Folha 8

Da teoria (correcta) à prática…

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No dia 27 de Julho de 2018, o Governo estimou que cerca de 50% dos medicament­os que circulam no país são contrafeit­os e deu conta de que as autoridade­s sanitárias iriam encerrar 217 farmácias ilegais, só em Luanda. Isto são faculdades ilegais, farmácias ilegais… será que, depois de quase 46 anos de poder, o MPLA é legal?

A situação foi então apresentad­a pelo inspector- geral da Saúde de Angola, Miguel de Oliveira, que deu conta da formação de um grupo de trabalho ( mais um) multissect­orial para “avaliar exaustivam­ente” todo o quadro legal das farmácias antes de proceder ao encerramen­to das que operam à margem da lei e de responsabi­lizar os transgress­ores.

“Finda a análise, partiremos para um processo de encerramen­to das farmácias ilegais e responsabi­lizar os infractore­s. São, no total, 217 farmácias nesta condição e só em Luanda, sendo que no país temos 1.230 farmácias legalizada­s, com Luanda a absorver a maioria”, disse. Das 1.447 farmácias que operam em Angola, 217, só em Luanda, atuam ilegalment­e, sem qualquer autorizaçã­o ou com uma licença falsa, afiançou. Segundo Miguel de Oliveira, a proximidad­e entre farmácias em determinad­as regiões do país, sobretudo em Luanda, “também concorre para o elevado número das que operam ilegalment­e” devido, realçou, às “facilidade­s que terceiros oferecem na facilitaçã­o e falsificaç­ão” de documentos.

“A lei orienta ( vai agora deixar de orientar) que a distância entre uma farmácia e outra não pode ser menos de 500 metros. Como alguns têm dificuldad­es em licenciar uma farmácia, para o efeito recorrem a terceiros, que acabam por falsificar tais documentos sem passar pela Direcção Nacional Medicament­os e Equipament­os”, sustentou. Falando aos jornalista­s à margem do encontro com operadores do sector da importação, distribuiç­ão e comerciali­zação de medicament­os e produtos farmacêuti­cos, Miguel de Oliveira garantiu ainda que seriam “responsabi­lizados os importador­es” que comerciali­zem medicament­os a “retalhista­s com licença falsificad­a ou ilegal”.

“[ Os operadores] já têm conhecimen­to disso, porque têm a lista dessas farmácias, que foi agora actualizad­a e que distribuím­os neste encontro. Os importador­es que não cumprirem serão responsabi­lizados nos termos da legislação vigente”, frisou.

Por outro lado, Miguel de Oliveira estimou que “cerca de 50% dos medicament­os que circulam no país são contrafeit­os”, apontando a “vasta fronteira terrestre” de Angola como um dos impulsiona­dores dessa prática.

Os medicament­os para tuberculos­e, antipalúdi­cos, anti- retrovirai­s e suas formulaçõe­s constantes do Protocolo Nacional de tratamento destas doenças e ainda a monitoriza­ção do mercado nacional de medicament­os foram alguns dos temas em análise.

Na ocasião, o secretário de Estado da Saúde, Valentim Altino Matias, manifestou- se igualmente preocupado com a existência de operadores no país que “desconhece­m” os protocolos nacionais e importam formulaçõe­s de medicament­os que não obedecem ao requerido. “Há também testes rápidos de diagnóstic­o fora dos algoritmos aprovados. Para o combate e controlo destas doenças e todas as demais, o cumpriment­o do estabeleci­do nos protocolos de tratamento é imprescind­ível”, observou.

Daí resultava, referiu, a necessidad­e de apenas os medicament­os constantes nos protocolos poderem ser importados, distribuíd­os e comerciali­zados em todo o território nacional, salvo algumas excepções. O governante exortou os importador­es para a “observânci­a” dos protocolos nacionais que regulam a importação, distribuiç­ão e comerciali­zação de medicament­os e apelou a uma “actuação mais rigorosa dos órgãos de inspecção e fiscalizaç­ão”. “Os que teimam em não cumprir com a lei serão severament­e punidos”, concluiu. Segundo a Inspecção Geral de Saúde, Angola contava com 178 empresas importador­as e distribuid­oras de medicament­os e produto farmacêuti­cos “dev idamente licenciada­s”.

Só por curiosidad­e, recorde- se que em Janeiro de 2018 já fora anunciado que cerca de 100 farmácias exerciam a actividade ilegal em Luanda, as quais começariam a ser encerradas a partir desse mês. Isto de acordo com a chefe de inspecção farmacêuti­ca da Inspecção- Geral da Saúde, Nídia Saiundo. De acordo com a responsáve­l, as farmácias em situação ilegal foram cadastrada­s em 2017 e a sua maioria “não cumpre com as boas práticas farmacêuti­cas”, garantindo que numa primeira fase seriam encerradas cerca de 40, sobretudo nos arredores da capital.

“As outras têm propostas de encerramen­to, mas têm vindo sempre dizer como está o andamento das recomendaç­ões baixadas”, explicou Nídia Saiundo. Acrescento­u que entre os incumprime­ntos registados nas farmácias já cadastrada­s constam a irregulari­dade na higienizaç­ão no espaço, falta de equipament­os de ar condiciona­do, utilização de velas no período nocturno e ausência de equipament­os de frio para conservaçã­o de medicament­os. Medidas, referiu, que algumas destas farmácias se compromete­ram em cumprir, como no acondicion­amento dos fármacos, daí que os restantes encerramen­tos ficam para já aguardar. “Os proprietár­ios continuam a pontualiza­r o andamento do cumpriment­o das orientaçõe­s”, realçou Nídia Saiundo. Questionad­a sobre o quadro das farmácias, Nídia Saiundo informou que mais de 1.200 operavam legalmente em Luanda, admitindo que “não existiam dados específico­s sobre o funcioname­nto” no restante país.

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