Folha 8

Eleições? Sim, desde que o MPLA continue a ser o dono do reino

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AUNITA, o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite que exista em Angola, entende que “ainda não estão criadas as condições” para que os angolanos façam prova de capacidade eleitoral apenas com base no bilhete de identidade, como pretende o MPLA, e anunciou no dia 15 de Julho de 2021 propostas alternativ­as.

“O regime concebeu duas novas leis para alterar as regras eleitorais e garantir a manutenção do poder”, acusa UNITA num comunicado referindo- se às propostas de alterações apresentad­as pelo MPLA, o partido no poder há quase 46 anos, às leis do Registo Eleitoral Oficioso e da Lei Eleitoral para discussão e aprovação, mais do que garantida pela maioria dos autómatos que o MPLA tem no Parlamento. O principal partido da oposição angolana sustentou que a proposta de lei do MPLA “quer excluir do registo aqueles que não têm bilhete de identidade”, mas entende que “ainda não estão criadas as condições que permitem que todos os angolanos votem só com base no bilhete de identidade”.

“Mesmo lá onde existem instalaçõe­s dos serviços de Identifica­ção Civil nem toda a gente vai ter bilhete de identidade em tempo útil” para as eleições gerais em 2022, avisou a UNITA no mesmo texto. Isto, acrescente- se, se o MPLA entender que teremos eleições em 2022. E esse entendimen­to depende de o partido liderado por João Lourenço saber, antes das eleições, qual será a percentage­m da sua vitória.

“Não conseguira­m em 2010, não conseguira­m em 2017, e agora, em 2021, as dificuldad­es continuam, por isso, defendemos que ainda devem ser feitas campanhas massivas de registo presencial e de actualizaç­ão da residência das pessoas para que todos tenham também o cartão de eleitor”, propõe o partido do Galo Negro, anunciando que apresentar­á à Assembleia Nacional propostas de alterações legislativ­as alternativ­as às do MPLA. É claro que o MPLA está disposto a aceitar as alterações sugeridas pela UNITA desde que… E desde que significa… Desde que continue a ser o vencedor e – mais do que isso – saiba de forma inequívoca e antecipada os resultados. “Assim, todos poderão votar, ou com o bilhete de identidade ou com o cartão de eleitor”, sublinhou a UNITA, apelando a que o Parlamento do MPLA agende para discussão as propostas de lei que a UNITA apresentou com “a mesma celeridade com que foram agendadas as propostas dos (…) colegas do MPLA”.

A UNITA afirma ainda que “milhares de angolanos foram excluídos do processo eleitoral em 2012 e em 2017 por causa de alegados erros na base de dados do registo eleitoral” e que esses erros “ainda não foram corrigidos”.

“Só poderão ser corrigidos se o Governo publicar estes dados com antecedênc­ia”, sustentou o partido da oposição, recordando que “a lei manda que todos os anos o Governo envie estes dados à Comissão Nacional de Eleições ( CNE) até Novembro”. Mas, convenhamo­s, para quê mandar dados à CNE se esta é uma sucursal ( por sinal das mais caninas) do MPLA?

Ora, “desde as eleições de 2017, já se passaram quatro anos e, pelo que sabemos, o Governo nunca enviou estes dados à CNE. Se enviou, seria bom tornar público para que os cidadãos possam confirmar se a sua área de registo correspond­e de facto ao local de sua residência habitual e não a outra qualquer”, afirmase no comunicado.

Por isso, e neste contexto, a UNITA está a propor na lei que seja aberto um período especial, de Agosto a Dezembro do ano corrente, “para que todos possam confirmar que a sua área de registo e de votação correspond­e ao local de residência habitual”.

“A ideia de que cada um escolhe onde quer votar, como pretende o MPLA, não protege os direitos do cidadão, porque facilita as manobras de exclusão, aliás, contraria o princípio da permanênci­a do registo, constituci­onalmente consagrado”, acusou a UNITA.

“O cidadão deve votar sempre na mesma assembleia de voto, na sua área de residência. Só muda se ele mudar de residência, e só ele deve comunicar que mudou de residência. O Estado não o pode colocar numa área onde não reside”, sustentou ainda o partido. Ai não pode! Se o MPLA até pode ter em algumas secções mais votos do que eleitores inscritos, se até pode fazer com que os mortos votem, o melhor mesmo é aceitar que o MPLA é Angola e Angola é do MPLA. Em relação ao registo eleitoral dos cidadãos angolanos no exterior do país, a UNITA propõe que os “órgãos competente­s da Administra­ção Pública (…) devem criar as condições logísticas e administra­tivas para que os cidadãos residentes no exterior e não inscritos na Base de Dados de Identifica­ção Civil promovam o seu registo eleitoral presencial, junto dos postos de registo”. Entre as várias críticas que apresenta à proposta de alteração à lei eleitoral do MPLA, a UNITA sublinha que o texto do partido no poder “manifesta uma intenção clara de agredir a soberania popular e violar o Estado de direito, impondo pela força a sua vontade”.

“Isto fica claro quando lemos que o Partido Estado pretende revogar o artigo 110. º que proíbe a presença de qualquer força armada nas assembleia­s de voto, até um raio de distância de 100 metros. O MPLA quer eleições com tropa armada nas assembleia­s de voto. Quer intimidar o povo. Quer violar os direitos humanos. Quer impedir que as eleições sejam livres e justas”, acusou a UNITA. O parlamento do MPLA aprovou na globalidad­e no passado dia 22 o projecto de lei de revisão constituci­onal com 152 votos favoráveis do MPLA e de alguns deputados na oposição, nenhum voto contra e 56 abstenções da UNITA e da CASA- CE. O projecto de lei de revisão constituci­onal emerge da proposta de revisão parcial da Constituiç­ão, apresentad­a pelo Presidente angolano, João Lourenço.

As eleições gerais, de acordo com o diploma aprovado na generalida­de, realizamse, “preferenci­almente, durante a segunda quinzena do mês de Agosto” do ano em que terminam os mandatos do Presidente da República e dos deputados, cabendo ao Presidente da República definir a data. As últimas eleições gerais angolanas decorreram em 23 de Agosto de 2017.

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