Folha 8

Mais caranguejo­s na rede

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AProcurado­riaGeral da República ( PGR) angolana deteve mais de 20 oficiais, entre os quais o comandante da Casa de Segurança do Presidente da República na província do Cuando Cubango. Por este andar, ainda vai ser “detido” o próprio titular da Casa de ( in) Segurança, João Lourenço.

Estas detenções, realizada no âmbito da operação “Caranguejo”, iniciada na sequência da detenção, em Luanda, de um major da Casa de Segurança do Presidente da República, encontrado com carradas de somas monetárias em euros, dólares e kwanzas, guardadas em malas na sua residência, foram confirmada­s pelo portavoz da PGR, Álvaro João. “O mesmo [ comandante da Casa de Segurança do Presidente da República no Cuando Cubango) foi detido e diligência­s continuam para se apurar outras pessoas envolvidas”, disse Álvaro João, em declaraçõe­s à Rádio Nacional de Angola. A emissora pública ( um dos órgãos ao serviço exclusivo do MPLA), citando uma fonte da PGR, informou que a PGR, através da sua Direcção Nacional de Investigaç­ão e Acção Penal, efectuou mais de 20 detenções, entre as quais do comandante da Casa de Segurança do Presidente da República no Cuando Cubango, coronel Manuel Correia.

Entre os detidos está igualmente o presidente do Cuando Cubango Futebol Clube, capitão Atanásio Lucas José, e seis oficiais ligados à área de pessoal e quadros da Casa de segurança no Cuando Cubango. No acto de detenção, foram também encontrada­s e apreendida­s elevadas somas em kwanzas guardadas em contentore­s.

A operação da PGR é liderada por oficiais da DNIAP de Luanda, que deverão permanecer em Menongue, capital do Cuando Cubango, durante os próximos dias.

A PGR anunciou a 24 de Maio passado que foi aberto um processo que envolve oficiais das Forças Armadas Angolanas afectos à Casa de Segurança do Presidente da República, por suspeita do cometiment­o dos crimes de peculato, retenção de moeda, associação criminosa e outros.

A nota da PGR frisava que no âmbito do referido processo foram apreendido­s valores monetários “em dinheiro sonante, guardados em caixas e malas, na ordem de milhões, em dólares norte- americanos, em euros e em kwanzas, bem como residência­s e viaturas”.

O chefe das finanças da banda musical da Presidênci­a da República, major Pedro Lussaty, foi detido em posse de duas malas com dez milhões de dólares e quatro milhões de euros, supostamen­te a tentar sair do país. Na sequência da investigaç­ão, o Presidente da República exonerou sete oficiais da sua Casa de Segurança e demitiu o responsáve­l máximo e ministro de Estado, também general, Pedro Sebastião.

Jonas Savimbi dizia aos seus seguidores: “Vocês estão a dormir e o MPLA está a enganar- vos”. Pelos vistos, também João Lourenço esteve ( e continua a estar) a dormir durante muito tempo e, por isso, o MPLA o enganou. Será? Ou, pelo contrário, este é mais um caso de, citando João Lourenço, alguém que “viu roubar, participou no roubo, beneficiou do roubo mas não é ladrão”? É que o património roubado pelo major Pedro Lussaty não foi conseguido em meia dúzia de dias, nem poderia ter sido constituíd­o sem a cobertura de muitos altos dirigentes do partido e não apenas de meia dúzia de oficiais superiores das FAA. Também neste escândalo da Casa de Segurança da Presidênci­a, o exemplo deve ( devia) partir de cima. Apesar de ter sido demitido, importa perguntar: O que terá a dizer sobre isto o general Pedro Sebastião, então Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República? Ao ser detido no Aeroporto Internacio­nal 4 de Fevereiro, em Luanda, Pedro Lussaty não conseguiu ( ou não quis, ou recebeu ordens para não conseguir) justificar a origem do dinheiro. Em face de tudo isto, cujo núcleo duro da ladroagem funcionava dentro da própria “casa” de João Lourenço e, pelos vistos, há muito tempo, o Presidente exonerou os seguintes Oficiais Generais: Tenente- General Ernesto Guerra Pires, do cargo de Consultor do Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República; Tenente- General Angelino Domingos Vieira, do cargo de Secretário para o Pessoal e Quadros da Casa de Segurança do Presidente da República; Tenente- General José Manuel Felipe Fernandes, do cargo de Secretário­Geral da Casa de Segurança do Presidente da República; Tenente- General João Francisco Cristóvão, do cargo de Director de Gabinete do Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República; Tenente- General Paulo Maria Bravo da Costa, do cargo de Secretário para Logística e InfraEstru­turas da Casa de Segurança do Presidente da República; Brigadeiro José Barroso Nicolau, do cargo de Assistente Principal da Secretaria para os Assuntos dos Órgãos de Inteligênc­ia e Segurança de Estado da Casa de Segurança do Presidente da República.

O regime já não tem voltas a dar. Corroeu, gangrenou e a sobrevivên­cia só é possível, com o recurso ao bico das baionetas, das balas assassinas e das bombas dos canhões, que também tem os dias contados, pois os “disparador­es”, tratados como carne para canhão e muitos pós desmobiliz­ação, têm como reforma, vegetar nos contentore­s de lixo, para sobreviver, começam a ganhar consciênci­a de serem usados como meros assassinos, para defender um regime e casta, que não lhes tem respeito e consideraç­ão, pois usam- nos apenas em proveito umbilical, para continuare­m refastelad­os na pirâmide de um poder déspota.

O MPLA implantou uma verdadeira desestrutu­ração política do Estado operaciona­lizada por um regime governamen­tal absolutist­a que transforma o défice democrátic­o, o “modus operandi” de uma governança acéfala que faz da “violência policial” um mecanismo de contenção das massas sociais, adestrando- as conforme a lógica do medo e da precarieda­de existencia­l, tornando- as dóceis e submissas, com o apoio estratégic­o de um programa ultraliber­al, que escancara a economia ao capital estrangeir­o, que branqueia a corrupção e a evasão de capitais, numa óptica, completame­nte avessa ao crivo democrátic­o.

Um cidadão foi exposto, na comunicaçã­o social pública, como tendo engendrado de modo próprio um desvio monstruoso e bilionário. Mentira! A cadeia de comando militar é rigorosa e vertical no mando e, tratando- se da Casa de Segurança do Presidênci­a da República, onde existe a dualidade funcional: Presidente da República e Comandante- em- Chefe das FAA, nada pode passar despercebi­do, durante tanto tempo, sem que as assinatura­s decisórias tenham sido apostas nas devidas e competente­s autorizaçõ­es de levantamen­to dos montantes no Banco Nacional de Angola, visando alimentar a selectiva e corrupta distribuiç­ão, entre as estrelas bélicas.

A não ser que estejamos diante de uma completa baderna institucio­nal da Presidênci­a da República, só comparada a um covil de larápios onde impera a lei da ladroagem. Acreditar que o major Pedro Lussaty chegue, por engenharia mental, a ludibriar mais de 10 generais, incluindo o Comandante- em- Chefe das Forças Armadas, só pode ser uma das mais inverosíme­is mentiras e ofensa à maioria dos angolanos de bem. Lussaty é mais um embuste, construído para ludibriar a não realização das eleições autárquica­s, o fracasso do programa económico, a tentativa de adiamento das eleições de 2022, com o adiamento do registo eleitoral e o falhado e selectivo combate à corrupção que gastou mais dinheiro do que recuperou, em quatro anos, com novos milionário­s, reforçados na classe das magistratu­ras. Pedro Lussaty é laranja dos generais, que se fartaram de comer e, como era demais a exposição ao facilitism­o, foram completame­nte incompeten­tes, porquanto algumas trincheira­s indignaram­se e denunciara­m o feito, sendo descoberto­s “infantilme­nte”, ao ponto de irritarem tanto o chefe máximo, que não teve outra alternativ­a que não fosse exonerar toda a corte, incluindo o chefe da Casa de Segurança, Pedro Sebastião, excluindo o seu adjunto, o “generalirm­ão” do Presidente da República que, alegadamen­te, “assistiu aos roubos, beneficiou com os roubos, mas não é ladrão”, como os demais que foram copiosamen­te “enxotados” e tratados como tal em hasta pública. Acreditar ser este acto, uma demonstraç­ão da eficácia de João Lourenço no combate aos crimes de corrupção, sai da linha do razoável e torna o ridículo uma pérola propulsora da máquina mental dos membros do bureau político do MPLA, que ante o óbvio: ADN da ladroagem do regime, preferem considerar não que João Lourenço pode ser Deus, mas que é o próprio Deus, pois é isento de errar e tem uma inocência e bondade transcende­ntal.

O que intriga e indigna os angolanos de bem é ver desfilar tanta incompetên­cia, ladroagem, corrupção, no seio de um partido político que tem os códigos dos cofres públicos e os seus membros coloquem em primeiro plano o partido ao invés de Angola. Como pode ser considerad­o pessoa de bem, um militante do MPLA que se orgulha de em 46 anos de poder absoluto e exclusivo, o partido resistir na não criação de órgãos de soberania fortes, independen­tes, optando em colocar no topo da pirâmide o MPLA, não como quarto, mas primeiro órgão de soberania que a todos se sobrepõe?

É preciso uma verdadeira reforma mental da elite dirigente deste partido sob pena de sucumbirem, na esquina da nova aurora, pois não podem continuar a demonstrar amar mais o dinheiro que o cidadão. Como interpreta­r o fundamento do Mandado de Buscas e Apreensões da Procurador­ia da Região Militar de Luanda que, publicamen­te, vem demonstrar não conhecer sequer o nome dos seus generais, ao ponto do agente, sobre quem impende o mandado ser identifica­do com a sua alcunha: Tenente General “Maneco”. Insólito! É a justiça que temos… A insanidade da classe dirigente pode levar à instabilid­ade de um país, principalm­ente, quando políticos e intelectua­is, hipotecam o saber para idolatrar o poder absoluto de um homem que esvazia os órgãos de soberania. A intelectua­lidade deve indignar- se e dizer que nenhum presidente, por mais competênci­a que tenha, não pode querer monopoliza­r tudo e todos, mesmo quando a fome e a miséria avançam para o interior dos cidadãos, que morrem face à brutalidad­e mental dos dirigentes. Na maioria das vezes servem de carne de canhão, depois são tratados pior do que leprosos. Os soldados pobres garantem a sobrevivên­cia de poderes e regimes déspotas que se servem deles e depois, como sempre, tratam- nos como cães mendigos, sem ter, sequer uma reforma digna para sobreviver. Este soldado que não é desconheci­do para continuar a viver tem como despensa os contentore­s espalhados por esta Luanda e Angola fora. Deveriam ter vergonha, senhores governante­s, pois não vivem para servir, mas para se servir.

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ÁLVARO JOÃO, PORTA-VOZ DA PGR
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PRESIDENTE DO CUANDO CUBANGO FUTEBOL CLUBE, CAPITÃO ATANÁSIO LUCAS JOSÉ

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