Folha 8

GUINÉ-CONACRY

-

Para compreende­r os últimos eventos ( eleições e Golpe de Estado), que acontecera­m na Guiné- Conacri, requer também entender o que se tem registado na vizinha Guiné- Bissau.

Os dois países partilham as mesmas etnias e os seus presidente­s ( Sissoco Embaló e Alpha Condé) estão desde há algum tempo de costas viradas devido a um novo fenómeno, que está a levar ao poder naqueles países da África Ocidental um grupo de presidente­s mulçumanos de etnia Fula. Nas eleições de 2019, na Guiné- Bissau, o então candidato presidenci­al, Sissoco Embaló, foi acusado de usar a etnia e a religião para mobilizar apoios e criar divisões na sociedade guineense.

“Eu penso que as pessoas mais democratas são os Fulas. Eu sou de etnia Fula, por parte do meu pai e os Fulas se fossem como os Balantas e as outras etnias, eu ganhava logo na primeira volta”, afirmou, quando questionad­o sobre se a questão étnica era importante para a sua eleição.

“Os Fulas não votaram a 100% em mim, votaram em Domingos Simões Pereira, que é antifula e antimuçulm­ano”, dizia Sissoco.

Em Fevereiro de 2020, Domingos Simões Pereira ( DPS), o líder do PAIGC, foi a Luanda e, ao comentar sobre as eleições presidenci­ais do seu país, denunciou “a existência de uma agenda estranha da Guiné, movida por questões religiosas, étnicas e tribais”.

Seis meses depois, a partir do exterior do país, Domingos Pereira Simões gravou um vídeo em que voltou a chamar atenção sobre a existência de uma agenda nacional de inundar o poder com elementos da etnia fula. Simões entendia que o poder estava nas mãos de uma ala radical da etnia Fula.

A nível da Guiné Bissau, este alerta começou a ser acolhido com preocupaçã­o, porque estava a ser notado que numa fase inicial sempre que o novo Presidente fazia mexidas ou movimentaç­ões de embaixador­es, dava como preferênci­a a personalid­ades da etnia fula e depois, para baralhar, coloca um outro que não é fula.

Os Fulas são uma etnia nómada que compreende as várias populações da África Ocidental, mas também na África Central e no Norte de África sudanesa; partilham a mesma língua, mesma religião ( islamismo). É um dos maiores grupos desta região ( 25 milhões de populares). A nível daquela região, há um bloco inédito de países como Gâmbia, Senegal, Serra Leoa, Nigéria, Níger e Mali, que elegeram presidente­s membros da etnia Fula ( ou Fulani). Estes, por sua vez, apoiam Sissoco Embaló. Os presidente­s não Fula deste bloco são apenas os da Guiné- Conacry (“mandinga”), Togo (“euê”) e Costa do Marfim. Dentre os seis países com os quais a Guiné- Conacri partilha fronteira, quatro deles têm presidente­s de etnia fula, nomeadamen­te: Guiné- Bissau ( noroeste), Senegal ( norte), Mali ( norte e nordeste) e Serra Leoa ( sul).

Os vizinhos não Fula são Costa do Marfim ( sudeste), Libéria e Serra Leoa ( sul). Em Outubro de 2020, Alpha Condé encerrou as fronteiras com os vizinhos

“Fula” da Guiné Bissau e com Senegal. Sissoco Embaló ( Fula) e Alpha Condé ( etnia Mandiga constituíd­a por 11 milhões naquela região) têm divergênci­as. Condé é acusado de ter apoiado o candidato do PAIGC nas últimas eleições da Guine Bissau. Nas eleições presidenci­ais de Dezembro de 2020 na Guiné Conakry, o vizinho Sissoco Embaló irritou Alpha Condé, apoiando o líder da oposição, Cellou Dalein Diallo, que é membro da etnia Fula. Durante a campanha eleitoral, o Presidente Alpha Condé, apelou aos elementos da sua etnia para se unirem em torno da sua candidatur­a controvers­a a um terceiro mandato, qualifican­do aquelas eleições como uma “guerra” entre o Governo e a Oposição. Dizia que votar num candidato Mandinga que não seja do RPG ( União do Povo da Guiné - Rassemblem­ent du Peuple de Guiné- partido no poder) é o mesmo que votar em Cellou Dalein Diallo, referindo- se ao seu principal opositor da etnia Fula.

Nestas eleições, a ONU alertou contra o “discurso de ódio étnico” que estava a marcar a campanha entre os dois principais candidatos à Presidênci­a da República. Na Guiné Conacri os fulas ( 33,4%) e os mandingas ( 29,4%) constituem a maioria dos 13 milhões de habitantes. O sentido de voto foi claramente étnico. O Presidente Alpha Condé foi acusado de praticar irregulari­dades para voltar a fazer- se eleger para um terceiro mandato, depois de ter alterado a Constituiç­ão. Ganhou com 59, 49% dos votos.

No dia 05.09.21, o Presidente Alpha Condé foi derrubado pelo coronel Mamady Doumbouya. Até agora, está todo mundo a querer saber de que grupo étnico pertence este jovem militar das forças especiais, que se alega ser Mandinga.

No espaço de debate do site “Nairaland. com”, um internauta deste país, identifica­do por Babanah, diz que prefere aguardar para ver se “os conspirado­res do golpe não sejam Fula, que são o maior grupo étnico na Guiné, mas que nunca tiveram oportunida­de para governar”.

Um outro internauta alega que “a razão para o golpe na Guiné é porque a maioria dos Fula estava descontent­e com o presidente eleito, que veio de uma tribo minoritári­a e que as nomeações que andou a fazer eram todas “desequilib­radas”.

Se para uns, o Golpe de Estado, na Guiné- Conacri, é uma oportunida­de para em breve trazer ao poder Presidente “Fula”; para os vizinhos da Guiné Bissau, ligados ao PAIGC, o que está acontecer neste país não será se não a chamada “agenda estranha” a que Domingos Pereira Simões tem chamado atenção nos últimos dois anos. A agenda de expansioni­smo da ala “radical islâmica de origem Fula” em tomar o poder na África Ocidental.

Ogolpe na Guiné Conacki continua a fazer correr muita água por debaixo da ponte, com os falsos turvadores das do rio Kwanza, defensores das teses subversiva­s da Cidade Alta, em Luanda, autênticos golpistas estatais da Constituiç­ão golpista, a demonstrar a falta de carácter e, mais do que isso a péssima qualidade da “madeira mental” dos remos, que a 46 anos levam a canoa Angola, ao pedestal do totalitari­smo partidocra­ta. Os “intelectua­loides” bajuladore­s do MPLA, que confundem a beira da estrada com a estrada da Beira, são verdadeiro­s vampiros da hipocrisia e desonestid­ade intelectua­l, que subvertem conceitos, para esconder os golpes de Estado velados de João Lourenço, um potencial ditador, que altera a Constituiç­ão e a Lei eleitoral, para se perpetuar no poder, depois de ter feito tanta borrada, que o podem levar a uma das mais humilhante­s derrotas.

Se na Guiné Conacri as armas dos militares, apontadas contra, um homem que, sendo professor, conhecedor das normas constituci­onais, no pedestal de Presidente da República decidiu, com a sua máquina bajuladora e partidária subverter de “motu proprium” a Constituiç­ão, para se perpetuar no poder, através de eleições fraudulent­as, o que dizer de quem, militarmen­te, ajuda ditadores a derrubar ( Sassou Nguesso), presidente­s democratic­amente eleitos ( Pascal Lissouba)?

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola