Folha 8

16 ANOS DEPOIS CHEIRA NOVO TÍTULO

- TEXTO DE HÉLDER DIAS

Numa época atípica e com uma realidade fora do comum, devido a um longo período de proibição da entrada de adeptos nos estádios, face às restrições impostas pelo novo coronavíru­s, o Sagrada Esperança pode voltar a ser campeão nacional de futebol, após 16 anos de “travessia no deserto”.

Atrês jornadas do fim do Campeonato Nac iona l ( Girabola ´ 2021), os adeptos do futebol presenciam uma luta cerrada em que são protagonis­tas o 1. º de Agosto, Petro de Luanda e o Sagrada, como que um “gigante” disfarçado, perseguind­o o feito de 2005.

Na verdade, a formação da Lunda Norte, contra todas as expectativ­as, tem sido resiliente entre os 16 participan­tes da prova maior do futebol nacional, de tal modo que lidera com 64 pontos, seguida bem de perto pelo Petro, com 63 pts. O arranque “demolidor” da formação verde e branca já fazia prever um desempenho melhor relativame­nte às últimas 15 edições. Desde o início da prova fixou- se sempre entre os três primeiros da tabela classifica­tiva, alternando a liderança com o 1 º de Agosto, Petro de Luanda e Interclube. Até ao momento tem a defesa menos batida do campeonato, com apenas nove golos sofridos, uma derrota, sete empates, 19 vitórias e já marcou 39 golos em 27 partidas disputadas, dependendo apenas de si para voltar a ser campeão nacional e regressar à Liga dos Campeões Africanos. Percurso de altos e baixos Apesar do excelente trajecto, nem tudo tem sido um mar de rosas para o emblema da Lunda Norte.

Em Novembro de 2019, o clube viveu um dos mais turbulento­s episódios tendo supostamen­te como protagonis­ta o então técnico Português Paulo Torres, que colocou a equipa na 12 ª posição, ou seja, à beira da despromoçã­o.

Fruto do mau clima que se instalava no balneário, um grupo de jogadores decidiu denunciar o treinador luso à direcção da colectivid­ade, na altura liderada por Osvaldo VanDúnem. O argumennto foi de que alguns atletas eram “super” protegidos e outros “super” prejudicad­os. Na sequência, realizouse uma reunião de emergência no fim da qual o técnico colocou o cargo à disposição. Enquanto se procurava por um substituto, o preparador físico, Rui Oliveira, assumiu o comando, coadjuvado pelo antigo defesa do grémio, Lebo Lebo e ainda por Jonny Matumona e Hidrox Estanislau. Ainda em momento de crise, no dia 17 de Janeiro de 2020, no de decurso de uma Assembleia de balanço e renovação de mandato, os cofundador­es do Sagrada Esperança assumiram a direcção do Clube. José Muacabalo ocupou o cargo de presidente, Leão Chimin e José Alberto dos Santos “Zeca Rosa” vice- presidente­s, e oito dias depois, contra todas as expectativ­as, Roque Sapiri foi indicado técnico principal, sob aplausos de uns e contestaçã­o de outros, estes últimos alegando falta de experiênci­a.

Em contraste, o sinal inicial de sucesso desta decisão “arriscada” registou- se na época 2019/ 2020, em que tirou a equipa na

zona de despromoçã­o, da 12 ª posição para a 5 ª da classifica­ção. Mas Roque Sapiri viu esse percurso de sucesso prematuram­ente interrompi­do pela Covid- 19, que obrigou o cancelamen­to da temporada. Reconstruç­ão do plantel

Para a época 2020- 2021, o treinador, que recebeu voto de confiança, decidiu reconstrui­r a equipa começando por dispensar oito jogadores, nomeadamen­te Guedes, Jiresse, Francis, Higino, História, Almeida, Cabibi e Titi.

Trouxe para o clube Karanga ( médio ala), Jó Paciência ( avançado), Reginó ( médio trinco), Sozito ( lateral), Matengó ( médio ala), Celso ( médio), Victoriano ( médio trinco), Lima ( avançado) e Leonardo ( guarda- redes).

Com estas contrataçõ­es, Roque Sapiri montou uma equipa com média de idade de 28 anos, constituíd­a por Langanga ( guarda- redes), JB ( guarda- redes), Leonardo ( guarda- redes), Gaspar, Reginó, Lulas, Simão e Djó ( defesas), Luís Tati, Cachi, Celso, Femy, Muenho ( médios), Lépua, Matengó, Karanga ( médios ala), Victoriano, Água Doce ( médios trinco), Chico, Jó Paciência, Valente e Lima ( avançados). Objectivos preconizad­os

Na presente época a conquista do Campeonato Nacional não fazia parte dos planos da direcção. Apenas interessav­a ao conjunto diamantífe­ro estar no top cinco e garantir o apuramento numa competição africana ( Liga dos Campeões ou Taça da Confederaç­ão), além da conquista da Taça de Angola.

Mas os resultados da primeira volta, 2 º na tabela com 32 pontos, galvanizar­am os “diamantífe­ros” que passaram a assumirse, embora de forma dissimulad­a, como candidatos ao título. No balanço, o primeiro objectivo da temporada, que era a conquista da Taça de Angola, não foi concretiza­do. O “sonho” foi adiado por conta da eliminação pelo Kabuscorp do Palanca, nos quartos- de- final, com derrota no Dundo de 4- 5, nos penáltes, após igualdade a uma bola no tempo regulament­ar. Possibilid­ades de chegar ao segundo título

O Sagrada Esperança depende de si para ser campeão nacional. Para o efeito, basta vencer os jogos com o Progresso Sambizanga e Recreativo da Caála, por sinal adversário­s ao seu alcance, e empatar na última jornada com o Petro de Luanda. Na primeira volta, o Sagrada venceu o Petro, por 1- 0, no Dundo. Em caso de empate no jogo da última jornada e terminarem com os mesmos pontos na tabela classifica­tiva, a equipa diamantífe­ra será campeã devido a vantagem no confronto directo, o primeiro item de desempate.

Os Lundas também podem arrebatar o troféu de outro modo, caso o opositor perca um jogo, o principal deles na deslocação ao reduto do Desportivo da Huíla, antes do embate entre si, no Estádio 11 de Novembro, no fecho do campeonato. Nas próximas três últimas jornadas, o líder defronta o Recreativo da Caála, no Huambo ( 19 de Julho), recebe o Progresso Sambizanga ( 24 de Julho) e termina com o Petro de Luanda, na capital angolana ( 31 de Julho).

Sagrada Esperança e Petro de Luanda reeditam a história do Girabola de 2005, em que a primeira foi campeão pela primeira vez ao vencer, no Dundo, por 1- 0. Nos últimos quatro anos, os dois conjuntos defrontara­m- se oito vezes, com um registo de três empates, quatro vitórias para o Petro de Luanda e uma para o Sagrada Esperança.

Quem é Roque Sapiri

Natural do Dundo, província da Lunda Norte, nasceu a 21 de Janeiro de 1976 ( 45 anos).

Iniciou a sua carreira desportiva em 1988 neste mesmo Sagrada Esperança de que hoje é treinador, tendo conquistad­o a Taça de Angola em 1999.

Foi campeão nacional do Girabola em 2005.

Enquanto jogador participou em várias competiçõe­s africanas, com realce para a Taça CAF em 1992 e 1998, e na Taça dos Clubes Campeões de África, em 2006. Concluiu a sua carreira como atleta em 2008 num jogo que serviu de inauguraçã­o do Estádio Sagrada Esperança, e no mesmo ano passou a desempenha­r a função de treinador - adjunto do conjunto até 2019. Roque Sapiri assumiu o cargo de técnico principal do Sagrada Esperança no quadro de uma aposta na prata da casa, após rescisão da colectivid­ade com o português Paulo Torres, por maus resultados.

Patrocinad­ores e orçamento anual

Patrocinam a colectivid­ade, as empresas diamantífe­ras que operam na província da Lunda Norte, nomeadamen­te Chitotolo, Lunhinga, Lulo, Sociedade Mineira de Catoca, Luminas, Cuango, para além da ENDIAMA, ENDITRADE, Clínica Sagrada Esperança e a SODIAM.

Estas empresas disponibil­izam, através da ENDIAMA, mais de USD dois milhões norteameri­canos, equivalent­es em kwanzas, para suportar todas as competiçõe­s da época.

História da agremiação

Fundada no dia 22 de Dezembro de 1976, no Dundo, foi campeã nacional em 2005 e vencedor da Taça de Angola em 1988 e 1999.

O clube marcou várias presenças nas competiçõe­s africanas, disputando a Taça dos Vencedores das Taças, em 1989 e 2000. Participou na Taça CAF em 1992, 1998 e 2020 e também da Taça dos Clubes Campeões de África em 2005 e 2006.

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