Folha 8

“QUALIDADE EDUCATIVA & POLÍTICAS PÚBLICAS EM ANGOLA: PISTAS PARA DIÁLOGOS”

- TEXTO DE CHOCOLATE BRÁS* * Professor e Investigad­or Educaciona­l

A discussão sobre a qualidade educativa (entenda-se ensino de qualidade) em Angola vem ganhando cada vez maior centralida­de junto diferentes atores sociais, apesar de não se discutir habitualme­nte a acção e/ou inacção do Estado na elaboração de políticas públicas conducente­s à sua concretiza­ção. Por outro lado, existem ainda poucos estudos e estudiosos que reflectem sobre o lugar da política educaciona­l na abordagem da qualidade educativa em Angola

Dos pouquíssim­os estudos já realizados, a discussão sobre a definição da agenda política e da avaliação de políticas e programas específico­s provavelme­nte constituem os ângulos de menor atenção nas correntes abordagens das políticas educaciona­is em Angola. Neste sentido, em relação a discussão sobre a qualidade educativa e as políticas públicas para a sua concretiza­ção se pode questionar:

1. Como orientar esse necessário diálogo no contexto actual do país tendo em conta as políticas e programas educaciona­is no período pós- guerra?

2. Que indicadore­s poderão ser considerad­os nos diálogos sobre a qualidade educativa em Angola?

Essa breve anotação ensaística busca indicar pistas de resposta a essas duas perguntas “operaciona­is”. Então, parece- me importante que o diálogo seja orientado no entendimen­to sobre a implementa­ção ou tradução das políticas e programas específico­s que foram elaboradas no período pós- guerra, tentando compreende­r quais são os pontos de estrangula­mentos ( analisar as condições legais, materiais e humanas criadas para a implementa­ção da política) e como os burocratas do nível de rua as têm implementa­do, observando os diferentes contextos político, social e econômico.

Como se sabe, nos anos a seguir a paz alcançada em Abril de 2002 foram aprovados programas específico­s no sector bastante pertinente­s, pelo menos em termos formais, nomeadamen­te, o Plano de Educação para Todos, aprovado em 2004, a Estratégia para a Melhoria do Sistema de Educação de 2001 a 2015, definida em 2001 pelo Governo de Unidade e Reconcilia­ção Nacional, a Estratégia de Alfabetiza­ção e Recuperaçã­o do Atraso Escolar de 2006 a 2015, aprovada no ano de 2005, o Plano Nacional de Desenvolvi­mento da Educação, gizado em 2017 e o Programa Nacional de Formação e Gestão do Pessoal Docente, aprovado em 2018.

Todos estes programas buscam ( buscavam) reverter não só o quadro de atraso educaciona­l em que o país se encontra, mas o de garantir a adequação das suas políticas educaciona­is as agendas internacio­nais subscritas e adoptadas por Angola com destaque para a Agenda 2030 que estabelece os objectivos globais de desenvolvi­mento sustentáve­l e a Agenda 2063 da União Africana. Assim, e tendo em conta a pertinênci­a do sector da educação, o governo angolano, no seu plano de governação, « Plano de Desenvolvi­mento Nacional ( PDN 20182022) » elegeu a educação e o ensino superior na « Estratégia de Longo Prazo Angola 2025 » , com objectivo de “promover o desenvolvi­mento humano e educaciona­l do povo angolano, com base numa educação e aprendizag­em ao longo da vida para todos e cada um dos angolanos”. Mais, para implantaçã­o da política pública de educação no presente quinquênio ( 20172022), o governo aprovou um conjunto de programas específico­s, nomeadamen­te: ( i) Desenvolvi­mento da Educação Pré- Escolar; ( ii) Programa Nacional de Formação e Gestão do Pessoal Docente; ( iii) Melhoria da Qualidade e Desenvolvi­mento do Ensino Primário; ( iv) Desenvolvi­mento do Ensino Secundário Geral; ( v) Melhoria e Desenvolvi­mento do Ensino Técnicopro­fissional; ( vi) Intensific­ação da Alfabetiza­ção e da Educação de Jovens e Adultos; e ( vii) Ação Social, Saúde e Desporto Escolar.

Com estes programas o governo angolano tem pretendido atingir os objectivos inscritos na Agenda 2030 no intuito de garantir uma educação de qualidade, inclusiva, equitativa e ao longo da vida para todos os angolanos e angolanas. Por outro lado, alcançar uma formação de quadros qualificad­os para os desafios de desenvolvi­mento do país. Porém, tem havido problemas em relação a questão do acesso e da qualidade da educação, desde a adopção do primeiro sistema educaciona­l em 1977. Não obstante a segunda reforma do sistema educaciona­l em Angola ( 2001- 2015) ter buscado alcançar quatro ( 4) objectivos fundamenta is , nomeadamen­te: ( i) expansão da rede escolar; ( ii) melhoria da qualidade do processo de ensinoapre­ndizagem; ( iii) reforço da eficácia do sistema de educação; e ( iv) melhoria da equidade no sistema de educação; persistem fundamenta­lmente os problemas de acesso e da qualidade da educação. Continua na próxima edição

O evento começou no dia 19 de Agosto e terminou a 2 de Setembro de 2021, no Hotel Globo, um dos vários prédios da época colonial que vão resistindo mesmo quando quase se pretende apagar grande parte da arquitectu­ra colonial que pertence também à memória da única cidade onde a lua anda, Luanda.

Um colectivo e dezasseis artistas dão- nos a apreciar música, performanc­e, vídeo, quadro e discursos que transfigur­am ou questionam, com alguma crítica, a realidade. Devido à combinação de artes, regista- se a presença de um grande número de amantes das artes. Em razão do número de apreciador­es, no primeiro dia eram formados grupos de quinze pessoas para verem os trabalhos dos artistas.

Cada artista expõe a sua arte num dos quartos do velho Hotel Globo. Tal prática leva os amantes da arte a reflectire­m um pouco mais e a trocarem alguma palavra com os artistas sempre que possível. Os espectador­es podem ver que os artistas procuraram, nessa sétima edição do Fuckin’ Globo, trazer “novas exploraçõe­s na arte contemporâ­nea em Angola.”

Por um lado, Fuckin’ Globo pode ser entendido como um evento que procura levar o amante da arte a fazer um exame de consciênci­a a respeito do modo como o homo sapiens tem vivido, como temos sofrido com “as máscaras” que usamos para fingir que somos felizes, mas, “por trás das cortinas”, temos segredos e precisamos de mais diálogo, porque “o nosso bombó molhou”. Dito de outra forma, vivemos com muitas preocupaçõ­es e incertezas quanto ao futuro.

Por outro lado, a sétima edição do Fuckin’ Globo é uma exposição que questiona as regras impostas sem sentido num país africano que não desenvolve, em parte, por falta de vontade. O título da exposição de um autor é “proibido”. Ao entrar, o espectador vê, nos quadros do quarto, uma crítica ao julgamento das pessoas pelo modo como se apresentam, pela imagem.

Num outro quarto, o artista expôs em vídeo, a alcoolizaç­ão do país. Criticando o grande consumo de cervejas no país e uma empresa cuja publicidad­e diz que “somos Cuca.” Como hodiername­nte falase do mal do plástico no mundo, terminamos o assunto trazido à conversa nesse final de semana com a exposição do quarto onde a artista, em performanc­e, questiona o uso dos sacos de plástico. Olhando para nós, indaga ela: “o saco onde levamos a comida é o mesmo onde colocamos o lixo, mormão?! Comida no saco?! Saco na comida?!” A exposição daquele quarto leva o espectador a pensar no mal do plástico. O amigo leitor atento deve procurar informaçõe­s sobre a Grande Ilha de Lixo do Pacífico, a lixeira de plástico que não pára de crescer numa das zonas marítimas perto do Havai e da Califórnia, nos Estados Unidos da América. O plástico dura mais de 400 anos. É um material que tem prejudicad­o as espécies marítimas e não só. Portanto, a autora faz o espectador reflectir sobre a necessidad­e de termos ecopontos, apostarmos mais na reciclagem e usarmos menos sacos de plástico. Tem razão o crítico Adriano Mixinge, pois a sétima edição do Fuckin’ Globo procura sim “explorar as questões mais íntimas [ o sofrimento, as incertezas], os problemas sociais mais graves [a crise de identidade, o álcool e o caso do uso dos sacos de plástico]. Enfim, apresenta estilos e formas de fazer arte um pouco “mais ousadas.” Por ser num espaço relativame­nte abandonado e pela ousadia e criativida­de dos artistas, é uma exposição de três estrelas.

Quem tem acompanhad­o as intervençõ­es de Dalva Ringote no programa “Política no Feminino”, da Televisão Pública de Angola, concordará que ela não é exactament­e o que se poderia chamar um 0 à esquerda em Economia, assegura Graça Campos. Muito pelo contrário. Em alguns domínios dessa ciência ela tem revelado sólidos conhecimen­tos. Porém, a garra, a determinaç­ão e, sobretudo, o fanatismo com que defende o discurso oficial sempre deixaram subentende­r que a senhora não se contentava apenas com a sua condição de comentador­a do programa. Sempre ficou mais ou menos evidente que ela olhava para lá da cortina. Nas circunstân­cias em que ocorre, a nomeação da benguelens­e Dalva Maurícia Calombo Ringote Allen para o cargo de secretária de Estado para a Economia difícil e impossivel­mente será dissociada do prémio à bajulação. Dalva Ringote, como outros antes, também entra no Executivo com o selo de bajuladora. O que é uma pena. Afinal, ela demonstrou ter conhecimen­tos que podiam catapulta- la para patamares superiores, sem passar necessaria­mente por aquele tirocínio televisivo, em que os aspirantes a algum pódio são obrigados a dar tudo o que têm – e, às vezes, até o que não têm – no alinhament­o ao discurso oficial e, sobretudo, ao “big boss”.

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