UMOJA, A COMUNIDADE DO MULHERISMO
O CICLO DA FRAUDE ACADÉMICA NO SISTEMA DE EDUCAÇÃO E ENSINO EM ANGOLA
No campo das abordagens do género, com o passar do tempo, surgiram vários conceitos sobre o feminismo, mas um facto é certo entre as feministas e os feministas: no mundo, há desigualdade social, económica e, o amigo que tece esta reflexão acrescentaria, artística entre os homens e as mulheres.
Tendo em conta as especialidades geográficas e sociais, concebe-se um grupo de feminismos. Dos feminismos, destacamos aqui o Feminismo Liberal, que procura promover a igualdade social entre homens e mulheres através das instituições e de forma gradativa; o Feminismo Marxista ou socialista que, segundo a feminista Viviana, investiga e explica como o capitalismo e a propriedade privada oprimem as mulheres; o Feminismo Interseccional, que procura transmitir a ideia das particularidades que existem no seio das mulheres das diferentes “raças” e classes; o Feminismo Radical ou Radfem, que é contra os papéis sociais atribuídos às mulheres e aos homens com base nos géneros; o Feminismo Negro e, o que aqui nos interessa, o mulherismo, que procura promover a igualdade social, política e económica entre homens e mulheres de todas as “raças” e classes, porque, nas lentes dos que fazem apologia ao mulherismo, a mulher dita negra é rebaixada não só por ser mulher, mas, também, por ser negra.
Ora, podemos ampliar a noção do mulherismo para nele incluirmos as experiências e os problemas do quotidiano das mulheres pertencentes às minorias étnicas. Provavelmente, sem conhecer estes acesos debates que surgiram dentro dos últimos cinco séculos, com eventos de escravização, colonização, capitalismo e revolução industrial, que se intensificam com as palavras de Mary Wollstonecraft em “Reivindicação pelos Direitos das Mulheres” (1792), com o discurso «Ain’t I a Woman?» (1951), da afro-americana Sojourner Truth (17971883), no Quénia, Rebecca Lolosoli e mais 14 mulheres maltratadas pelos maridos e inferiorizadas pelos membros da sociedade onde viviam «colocaram a mão na massa» e criaram a sociedade Umoja numa zona meio desértica do Quénia.
Pelo modus vivendi e operandi dos seus cidadãos, entendemos que Umoja seja uma comunidade matriarcal e mulherista. Rebecca Lolosoli, a líder, explica que a unidade lexical que dá nome à comunidade, «umoja», nas línguas ocidentais equivale a «unidade» ou «união». As mais de noventa mulheres que vivem na comunidade Umoja ensinam as raparigas a viver livremente, a não dependerem dos homens e a lutarem contra todas as formas de violência contra a mulher e contra todas as práticas culturais negativas, como o caso da mutilação genital, estupro e casamento forçado.
Umoja sofreu ataques de machistas que criaram comunidades circunvizinhas para impedirem os turistas de lá chegarem e comprarem os artefactos feitos pelas senhoras e que serve de «ganha pão» para a sobrevivência da comunidade. Todavia, com os valores monetários angariados pela venda de produtos artísticos manufacturados, a líder Rebecca Lolosoli e as suas símiles escreveram uma carta ao governo do Quénia e compraram toda a região, o que fez com que todos os homens malfeitores que ameaçavam a vida das umojianas e dos poucos umojianos fossem afastados daquela região.
Há uma espécie de constituição em Umoja. Segundo as regras, os rapazes vivem na comunidade até os seus 18 anos. Depois dos 18 anos, os homens só ficam na comunidade caso prometam cumprir as regras daquilo que considero «constituição consuetudinária». Dito de outra forma, depois dos 18 anos, só fica em Umoja o homem que aceitar viver de acordo com as leis do matriarcado criadas pela regente Rebecca Lolosoli e as 14 líderes.
Há uma arquitectura rústica em Umoja. As casas lá são feitas de barro e troncos de árvores cuidadosamente cortadas. As senhoras construíram uma escola onde as crianças são alfabetizadas. «Ensinamos as meninas a acreditarem em si enquanto mulheres. Sem terem que depender de homens.», realça Rebecca Lolosoli. À guisa de conclusão, por uma, aconselhamos os governos de todo o mundo a criarem mais programas que promovam a igualdade social, política, económica e artística entre os sexos. Por outra, que os pais ensinem os filhos a respeitarem as mulheres e que se deixe as mulheres, desde cedo, desempenharem os mesmos papéis sociais que os homens desempenham para que haja mais oportunidades, mais exercício do poder e mais opiniões das mulheres nas grandes decisões da aldeia global. *Professor & Ensaísta
A fraude académica, essencialmente, é definida como sendo uma prática antiética nos processos de ensino, aprendizagem e desenvolvimento. Trata-se de uma tendência crescente em Angola, sobretudo, quando referente aos trabalhos académicos, científicos e literários. Globalmente, considerada como crime, ela tende a ter formas de fraude artística (muitos potenciais artistas angolanos já caíram nela), fraude científica, intelectual, textual (em forma de plágio). Esta última vem sendo muito frequente em Angola.
Voltando a vaca fria, a situação da fraude registada pelo Gabinete Provincial da Educação de Luanda, leva- me necessariamente a questionar o papel da escola como o espaço formal idealizado para preparar os cidadãos para o exercício de direitos e liberdades, nos marcos da honestidade, democracia e solidariedade. Nesta linha de pensamento, se pode questionar, como construir uma educação capaz de desenvolver no individuo a CHAVE – Conhecimentos, Habilidades, Atitudes, Valores e Ética? Essa deve ser a primeira questãochave, entendendose que a educação actualmente tem como objectivos fundamentais: ( i) a instrução e ( ii) a formação ética.
A situação ocorrida, impele- me, igualmente, a levantar as seguintes questões:
1. Qual é o lugar do Estado, enquanto ente provedor da educação ( desde a Constituição da República, assumindo a educação como uma de suas tarefas fundamentais) no sucedido?
2. Em que medida o modelo adoptado para a avaliação das aprendizagens ( prova escrita e pré- feita) facilita ou não a ocorrência da fraude?
3. Qual é a responsabilidade dos gestores do processo ( Gabinete Provincial da Educação, Gestores das escolas envolvidas, Professores, Inspectores e Supervisores Pedagógicos) na fraude registada?
4. O que terá motivado a ocorrência da fraude e que facilidades terão havido para a mesma, e se podiam ou não ser prevenidas?
5. Até que ponto a repetição das provas de exame poderão garantir a lisura do processo de avaliação ex post?
6. Terão todos os alunos das distintas escolas da província tido acesso às provas antecipadas, e como fica a questão da justiça da medida tomada?
7. Como construir metodologias alternativas de avaliação ao serviço das aprendizagens que não se limitem às provas que estimulam a fraude, memorização e punição dos alunos e alunas? Penso que no contexto de Angola, deverá ser importante adoptar medidas e metodologias diferenciadas de avaliação as competências em contexto de ensinoaprendizagem. Neste sentido, se deverá sempre ter em mente que os saberes fundamentais: ( I) Saber- ser; ( ii) Saberestar; ( iii) Saber- fazer, ( iv) Saber conviver e ( v) saber habitar o mundo; demandam uma aposta na multidisciplinaridade
e transversalidade, numa avaliação que considera os conhecimentos: ( i) factual; ( ii) conceptual; e ( iii) metacognitivo, integrando múltiplos saberes.
Assim, os professores podem, sempre que possível, no desejo de avaliar os seus alunos e alunas considerar as seguintes possibilidades avaliativas:
1. Debate: alunos agrupados se reúnem para discutirem um tema polémico, defendendo uma posição;
2. Philips 66: seis grupos de seis alunos ( ou qualquer outra configuração) discutem uma questão em poucos minutos para apresentar depois suas conclusões. Esta técnica serve para verificar o nível de conhecimentos de uma classe sobre um determinado
3. Tempestade mental: A partir da proposição de um tema, os alunos devem dizer o que lhes vem a cabeça, sem preocupação nem censura mental. Ao professor cabe anotar as ideias e fazer a análise, colectivamente, do que é relevante para prosseguir a aula;
4. Grupo de Verbalização e/ ou Grupo de Observação: Uma parte da classe forma um círculo central ( GV) para discutir um tema, enquanto os demais formam um círculo em volta, para observar ( GO), por exemplo, se os conceitos empregados na discussão estão correctos, se os colegas estão participando, enfim. Após a verbalização, os alunos devem trocar de grupo, numa mesma aula ou numa aula futura.
5. Seminário:
Um aluno ou grupo de alunos é convidado a preparar um tema para apresentá- lo à classe. Esta técnica pode estar numa proposta metodológica de elaboração conjunta ou conversação didáctica, como também de exposição pelo grupo ou aluno.
Essas metodologias alternativas podem ser importantes para diminuir os casos de fraude académica no sistema de educação e ensino; e de forma geral no país. Mas, depois, dever- se- ia tomar uma posição mais firme que consistiria em:
1. Retirar títulos académicos a pessoas, sejam elas políticos e professores com casos comprovados de fraude académica na sua formação;
2. Punir de forma exemplar todos aqueles que enveredam por práticas fraudulentas, começando mesmo, nas instituições do Estado, cujos casos sejam públicos e comprovados;
3. Banir todo o tipo de prática que estimulem a fraude académica, sobretudo o plágio…
* Doutorando em Educação pelo Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal do Paraná