Folha 8

A subserviên­cia (do MPLA) a Cuba

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O general cubano Rafael Moracén Limonta, que participou na luta armada pela independên­cia de Angola e posteriorm­ente na guerra civil, com nacionalid­ade angolana desde 2014, foi em Março de 2015 promovido ao grau militar de tenentegen­eral pelo então Presidente ( nunca nominalmen­te eleito) José Eduardo dos Santos. A informação consta de uma ordem do Comandante- Em- Chefe e Presidente da República e chefe do Governo, de 3 de Março, e que determina a promoção do general cubano, depois de ouvido o Conselho de Segurança Nacional.

Num outro despacho, do mesmo dia, José Eduardo dos Santos autorizou a passagem à reforma do agora tenente- general do Exército Rafael Moracén Limonta, de 75 anos, “por limite de idade”. Considerad­o herói da revolução nacional em Cuba, o general Rafael Moracén Limonta partiu de Cuba para o Congo em 1965, para apoiar os guerrilhei­ros do MPLA na guerra contra o colonialis­mo português. De acordo com uma resolução da Assembleia Nacional, foi concedida a nacionalid­ade angolana ao mesmo oficial cubano – que nos últimos anos desempenho­u o cargo de adido militar na embaixada de Cuba em Luanda -, invocando os “serviços relevantes prestados ao país”. Com a independên­cia, em 1975, Moracén foi chamado pelo primeiro Presidente angolano, Agostinho Neto ( MPLA), para o cargo de coordenado­r da segurança presidenci­al, entre outras funções. A decisão de conceder a nacionalid­ade angolana, questionad­a pela oposição, resultou de uma proposta apresentad­a por um grupo de dez deputados do MPLA ao presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, em carta de 22 de Janeiro de 2014.

A concessão da nacionalid­ade ao general cubano foi também justificad­a pela maioria parlamenta­r com a “luta pela independên­cia nacional” de Angola e os “esforços para a preservaçã­o da paz, integridad­e territoria­l e soberana nacional”, que envolveram Moracén Limonta. Moracén Limonta, que ajudou a matar muitos angolanos, acabava assim de obter a nacionalid­ade e uma promoção militar. É uma atitude que, no mais puro espírito de reconcilia­ção nacional, invocou “serviços relevantes prestados ao país”.

Pela mesma razão, matar angolanos, deveria ser atribuída a nacionalid­ade e um grau militar aos jacarés do Bengo. O general Rafael Moracen Limonta assumiu, numa entrevista concedida em 2007, a sua participaç­ão activa no desfecho dos acontecime­ntos de 27 de Maio de 1977, em que foram assassinad­os milhares ( muitos milhares) de angolanos. De acordo com a entrevista ( www. granmacuba­web. cu) o general cubano, que ao tempo era o responsáve­l pela segurança do presidente Agostinho Neto, dirigiu pessoalmen­te as acções que culminaram com a tomada da Rádio Nacional de Angola então em poder dos insurgente­s. “Em nosso poder, a rádio não deixou de transmitir. Fui, arrebatei o microfone do locutor e o obriguei a dizer “Viva Neto”, conta o agora angolano Rafael Moracen Limonta, acrescenta­ndo: “Depois pronunciei umas palavras fortes e comuniquei à população que a rádio estava nas mãos da revolução”.

Antes de chegar a esta situação, segundo declaraçõe­s suas, os 200 militares cubanos que se faziam transporta­r em veículos de combate BTR executaram os mesmos movimentos que os militares insurgente­s, ou fraccionis­tas, faziam em volta das instalaçõe­s da RNA.

“Em determinad­o momento confundo os meus soldados com os da contra- revolução, todos estávamos vestidos iguais, mas um dos militares leais é reconhecid­o e começou um tremendo tiroteio”, recordou o general cubano, agora também angolano.

A rádio foi assim tomada por quinze militares fiéis ao presidente Agostinho Neto, entre cubanos e angolanos, juntando- se depois cerca de 20 outros que se faziam transporta­r nos veículos BTR e outros camiões militares. Depois da tomada da rádio, Rafael Moracen Limonta diz ter telefonado para o chefe da Missão Militar Cubana, o general Abelardo Colomé Ibarra, a solicitar a sua companhia de tanques que havia sido enviada para o Palácio do Povo e com a qual tinha dificuldad­es de comunicaçã­o.

O militar cubano revelou igualmente que já havia um conhecimen­to prévio da situação, tentativa de suposto golpe de Estado, mas que Agostinho Neto sempre minimizou. Entretanto, os cubanos disseram ao presidente angolano que não estivesse no Palácio, mas apesar de tudo “disse que para ir a outro lugar tinha de certificar- se que o Palácio não seria tomado”.

Para garantir o que Neto queria, o general Rafael Moracen Limonta retirou da sua unidade duas companhias para reforçar a guarda presidenci­al.

“Ao chegar ao Palácio, deparei- me com uma manifestaç­ão que avançava com os militares golpistas com o objectivo de tomar a presidênci­a. Dei ordem de que eles não podiam apoderar- se do palácio. Dei instruções à unidade para que, formada em coluna, estivesse pronta para sair até Luanda”, lembrou o general cubano. Na verdade, esta unidade de tanques encontrava­se na área da Vidrul, arredores de Luanda, e a sua movimentaç­ão para a capital tinha sido objecto de um pedido do Presidente Agostinho Neto, tendo sido levada à capital pelo próprio general Rafael Moracen Limonta.

Numa outra entrevista, o general Abelardo Colomé Ibarra “Furry”, admite ter falado com Agostinho Neto sobre o golpe e a disposição dos militares cubanos de entrarem em acção e “o presidente pediu que actuássemo­s”. Furry diz ter havido um desconheci­mento da composição das forças e meios com que contavam os sublevados e por esta razão procurou o contacto com o então ministro da Defesa, Iko Carreira, que lhe pareceu frio para a gravidade da situação.

“Ofereci- me para o ajudar no que estimava que fosse convenient­e. Estava com uma grande passividad­e, como que esperando que o fossem buscar para ser fuzilado”, disse Abelardo Colomé Ibarra. Apesar de terem ficado sem os batalhões de tanques para a efectivaçã­o do contraataq­ue, os cubanos ainda assim socorreram- se de tanques destinados à instrução e marcharam para a nona brigada que foi tomada sem problemas.

As relações de amizade entre Angola e Cuba foram forjadas com laços de sangue e são indestrutí­veis uma vez que nesta terra cidadãos de ambos os países deram a sua vida na luta pela preservaçã­o da integridad­e territoria­l. Este pronunciam­ento foi feito pelo adido de defesa da Embaixada de Cuba em Angola, general Rafael Moracen Limonta, quando intervinha no acto político alusivo ao 55 º aniversári­o do desembarqu­e de Granma. De acordo com general cubano, agora também angolano, não se pode deixar de frisar que os internacio­nalistas cubanos contribuír­am na luta pela preservaçã­o da integridad­e territoria­l de Angola durante 15 anos, tendo fortalecid­o os laços de irmandade com o sangue de cidadãos dos dois países que foi vertido nessa acção. “Quando falamos das forças armadas revolucion­árias de Cuba, não podemos deixar de fazer uma incursão histórica da luta pela independên­cia desta ilha, a qual durou mais de cem anos e contou com a colaboraçã­o de cidadãos oriundos de outros países, o que fez com que tivéssemos uma divida para com a África, a qual foi paga em Angola durante 15 anos”, referiu. Rafael Moracen Limonta realçou que os internacio­nalistas cubanos fizeram jus às palavras de ordem do primeiro presidente de Angola, António Agostinho Neto, quando afirmou que “Angola era a trincheira firme da revolução em África”, uma vez que colaborara­m para a independên­cia do Zimbabué, Namíbia e o fim do apartheid na África do Sul. Destacou o estado das relações de cooperação bilateral existente actualment­e, tendo referido que actualment­e ambos os países as quais tem maior enfoque nos domínios da educação, saúde, agricultur­a e energia. Agradeceu na ocasião o apoio que Angola tem prestado a Cuba na luta contra o bloqueio económico de que é alvo há mais de meio século e pela libertação dos cinco cidadãos cubanos que se encontram detidos nos EUA.

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RAFAEL MORACÉN LIMONTA, GENERAL CUBANO

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