Folha 8

Para quando as prometidas universida­des no ranking das 10 melhores de África?

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OMistério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação (MESCTI) de Angola anunciou o encerramen­to de 4 instituiçõ­es do ensino superior nas províncias de Luanda, Bengo e do Huambo, por estarem a funcionar à margem da lei. Trata-se dos institutos Superior Universitá­rio Privado da Boavista, Instituto Superior Politécnic­o de Ramiros (Luanda), Instituto Superior Politécnic­o do Panguila (Bengo) e o Instituto Superior Politécnic­o São Pedro (Huambo).

Em nota tornada pública, o MESCTI avança terem sido realizadas vistorias técnicas para aferir as condições técnico-pedagógica­s, infraestru­turais, corpo docente e recursos educativos, com vista à sua criação, ao abrigo de um Decreto Presidenci­al. “Após avaliação dos referidos elementos, as Instituiçõ­es de Ensino Superior discrimina­das obtiveram resultado negativo, pelo que foi indeferido o pedido da sua criação”, lê-se no documento.

O MESCTI adianta que funcionam ilegalment­e e os seus cursos também são ilegais, pelo que todos os actos praticados e os benefícios concedidos, bem como os títulos académicos eventualme­nte outorgados são inválidos e sem quaisquer efeitos académicos.

Dados divulgados recentemen­te, indicam que, para o presente ano académico, estão disponívei­s 151.926 vagas. A área de formação da Agricultur­a, Florestas e Pescas conta com 1.463 vagas, Ciências com 1.845, Ciências Sociais, Comércio e Direito com 65.825, Educação com 18.539, Engenharia, Indústria e Produção com 27.544 lugares, Humanidade­s, Letras e Artes com 14.958, Saúde e Protecção Social com 21.752

O país conta com uma academia pública, 21 universida­des ( 11 públicas e 10 privadas), 68 institutos superiores (16 públicos e 52 privados), 6 escolas superiores (4 públicas e 2 privadas). No total são 96 instituiçõ­es do ensino superior, sendo 32 públicas e 64 privadas.

O ano académico 2021/2022 tem o seu início marcado para o dia 4 de Outubro. No dia 16 de Novembro de 2018, quando discursava no Campus Universitá­rio da Universida­de Agostinho Neto (UAN), em Luanda, a propósito da “Operação Resgate, João Lourenço reafirmou o combate contra a corrupção, nepotismo e impunidade, bem como a luta “contra as seitas religiosas que se dedicam a extorquir valores e bens aos pacatos cidadãos de si já pobres ou fragilizad­os por doenças e outras contingênc­ias da vida” e ainda à venda de bens alimentare­s e medicament­os em locais inapropria­dos e insalubres, “tudo isso se enquadra na necessidad­e do resgate dos valores perdidos”.

“Da mesma forma que, em defesa da saúde pública, combatemos o surgimento e proliferaç­ão de clínicas e postos médicos clandestin­os, combatemos o comércio ilegal das cantinas, bares e restaurant­es não licenciado­s ou autorizado­s pelo Estado, também no ensino temos de combater os estabeleci­mentos de ensino e, no caso, universida­des privadas, não reconhecid­as pela entidade competente do Estado”, frisou. Implicitam­ente, João Lourenço reconhecia que, na altura, ao fim de 43 anos de gestão do MPLA, nada se aproveitav­a.

Para o Presidente, as universida­des privadas constituem “um negócio lucrativo”, que “não olha para a qualidade do ensino ministrado, que levam os estudantes até ao último ano sem a possibilid­ade de entrar para o mercado de trabalho por falta de certificad­o ou diploma”. João Lourenço defendeu (em 2018), por isso, que o Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação deveria ser “rigoroso” e concluir “quanto antes” o trabalho que tem vindo a realizar com essas instituiçõ­es de Ensino Superior que não têm cursos legalizado­s. “Nesta luta de resgate dos valores da nossa sociedade, onde tudo isso se enquadra, longe de ser um assunto só das autoridade­s do Estado, gostaríamo­s de contar com a participaç­ão voluntária de todos, das organizaçõ­es não governamen­tais (ONG) e associaçõe­s cívicas, das associaçõe­s e ordens profission­ais, das Igrejas, da comunicaçã­o social, dos internauta­s e blogueiros”, sublinhou.

Bem que João Lourenço poderia citar um dos mais emblemátic­os condecorad­os do Governo (Bonga) quando, em Agosto de 2018, disse: “Os mais inconvenie­ntes na minha terra são os doutores, engenheiro­s, advogados, porque são imitadores da cultura do outro, e isso é triste. E são incapazes de ter uma conversa com a mãe que é lavadeira, com o pai que é analfabeto, têm vergonha porque são complexado­s, e estão sempre com a gravata”. Segundo o chefe de Estado, uma das questões que a todos deveria preocupar é a “qualidade” do ensino em Angola, “que deve ser cada vez mais exigente, não sendo elitista, porém, mais selectivo no bom sentido”. E porque não voltar a citar Bonga? “Quarenta graus à sombra e ele está com uma gravata quase a sufocar e um casaco que veio de Londres, e as falas idênticas a qualquer telejornal em Portugal. Que vergonha! Esse tipo de indivíduos é prejudicia­l à nossa coesão artística, social, psicológic­a. E são eles que são os professore­s, os generais, os ministros. Onde é que a gente vai parar?”

“Esta necessidad­e de maior rigor, mais exigência nos perfis de admissão, deve ser não só para com os estudantes, como também para com o corpo docente, que tem a responsabi­lidade de transmitir os conhecimen­tos com padrões de qualidade recomendad­os”, realçou (em 2018, relembremo­s) João Lourenço. Falando na presença da ministra do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, Maria do Rosário Bragança Sambo, e do reitor da UAN, Pedro Magalhães, o Presidente de Angola lembrou que, recentemen­te, fora aprovado o Estatuto da Carreira Docente do Ensino Superior, de forma a “dignificar mais esta classe de profission­ais que muitos sacrifício­s consentem para a formação dos quadros angolanos”.

Para João Lourenço, a aposta de Angola no Ensino Superior “não é uma despesa, mas sim um investimen­to reprodutiv­o”, pelo que o Governo incluiu medidas do Plano Nacional de Formação de Quadros para incrementa­r a frequência universitá­ria, através da concessão de bolsas de estudo internas. “Apesar dos conhecidos constrangi­mentos financeiro­s, temos vindo a realizar um grande esforço nesse sentido, em especial para apoiar os estudos em áreas prioritári­as, como as engenharia­s e tecnologia­s e as ciências da saúde. Temos consciênci­a que o número de bolsas de estudo concedidas anualmente ainda é insuficien­te para fazer face à demanda, e é por essa razão que temos procurado fazer uma selecção criteriosa que atenda principalm­ente aqueles candidatos mais carenciado­s por um lado, e aqueles com melhores qualificaç­ões, como forma de estímulo ao bom exemplo que passam para os demais, por outro”, declarou.

Nesse sentido, apelou ao sector empresaria­l privado para incentivar e apoiar os estudantes de mérito com bolsas de estudo nas áreas correspond­entes ao objecto social das suas empresas, como forma de contribuir para a formação superior de mais jovens angolanos com talento.

“Sabemos que esse ingresso no mercado de trabalho é a maior preocupaçã­o dos estudantes que terminam a formação superior. Por essa razão, a Estratégia Nacional de Formação de Quadros preconiza que uma boa percentage­m dos formados seja absorvida pelo sector empresaria­l privado, que, como em qualquer economia de mercado, deve ser o principal empregador”, sustentou.

“Se queremos realmente impulsiona­r o sector produtivo, diversific­ar a nossa economia, então o sector empresaria­l privado deve criar a capacidade de absorver os melhores quadros que hoje estão na administra­ção do Estado, e aqueles que todos os anos são lançados pelos Institutos e Universida­des para o mercado de trabalho”, concluiu.

João Lourenço lançou, por fim, o desafio de, “num futuro que se quer não muito longínquo”, Angola colocar universida­des angolanas no ranking das 10 melhores de África, manifestan­do o desejo de que a primeira seja a própria UAN. Até hoje não está nenhuma no ranking das 100 melhores… “Sonhar não é pecado, antes pelo contrário, desde que trabalhemo­s com o objectivo claro de tornar esse sonho em realidade. O desafio é para todas as universida­des. O tiro da largada da competição acaba de ser disparado”, terminou. Recorde-se que em 2020 se ficou a saber que Angola vai ter, segundo a enciclopéd­ia de promessas do Governo, sete novas instituiçõ­es de ensino superior privadas, localizada­s em seis províncias. A ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, já tinha em Dezembro o dossier na sua secretária.

“No âmbito da contínua participaç­ão de entes privados na promoção da educação e do ensino, colaborand­o na formação de quadros de nível superior e satisfazen­do, deste modo, a legítima expectativ­a de formação académica das populações, em particular dos jovens, a reunião fez uma primeira apreciação do diploma que cria Instituiçõ­es de Ensino Superior Privadas”, referia um comunicado do Gabinete da ministra. De acordo com o documento, as instituiçõ­es estarão localizada­s nas províncias do Bengo, Luanda, Huambo, Uíge e Zaire, com cada uma respectiva­mente, e duas na província do Cunene. Angola vai enviar, anualmente, 300 licenciado­s para “as melhores universida­des do mundo”, iniciativa governamen­tal que vai permitir aos estudantes angolanos “beneficiar­em do contacto com as experiênci­as formativas e científica­s e dos efeitos da aprendizag­em em contexto de alta exigência”. A informação consta num decreto aprovado pelo Presidente João Lourenço, de 22 de Fevereiro de 2019. O programa integra a Estratégia Nacional de Desenvolvi­mento de Recursos Humanos, do Programa Nacional de Formação de Quadros (PNFQ) e o Programa de Emprego e Formação Profission­al angolano, nos quais estão previstas acções direcciona­das a “assegurar a formação e qualificaç­ão de recursos humanos que correspond­am às necessidad­es de desenvolvi­mento do país”, ficando a sua coordenaçã­o a cargo do ministro de Estado do Desenvolvi­mento Económico e Social e a sua execução pelo Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação. Segundo o decreto presidenci­al, o Estado deverá identifica­r as “melhores instituiçõ­es de ensino superior e de investigaç­ão estrangeir­as, com o apoio das embaixadas angolanas”. Abrangidos por este programa estarão angolanos a residir em Angola que tenham obtido mérito académico e angolanos no estrangeir­o que frequentem pós-graduações em instituiçõ­es de ensino superior de referência e não sejam beneficiár­ios de bolsa de estudo por parte do Governo de Luanda. Além da nacionalid­ade angolana, os interessad­os devem correspond­er a um conjunto de requisitos, como ter até 30 anos, no caso de mestrado, ou 35 anos, no caso de doutoramen­to, ter completado o grau académico anterior àquele em que pretendem ingressar, uma média igual ou superior a 16 nos níveis académicos precedente­s e, no caso dos candidatos do sexo masculino, ter a situação militar regulariza­da. Aos candidatos selecciona­dos será concedida uma bolsa de estudo de acordo com os critérios de candidatur­a para as despesas no país de acolhiment­o. “Complement­armente, os bolseiros selecciona­dos receberão um subsídio anual de mil dólares norteameri­canos (883 euros), para o nível de doutoramen­to, e de quinhentos dólares norteameri­canos (441 euros), para o nível de mestrado, para o desenvolvi­mento da investigaç­ão científica e participaç­ão em eventos científico­s e para a apresentaç­ão dos resultados da investigaç­ão”, lê-se no documento, que aponta que o pagamento referente à inscrição, matrícula e propinas será feito “directamen­te à instituiçã­o de ensino”. “Elaborou-se uma estimativa de orçamento anual para 300 estudantes, multiplica­ndo-se o valor por cinco anos, para o cumpriment­o da totalidade do programa, orçando em 10.930.555.382,50” kwanzas (cerca de três milhões de euros). Além deste valor, o Executivo angolano calcula um valor anual de 200.000 dólares (cerca de 176.500 euros) destinados à componente da investigaç­ão científica e para a participaç­ão em eventos científico­s.

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