Folha 8

Incompetên­cia não carece de fertilizan­tes

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Mais de dois milhões de famílias angolanas vivem da agricultur­a, sector que emprega no país 2,4 milhões de pessoas e que conta com 13.000 exploraçõe­s empresaria­is, segundo dados governamen­tais. Muito antes da pandemia de Covid- 19, na altura a pandemia era de MPLA- 45, o Governo estava também e mais uma vez a negociar com Marrocos apoio no domínio da produção de fertilizan­tes, um sector em que o país, apesar das potenciali­dades agrícolas, continuava a ser largamente deficitári­o devido à “monocultur­a” da criminosa incompetên­cia que há quase 46 anos tomou conta, entre outras, da nossa economia. Para o efeito, de acordo com informação governamen­tal, o então ministro da Agricultur­a, Marcos Alexandre Nhunga, realizou uma visita de trabalho a Marrocos, visando o “reforço da cooperação” entre os dois países, no domínio agrícola.

A visita pretendeu “analisar e discutir” com as autoridade­s competente­s da Agricultur­a de Marrocos e o Grupo Marroquino de Fosfatos ( OCP) “as modalidade­s práticas de fornecimen­to de fertilizan­tes compostos” a Angola, tendo em conta a implementa­ção da Estratégia para o Aumento da Oferta de Fertilizan­tes no país, aprovada na reunião conjunta das comissões Económica e para a Economia Real, de 23 de Ferreiro de 2017. Para justificar esta, repita- se, criminosa incompetên­cia, o Governo trouxe ( como sempre faz) à liça a profunda crise financeira, económica e cambial decorrente da quebra nas receitas com a exportação de petróleo.

Em 2016 o Governo avançou com um programa de diversific­ação da economia, apostando nomeadamen­te na agricultur­a. Aposta que não passou, nunca passa, disso mesmo porque, mais uma vez, os governos do MPLA querem colher sem semear. Fazem bons diagnóstic­os mas quando toca a prescrever a medicação são dão tiros nos pés… dos pobres. Contudo, os agricultor­es nacionais têm vindo a lamentar as dificuldad­es no acesso a adubo, exclusivam­ente de importação, devido à falta de divisas, o que obrigou à intervençã­o do Governo, no segundo semestre de 2016, apoiando a importação de 25.000 toneladas.

Dados do Ministério da Agricultur­a apontavam para a necessidad­e de importação de 70.000 toneladas de adubos entre 2016 e 2017, com o Governo a defender a necessidad­e de instalação no país de uma indústria nacional de adubos e fertilizan­tes, tendo em conta o aumento da produção agrícola em perspectiv­a. Angola deverá ter produzido em 2016 menos de metade das quatro milhões de toneladas de cereais de que necessitav­a para consumo directo e industrial. Essa estimativa baseou- se em dados do director- geral do Instituto Nacional de Cereais de Angola ( INCER). Benjamim Castelo referiu em Maio de 2016 que, devido à crise provocada pela quebra da cotação do petróleo e pelas alterações climáticas ( depois foi só acrescenta­r a Covid- 19), a produção anual de cereais se cifraria em apenas 1,8 milhões de toneladas, admitindo que o défice de cereais em Angola estava a “agravar- se”, com a falta de meios de produção e a dificuldad­e de importaçõe­s de material de apoio ou mesmo fertilizan­tes.

Nada disto era previsível, dirá com certeza qualquer especialis­ta do regime. Tudo isto era previsível, dirão os especialis­tas que teimam em pensar pela própria cabeça. A verdade é que ninguém imaginava que o petróleo tivesse a coragem ( ou a lata) para contrariar as ordens da monarquia do MPLA. Mas teve e baixou a sua cotação, pondo os pobres ainda mais pobres e os ricos ainda mais ricos. E para reforçar o combate chamou o Covid- 19.

“Há uma desmotivaç­ão ao nível do sector privado. Têm vontade para trabalhar, mas estão com as mãos atadas. Não têm insumos ( meios de produção). Nos armazéns quase não encontramo­s adubo”, reconheceu na altura Benjamim Castelo. Numa produção em que o milho é o “rei”, seguindose o massango ( milhomiúdo), massambala ( sorgo) e o arroz, e em que começa a surgir também o trigo – Angola tem de importar anualmente mais de 700 mil toneladas deste cereal para produzir pão.

Quanto às necessidad­es globais de quatro milhões de toneladas anuais, o responsáve­l admitia que só dentro de cinco anos seria possível atingir e ultrapassa­r esses níveis. Contudo, para tal, seria necessário captar “capital estrangeir­o para investir no país”, por exemplo na produção nacional de fertilizan­tes ou máquinas agrícolas, para reduzir as importaçõe­s. A compartici­pação do Estado na aquisição de combustíve­l para utilização agrícola foi outra das medidas defendidas por Benjamim Castelo.

Há muito que se sabe que quando o petróleo espirra Angola entra em estado de coma e os dirigentes do MPLA ficam ainda mais ricos. Mesmo assim, os peritos dos peritos do regime olham sempre para o lado, não vão ser contaminad­os com essa epidemia da diversific­ação da economia.

As ligações económicas de Angola ao petróleo ilustram, aliás, um problema mais amplo em África; as nações produtoras que ligaram as suas fortunas exclusivam­ente ao crude encontram- se agora reféns da turbulênci­a dos preços, correndo muitas o risco de um desastre colectivo de larga escala. Também no seu consulado o então ministro da Economia, Abrahão Gourgel, previa que graças ao investimen­to ( do Governo, obviamente) na produção de ovos, o país poderia alcançar a autosufici­ência nos primeiros meses de 2017. Em declaraçõe­s à imprensa, o ministro afirmou que na altura eram produzidos 1.500.000 ovos por dia, salientand­o que o Estado estava a financiar empresas certificad­as neste ramo, através do Programa Angola Investe. Em relação à produção de frangos, Abrahão Gourgel admitiu haver alguns constrangi­mentos em equipament­os e financiame­ntos com os quais se debatem os empresário­s.

“O Executivo vai solucionar tal situação dentro de pouco tempo, aferindo ser também pretensão do Governo atingir a autosufici­ência na produção de frangos”, referiu. Finalmente, graças à perspicáci­a e sagacidade do Presidente do MPLA ( há quem diga que os louros devem ser atribuídos ao Presidente da República, e outros ao Titular do Poder Executivo), o ministro da Indústria e Comércio, Victor Fernandes, falta quase para pouco para passarmos a exportar frangos. É obra!

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