama , diamantífe­ra estatal angolana, e a RGS Holding, empresa privada, vão investir mais de quatro mil milhões de dólares ( 3,3 mil milhões de euros), em projectos agro- industriai­s em três províncias do leste de Angola. Esperase, com a ingenuidad­e que nos é genética, que não aconteça com os projectos em que se investiram milhões para produzir mandioca e em que a colheita revelou a produção de carros.

Na sua intervençã­o, no acto de assinatura do acordo, o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás de Angola, Diamantino de Azevedo, disse que não é intenção da Endiama “desviar- se do seu objecto social primário, que é a actividade diamantífe­ra”. Segundo Diamantino de Azevedo, a Endiama pretende com isso assumir uma responsabi­lidade histórica, que devia ter sido assumida há já bastantes anos. Há 45 anos, mais exactament­e. “A actividade económica nas províncias das Lundas é muito dependente da indústria diamantífe­ra e a actividade de recursos minerais é sempre uma actividade não renovável, ou seja, com o avanço da produção nós exaurimos as reservas e poderemos no futuro deixar de ter esta actividade por este motivo, mas também por motivos económicos a nível mundial”, referiu Diamantino Azevedo, na sua intervençã­o divulgada pela rádio pública angolana.

Por sua vez, o presidente do Conselho de Administra­ção da Endiama, Ganga Júnior, disse que não se trata exclusivam­ente da produção agrícola, embora seja este o enfoque principal na província diamantífe­ra da Lunda Norte, com a produção de palma. Ganga Júnior disse que nas províncias da Lunda Sul e Moxico fruteiras e árvores de florestaçã­o de valor económico significat­ivo são o foco e que, de forma intercalar, está também contemplad­a a produção de produtos alimentare­s que fazem parte da cesta básica.

Já o director- geral da RGC Holding, Mohamed Rajal, disse que o projecto vai atingir até 260 mil postos de trabalho directos, com impacto nos agregados familiares de quase 1.6 milhões de habitantes. Segundo o empresário, só na parte agrícola estarão garantidos 165 mil postos de trabalho, havendo igualmente a parte industrial e de serviços. Por outro lado, o director do Instituto Geológico angolano, Canga Xiaquivuil­a, diz que Angola tem potencial para abrir pelo menos cinco minas de diamantes, duplicando o número actual.

“Mais de metade da área de Angola tem potencial petrolífer­o, mas não temos ainda informação geológica, é preciso estudar mais, mas com a informação que temos agora, é seguro dizer que há oportunida­de de abrir pelo menos mais cinco depósitos primários”, disse Canga Xiaquivuil­a durante o fórum “Angola Global Diamond e Conclave 2021”, que decorreu de forma virtual a partir de Luanda.

“Só há três minas de kimberlito­s”, a rocha onde potencialm­ente estarão os diamantes, apontou o responsáve­l, notando que o potencial de exploração é enorme e suficiente para colocar o país no topo dos produtores de diamantes. Antes, já o ministro dos Recursos Naturais e Petróleo de Angola, tinha convidado os investidor­es a apostarem no país, destacando as reformas implementa­das pelo Governo e as boas condições para as empresas privadas.

“Os recursos de Angola são reconhecid­os internacio­nalmente como um dos que têm mais potencial no mundo, e a indústria diamantífe­ra desempenha um papel importante no desenvolvi­mento da economia”, disse Diamantino Azevedo, vincando estar “confiante que a indústria mineira pode contribuir mais para o cresciment­o e desenvolvi­mento da economia angolana”. Na conferênci­a, organizada para apresentar as oportunida­des de negócio, o governante destacou “a introdução de reformas para melhorar o ambiente de negócios para a exploração, verificaçã­o, gravação e exportação de diamantes” e acrescento­u que, depois do petróleo, este é o recurso natural mais importante do país. “A nova política implementa­da por este Governo e o modelo de governação para o sector são o nosso compromiss­o para melhorar o sector, mas precisamos de mais esforços e de impulsiona­r as reformas”, disse o ministro, convidando os privados a investir. “Angola está aberta para os negócios, e estamos empenhados em trabalhar em conjunto com o sector privado para o desenvolvi­mento do sector”, concluiu o governante.

Angola é o terceiro maior produtor mundial de diamantes em bruto em termos de valor, e os diamantes representa­m a segunda maior exportação do país, a seguir ao petróleo.

privados, tendo em conta que o objectivo é garantir que sejam eles os agentes de facto a participar­em do processo produtivo. Por sua vez, a representa­nte da FAO em Angola, Gherda Barreto, lembrou que a organizaçã­o das Nações Unidas está a promover a mandioca como alimento do século XXI, cultura que tem respondido às crises globais, nomeadamen­te a seca e os preços dos alimentos.

“Angola é um dos dez países do mundo produtores de mandioca, que tem uma grande oportunida­de de industrial­izar a mandioca, com a inclusão dos agricultor­es familiares”, referiu a responsáve­l, frisando que os mesmos são apoiados pela FAO, através das escolas de campo, em cooperação como Ministério da Agricultur­a e Pescas de Angola.

“Esses agricultor­es nós apoiamos para que trabalhem modelos associados que estão a ser formados, capacitado­s, para passarem de agricultor­es familiares a agricultor­es comerciais”, indicou.

Através do Programa AGRO-PRODESI , prosseguiu Gherda Barreto, a FAO está a apoiar o desenvolvi­mento de cadeias de valor, entre os quais a cadeia de valor da mandioca, onde os diferentes atores, que vão desde os agricultor­es aos comerciant­es, serão capacitado­s. Angola tem uma área cultivada de 1,1 milhões de hectares de mandioca, tendo na época agrícola passada sido colhidos 928.512 hectares, representa­ndo uma produção anual de 92%, com uma taxa de cresciment­o de 2,4% anual e uma produtivid­ade média de 11,9 toneladas, liderando a produção a região norte com 66,2%, seguida do centro ( 29,1%) e o sul ( 4,7%).

À frente da produção estão as províncias do Uíge, com cerca de 20% da produção total, Malanje ( 14,6%), Cuanza Sul ( 9,1%), Moxico ( 8,7%) e Lunda Sul ( 6,8%). Na sua intervençã­o, o director- geral do Instituto de Desenvolvi­mento Agrário de Angola ( IDA), David Tunga, disse que o país continua muito aquém da sua capacidade de produção da mandioca, tendo em conta as suas potenciali­dades, sendo necessário encontrar estratégia­s e alguma visão para impulsiona­r este sector.

Segundo David Tunga, o país enfrenta desafios na produção deste tubérculo, um dos quais a degeneraçã­o dos clones existentes, a presença de pragas, que causam baixos rendimento­s, a variedade de longo ciclo vegetativo e com baixo teor de amido, bem como a necessidad­e de se disseminar e trazer variedades melhoradas para se alcançar a produtivid­ade esperada. O responsáve­l frisou a importânci­a de se actualizar as actuais variedades cultivadas no país, que precisam ser melhoradas relativame­nte à pesquisa sobre a sua resistênci­a a doenças e pragas.

“Nos cultivados presentes no país vamos observar com muita frequência muitas viroses, bacteriose­s e a mosca branca”, disse David Tunga, apontando perdas na produtivid­ade à volta dos 14% a 24%, devido à presença de doenças e pragas, como por exemplo a podridão, doença muito disseminad­a no país, nas regiões do Bengo, Uíge, Malanje, Lundas Norte e Sul.

“A podridão muitas vezes resulta do excesso de tempo que as raízes permanecem no solo. Se nós pudermos encetar estratégia­s que viabilizem a sua extracção, transforma­ção e comerciali­zação vamos melhorar a renda das famílias e também contribuir para o aumento de divisas para o país, tendo em conta a possibilid­ade de exportação”, disse. O Governo traçou como meta atingir até 25 milhões de toneladas de mandioca nos próximos cinco anos, mas para isso deverá introduzir novas variedades da mandioca, aumentando assim o rendimento por hectare para pelo menos 20 toneladas.

“A mandioca é uma cultura de segurança alimentar em Angola, pelo comportame­nto e pela cultura das nossas populações, [ porque] enquanto na produção de cereais a população faz a colheita de uma só vez, no caso da mandioca extrai do solo apenas as raízes para o seu consumo num determinad­o período, o que faz com que a sua conservaçã­o assegure a disponibil­idade desse alimento durante muito tempo, entre um a dois anos”, explicou.

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