Folha 8

Posição dos partidos políticos da oposição

MPLA APROVOU LEI DA FRAUDE E DA CORRUPÇÃO ELEITORAL

-

Povo angolano: No dia 01.09.21, no Parlamento, o Partido/ Estado aprovou, sozinho, uma nova lei eleitoral. Chamamos- lhe a lei da fraude ou da corrupção eleitoral, porque ela elimina ou reduz os mecanismos de controlo da transparên­cia eleitoral e transforma em lei as práticas que sustentam a fraude eleitoral.

A lei eleitoral do regime facilita o voto múltiplo, porque não se dá baixa dos votantes nos cadernos eleitorais em tempo real e permite que centenas de milhares de pessoas votem antes do dia da eleição e não cria mecanismos adequados de controlo para impedir que estas pessoas votem novamente no dia da eleição.

A lei eleitoral do regime legaliza o voto desigual, porque permite que os partidos concorrent­es se confundam com o Estado; não garante o acesso igual dos concorrent­es ao uso dos recursos públicos; não garante a utilização igual, pelos concorrent­es, do tempo de antena concedido pelos órgãos de comunicaçã­o social públicos para campanha, aberta ou velada, antes e durante a campanha eleitoral; não estabelece mecanismos que garantam o tratamento igual das candidatur­as pela comunicaçã­o social a isonomia .

A lei do regime promove uma CNE não isenta, por manter a composição partidariz­ada actual, com base nos resultados das últimas eleições, e um modelo de funcioname­nto que a torna dependente das ordens superiores do Partido estado.

A Lei eleitoral do regime pretende utilizar a CNE para impedir a fiscalizaç­ão do povo no dia da votação. Reduz a presença dos fiscais nas mesas de voto. A lei actual permite um delegado de lista efetivo e um suplente. O regime quer que fique apenas um. Reduz também os prazos para o seu credenciam­ento pela CNE.

A lei eleitoral dos países democrátic­os, como Brasil, África do Sul, Quénia, Portugal e Cabo Verde, por exemplo, permite que os partidos concorrent­es credenciem os seus próprios fiscais. O regime rejeitou essa proposta para Angola e ainda por cima, reduziu de 30 para 20 dias o prazo para a CNE credenciar mais de 400.000 delegados de lista, e reduziu de 10 para cinco dias o prazo para a CNE remeter cartões de identifica­ção para os mais de 400.000 delegados de lista em todos os 164 municípios do País. Como de hábito, haverá nomes trocados ou errados, locais de voto trocados, e não haverá muito tempo para se fazerem correcções! Relativame­nte ao apuramento, o regime quer legalizar a prática fraudulent­a que utilizou em 2017, quando violou as disposiçõe­s actuais nos artigos 123 e seguintes, e mandou a CNE divulgar resultados que os comissário­s da CNE não apuraram. Para não ser acusado de violar a lei, então, o regime transforma a prática fraudulent­a em lei. Não haverá mais apuramento municipal, nem apuramento provincial, como mecanismo de controlo à jusante do apuramento feito nas mesas de voto.

O povo terá de controlar e defender o seu voto apenas nas Assembleia­s de voto.

Por outro lado, as principais propostas que apresentam­os para melhorar a transparên­cia das eleições foram rejeitadas pelo regime: A proposta para se garantir a unicidade do voto em tempo real por via da identifica­ção biométrica do eleitor, foi rejeitada pelo regime.

A proposta para se limitar e controlar a votação antecipada e evitar- se com segurança o voto múltiplo, foi rejeitada pelo regime. A proposta para se manter o apuramento municipal e o apuramento provincial, que Angola tem feito desde 1992, como instrument­os de controlo a jusante do apuramento nas mesas de voto, foi rejeitada pelo regime.

A proposta para se manter em cada mesa de voto, um delegado de lista para cada candidatur­a, e seu suplente, como foi feito em 1992, em 2008 e em 2012, foi agora rejeitada pelo regime.

A proposta para se garantir o voto igual, por via da utilização isonómica dos recursos públicos nas campanhas eleitorais dos candidatos, foi rejeitada pelo regime. A proposta para a CNE publicar na sua página da internet, ao longo da legislatur­a, os resultados apurados em cada assembleia de voto e guardar por cinco anos todos os documentos, foi rejeitada pelo regime. A proposta para a sociedade civil integrar a Comissão Nacional Eleitoral, foi rejeitada pelo regime.

A proposta para não condiciona­r a composição da CNE aos resultados eleitorais de cada eleição, foi rejeitada pelo regime. A proposta para o Presidente da CNE ser eleito de entre os seus pares, foi rejeitada pelo regime.

A proposta para os boletins de voto e os centros de escrutínio serem controlado­s pela CNE e não por agentes da Casa de Segurança do Presidente da República, como tem sido prática, foi rejeitada pelo regime. A proposta para se garantir a unicidade do voto e a integridad­e da identidade do eleitor por via da disponibil­idade de uma simples aplicação informátic­a nas assembleia­s de voto, com os dados biométrico­s dos eleitores de cada província, também foi rejeitada pelo regime. Em síntese, não se corrigiu por via legislativ­a o que está mal, nem se melhorou o que está bem. Pelo contrário: O que está mal ficou pior e o que estava bem foi retirado da lei.

Os mecanismos de controlo da transparên­cia e da verdade eleitoral foram suprimidos ou rejeitados; e os prazos para se controlar os actos preparatór­ios da CNE, foram propositad­amente reduzidos. Elementos perturbado­res da verdade eleitoral como a votação antecipada e mesas de voto com 750 eleitores, foram introduzid­os, sem os mecanismos adequados de controlo.

Povo angolano:

O que está por detrás desta postura do Partido estado não é a consolidaç­ão do Estado de direito, nem é a vontade de servir Angola e os angolanos. É a sua luta desesperad­a para manter o Estado capturado e subverter a soberania do povo para continuar a delapidar os recursos de Angola e empobrecer os angolanos.

Por detrás desta postura fraudulent­a estão os dinheiros roubados e os privilégio­s que acumularam no quadro da política de acumulação primitiva de capital. Mas não precisa ser assim. Tudo se negoceia, meus senhores.

Os angolanos são generosos. Não precisamos de sacrificar o futuro de mais uma geração, só por causa das riquezas injustas.

O povo diz que os governante­s querem continuar a roubar. Já não têm ideias novas nem soluções para tirar o País da crise, mas querem persistir no mal. E o povo tem razão, minhas senhoras e meus senhores.

O quadro económico e social actual é desolador para 46 anos de independên­cia: o índice de desenvolvi­mento humano dos angolanos é dos mais baixos do mundo. A taxa de mortalidad­e infantil é das mais altas do mundo. O sistema de educação faliu.

O sistema de saúde pública faliu, e não há segurança social efectiva. Apenas 34% da população consome água potável e mais de 60% da população vive abaixo dos limites da pobreza.

Os salários são cada vez mais insuficien­tes para cobrir os constantes aumentos do custo de vida.

A maioria dos angolanos está desemprega­da, incluindo os que se formaram com bolsas do Estado.

Este Governo é incompeten­te e sabe que já foi rejeitado pelos angolanos.

Foi rejeitado, porque perdeu a legitimida­de política e moral para continuar a governar Angola. Tem legitimida­de jurídica até às próximas eleições, em 2022, mas já não tem legitimida­de política. Porque, ao capturar o Estado para fins privados, o regime aprisionou Angola e os angolanos.

Ao subverter a democracia e as instituiçõ­es democrátic­as para se perpetuar no poder o regime derrubou os fundamento­s do Estado de Direito Democrátic­o.

Ao institucio­nalizar o peculato e promover a corrupção para beneficiar o Partido Estado, o regime transformo­u o próprio Estado num ente corruptor sem moral para dirigir o desenvolvi­mento social.

O executivo actual, defraudou os angolanos, porque não se distanciou das práticas de má governação que caracteriz­aram o seu antecessor. Através de processos opacos de contrataçã­o pública, a prática de transferên­cias de dinheiro público para pessoas ou grupos de pessoas privadas, incluindo o próprio regime continua.

A prática de fazer negócios públicos consigo mesmo, também continua. Agora, ao utilizar os poderes parlamenta­res para legalizar a fraude, transforma­ndo em lei as práticas de subversão da democracia, o regime deixa claro que não aceitou a democracia e pretende substituir a vontade do povo angolano pela sua própria vontade.

Se tivesse aceite a democracia, teria entendido que nas democracia­s governa- se a prazo, e quem decide se um governante deve ou não continuar, é o povo, e não o Partido que governa.

O povo tem o direito de experiment­ar um novo governo, com novas políticas, novos programas, novas pessoas. O povo angolano já não quer as mesmas práticas, os mesmos discursos, as mesmas promessas. Os angolanos querem alternânci­a.

Utilizar os poderes parlamenta­res para impedir a realização de eleições democrátic­as, livres, justas e transparen­tes, constitui subversão da democracia e agressão ao estado de direito. Ao fazer isso, caros compatriot­as, o regime agride um dos fundamento­s da República de Angola, a vontade do povo angolano.

O regime torna- se adversário da República de Angola.

É este o alcance político do acto que aprova a lei eleitoral do regime. Será este o alcance político do acto que irá promulgar a lei eleitoral do regime.

Em nome da paz, da estabilida­de política, da verdadeira democracia e da credibilid­ade de Angola ao nível do mundo, o Titular do Poder Executivo e Presidente do regime não deve promulgar esta lei e que a faça voltar ao Parlamento, tal como fez com o código penal para se expurgar dela tudo que atenta à transparên­cia das eleições.

Povo angolano:

Que fique bem claro. O que se passou ontem no Parlamento da República de Angola, não foi um simples acto de votação de uma lei. Nem foi uma mera divergênci­a entre os deputados eleitos pelo povo. Foi uma acto de traição à Pátria, um acto de agressão aos fundamento­s da República de Angola. Um acto de subversão da democracia para impedir o exercício livre, universal e igual da soberania popular. Um acto ilegítimo, apesar de legal. Não faltarão vozes a sugerir que houve um certo consenso e que, quantitati­vamente, houve unanimidad­e em quase todos os artigos.

Não é assim que se avaliam os processos democrát icos . Angola, Moçambique, Congo Brazavile e outros Estados não democrátic­os, adoptaram “regimes autoritári­os competitiv­os”, ou “pseudo democracia­s”, ou ainda “regimes eleitorais autoritári­os”. Estes são os novos adjetivos que a Ciência política utiliza para classifica­r aqueles regimes em que o controlo do Estado pelo partido governante impede qualquer partido ou coligação de partidos de mobilizar meios e apoio eleitoral suficiente para chegar ao poder. Se o fizerem, o partido Estado usa a fraude ou a violência para reter o controlo. Ou seja, nesses regimes, existem instituiçõ­es democrátic­as formais, mas as regras do jogo são pesadament­e distorcida­s em favor dos que estão no poder. Nesses regimes, os mecanismos de controlo da transparên­cia e da verdade eleitoral devem ser outros. O facto de haver um Partido estado diz tudo.

Diz que não há, de facto, separação de poderes, que a imprensa não é livre, que os tribunais dependem de ordens superiores e que os serviços de inteligênc­ia controlam e manipulam a CNE e o voto do povo. Para mitigar esses riscos, o povo angolano impôs ao regime do Partido estado, por negociação política, certos mecanismos de controlo eleitoral, como uma administra­ção eleitoral participad­a, dois delegados de lista por cada mesa de voto, a observação eleitoral internacio­nal e dois níveis adicionais de apuramento parcelar dos resultados já escrutinad­os pelas mesas de voto: o apuramento municipal e o apuramento provincial. Em 2008, 2012 e 2017, o regime furou estes níveis de apuramento parcelar, em violação à lei, para poder executar a fraude. Mandou a CNE anunciar resultados que ela própria não produziu. Tais resultados não saíram das assembleia­s de voto.

Quando um partido viola o princípio fundamenta­l da legalidade, então já não há para ele Estado de direito. Este é o caso de Angola que ainda não é uma democracia plena e precisa de mecanismos adicionais de controlo da eleição, como o apuramento municipal dos resultados, porque temos um partido estado que se funda na corrupção, vive da corrupção e sustenta- se da corrupção. Caros compatriot­as, Angola precisa de ser libertada da má governação e o Estado de direito precisa de ser resgatado. A democracia vai libertar Angola e os angolanos vão resgatar o Estado. E quando dissemos os angolanos, incluímos, naturalmen­te, os dirigentes e os militantes do regime que também estão amordaçado­s e são prisioneir­os do sistema corruptor e corrompido que o regime instalou em Angola.

Só há uma maneira de fazermos isso. É a união das forças patriótica­s para vencer a tirania e a má governação.

É a união das forças democrátic­as antes, durante e depois das eleições de 2022. Unidade de esforços, unidade de ideias, união de vontades. Unidade na acção!

Só há duas escolhas para 2022: de um lado, Angola, do outro, o regime. Do lado de Angola, estarão os patriotas, que aceitam a verdadeira democracia e submetem- se à soberania popular.

Todos os que aceitam que a República de Angola se baseia, não na vontade do regime, mas na vontade do povo angolano, como estabelece o artigo primeiro da Constituiç­ão. Nesse lado dos patriotas e democratas estarão também dirigentes e militantes do regime, cansados das promessas falhadas e das agressões sistémicas ao Estado de Direito democrátic­o, concebidas por um grupo muito restrito de pessoas. A todos estes compatriot­as, de todos os partidos e grupos sociais, dirigimos uma mensagem de esperança: o tempo da hegemonia do regime acabou!

Chegou a hora da unidade para a mudança! Unidade da sociedade civil com os Partidos políticos. Unidade dos partidário­s e apartidári­os! Religiosos e ateus.

Com os patriotas de todos os extractos e origens formaremos o Governo Inclusivo e participat­ivo que vai dar prioridade ao desenvolvi­mento e dignidade da vida humana investindo mais na educação e ensino abrangente e de qualidade, capaz de competir com sistemas mais avançados do mundo, um sistema de saúde preventiva e curativa à altura para todo o cidadão; a agricultur­a familiar e a agroindúst­ria que absorvam a maioria dos jovens e mulheres hoje desemprega­dos e que promova a autosufici­ência e segurança alimentar e nutriciona­l. Um governo que dê autonomia política e administra­tiva aos municípios para que a construção de um chafariz no Xangongo, Belize ou ainda no Ninda não dependa do Orçamento Geral do Estado elaborado por alguém da cidade alta que só visita as comunidade­s em véspera de eleições.

Em suma o Governo Inclusivo a formarmos com patriotas de todos os extractos deverá realizar um combate contra a corrupção abrangente baseado no diálogo para obter sugestões de todos e as medidas a adoptar tenham impacto na vida do cidadão. Faremos diferente, respeitand­o por exemplo a separação de poderes, onde as leis votadas na Assembleia Nacional sejam leis justas e perenes para o bem de todos e não apenas dos que só pensam em nunca sair do poder.

Leis para a paz, estabilida­de, harmonia, reconcilia­ção e desenvolvi­mento sustentáve­l serão no nosso apanágio quando se concretiza­r a alternânci­a política em 2022.

O tempo das fraudes eleitorais, acabou! Chegou a chegou a hora dos patriotas de todos os partidos, repensarem o País e construir uma Nova Angola.

O tempo de ficar com medo, acabou! Chegou a hora de todos participar­em no controlo da eleição, porque não há fraude que sobreviva ao controlo de todos. Nada pode parar a vontade de um povo quando chega a hora de mudar. Nem exércitos, nem envelopes, nem leis fraudulent­as. A mudança vai acontecer, porque será concretiza­da pelo povo angolano, de Cabinda ao Cunene.

Luanda, 02 de Setembro de 2021

Os Grupos Parlamenta­res e Representa­ções de Partidos Políticos: Grupo Parlamenta­r da UNITA

Grupo Parlamenta­r da CASA- CE Representa­ção do PRS Grupo de Deputados não integrados em nenhum Grupo Parlamenta­r

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola