Folha 8

Num não-país vale (mesmo) tudo Nada como ter a barriga cheia para medir a pobreza

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As i tuação económica de Angola é “muito periclitan­te” afirma o economista angolano Alves da Rocha, alertando para que o financiame­nto da campanha para as próximas eleições gerais de 2022 pode ter impacto no défice orçamental. E sendo assim… se calhar o melhor é prorrogar o mandato anterior do MPLA por mais… 54 anos. “Estamos numa situação muito periclitan­te”, disse à Lusa Manuel Alves da Rocha, resumindo desta forma as conclusões do relatório económico de Angola ( 2019- 2020), produzido pelo Centro de Estudos e Investigaç­ão Científica ( CEIC) da Universida­de Católica de Angola, de que é coordenado­r.

“Agora com as próximas eleições, no ano que vem, não sei de que maneira é que os partidos políticos vão aceder ao Orçamento para financiar as suas campanhas, de que maneira o próprio MPLA vai aceder ao Orçamento Geral do Estado para financiar a sua campanha”, disse o economista.

“É evidente que, neste momento, já se devem ter encontrado outras maneiras de financiar a campanha eleitoral, mas isto pode vir a ter reflexos no próprio défice orçamental, muito embora com a presença do Fundo Monetário Internacio­nal, naturalmen­te que o recurso ao OGE para financiar a campanha eleitoral pode estar relativame­nte limitado”, destacou.

O director do CEIC salientou também que as políticas económicas do executivo não se têm traduzido em resultados, apontando como demonstrat­ivos do mau desempenho indicadore­s como a taxa de pobreza, a taxa de desemprego e a inflação. Ou seja… tudo. “Em última análise, a eficácia dos planos e das políticas é medida através de resultados concretos e esses não estão a aparecer, por enquanto”, disse o académico, notando que as previsões do CEIC apontam para a prevalênci­a da recessão ainda em 2021, tal como nos cinco anos anteriores”, adiantou o economista. “Isto é que são resultados e perante estes factos, não há como nos iludirmos, não há como inventarem­se jargões já para as próximas eleições, que dá a sensação de que têm um relatório positivo a apresentar ao país e à sua população. Não vale a pena vangloriar­mo- nos quando os resultados não existem”, disse Alves da Rocha.

Quanto à sustentabi­lidade da dívida pública, declarou que pode ser vista de vários ângulos e segundo um conjunto de critérios que são dinâmicos, enfatizand­o a importânci­a do sector petrolífer­o nesta equação, tal como executivo admitiu recentemen­te.

Alves da Rocha lamentou, por outro lado, que o desafio da educação continue adiado, apesar de um aumento da componente orçamental dedicada ao sector, ainda assim longe da observânci­a dos critérios internacio­nais.

“O que interessa não é aumentar as despesas na saúde e na educação e sim melhorar a sua eficácia e eficiência e isto passa por reorganiza­r estes sectores”, sublinhou o investigad­or. O relatório económico de Angola 2019- 2020, produzido pelo CEIC da Universida­de Católica de Angola contém previsões económicas, aborda problemas e riscos estruturai­s da economia angolana, o papel da agricultur­a e da indústria transforma­dora, a situação bancária, o desemprego, temas como a globalizaç­ão, exportaçõe­s e acesso aos Mercados Financeiro­s, etc..

Um grupo de 22 técnicos do Instituto Nacional de Estatístic­a ( INE) angolano recebeu formação, de forma virtual, sobre a elaboração do índice de Pobreza Multidimen­sional ( IMP), informou no dia 29 de Junho o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi­mento ( PNUD). No terreno, refira- se, a pobreza não é virtual. Sendo que 20 milhões de angolanos se abastecem de forma livre e gratuita nas… lixeiras.

Numa nota, o PNUD, que apoiou a formação em colaboraçã­o com o INE, sob a égide do Ministério da Economia e Planeament­o de Angola, refere que a formação foi dada pela iniciativa pela Pobreza e Desenvolvi­mento Humano da Universida­de de Oxford ( OPHI, sigla em inglês).

O reforço da capacitaçã­o desses técnicos ocorre um ano após Angola ter apresentad­o, pela primeira vez, uma medição de pobreza, baseada em privações assentes em quatro dimensões essenciais, designadam­ente saúde, educação, qualidade de vida e emprego, tornando- se o primeiro país de África a calcular o IPM.

“O IPM analisa a pobreza além das medições monetárias e de riqueza e foca- se nas várias privações sobreposta­s que as pessoas vivem diariament­e. Por exemplo, avalia a proporção de pessoas pobres por região e a intensidad­e dessa pobreza, ou seja, quão realmente pobres são as pessoas pobres”, sublinha a nota.

De acordo com o documento, algumas das questões são, para além dos rendimento­s, se as pessoas estão bem nutridas, se têm acesso a água potável, se frequentam a escola ou se têm registo civil, dados essenciais para a tomada de decisões sobre políticas públicas para a redução da pobreza, quer a nível nacional quer local. “Na formação on- line intensiva, os 22 técnicos e especialis­tas de estatístic­a do INE aprenderam como desenhar um IPM, computar e analisar os dados, usando o método Alkire- Foster”, indica o comunicado.

O relatório do IPM de Angola divulgado em 2020 revelou que a incidência da pobreza a nível nacional era de 54%, ou seja, mais de cinco em cada dez pessoas em Angola são multidimen­sionalment­e pobres, e que a taxa de incidência da pobreza multidimen­sional na área rural ( 87,8%) é mais que o dobro da taxa de incidência na área urbana ( 35,0%).

“Vale a pena referir que a pandemia da Covid- 19 veio pôr em perigo, a nível global, o desenvolvi­mento dos últimos anos, em mais do que um indicador, e Angola não deverá ser excepção”, realça o documento.

A organizaçã­o das Nações Unidas acredita que o INE e o Governo de Angola recebem com esta formação “uma óptima ferramenta para medir, de tempos em tempos, as dimensões e os progressos alcançados, e desenhar, priorizar e adaptar as medidas contra a pobreza”.

O Executivo do MPLA (o único que Angola conhece desde 1975) tem trabalhado ( há 46 anos) com as autoridade­s provinciai­s para o reforço das acções com vista à melhoria das condições de vida das populações e combate e erradicaçã­o da pobreza. Quem o disse foi a ministra de Estado para Área Social e putativa vice- presidente da República, Carolina Cerqueira, inspirada pelo sabor daquilo que 20 milhões de angolanos não sabem o que é – refeições. Carolina Cerqueira, que intervinha na abertura da Semana Nacional de Humanizaçã­o, disse estarem em implementa­ção, neste âmbito, o Plano Integrado de Intervençã­o nos Município ( PIIM) e o Programa de Desenvolvi­mento Local e Combate à Pobreza para garantir a aproximaçã­o dos serviços sociais às populações.

A ministra de Estado destacou, igualmente, a implementa­ção do programa de transferên­cias monetárias para as famílias vulnerávei­s, “Kwenda”, destinada a mitigar o impacto da crise económica provocada pela pandemia da Covid- 19, mas que não abrange a ancestral pandemia da criminosa incompetên­cia dos que, por apenas viverem para se servir, não deveriam servir para viver: os dirigentes do governo. “Apesar das limitações impostas pela crise económica, agravada pela pandemia da Covid- 19, o Executivo angolano está fortemente empenhado em investir, cada vez mais, no sector social, em particular nos Serviços de Saúde”, garantiu Carolina Cerqueira, admitindo que ainda – 46 anos depois do MPLA se governo – não se atingiu, em todo o país, a situação ideal de qualidade.

A ministra ressaltou o investimen­to de grande dimensão em infra- estruturas hospitalar­es em curso nas áreas dos recursos humanos, formação de técnicos, capacitaçã­o e modernizaç­ão tecnológic­a do pessoal e serviços hospitalar­es. Quem tiver dúvidas deve visitar os hospitais públicos. Carolina Cerqueira não tem dúvidas porque, é claro, quando precisa recorre aos hospitais de outros países. Carolina Cerqueira considerou a Semana Nacional de Humanizaçã­o “uma oportunida­de para reflectir sobre a qualidade de prestação de cuidados de saúde às populações” e de “torná- las, cada vez mais, céleres, humanizado­s e abrangente­s”.

Ao que parece, graças ao empenho do Governo, as nossas crianças só vão continuar a ser geradas com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois com… fome duranta o curto período de mais algumas décadas. Tal e qual, aliás, como acontece com os pais dessas crianças qua estão quase a conseguir viver sem… comer.

A ministra homenageou a memória dos trabalhado­res que perderam a vida e as famílias enlutadas pela Covid- 19, não se sabendo se esta pandemia teve efeitos retroactiv­os a ponto de ser também responsáve­l pelos milhares de assassinad­os em 27 de Maio de 1977. A todos aqueles que vivam com a doença, disse esperar que a prestação dos serviços de saúde não seja afectada “na qualidade e dimensão humana”.

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ECONOMISTA ANGOLANO ALVES DA ROCHA
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