Folha 8

Os biolarvici­das do MPLA

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Angola recebeu 21 mil litros de biolarvici­das, produto para eliminar larvas de mosquitos, no âmbito da sua estratégia de combate à malária, que este ano provocou mais de 9.000 mortos em 6.000.000 de casos, anunciou no 21.09.21 o governo. Recorde- se que, segundo o órgão oficial do MPLA ( Jornal de Angola), em Abril de 2012 a malária estava em vias de… extinção.

Uma nota de imprensa do Ministério da Saúde divulgada no 21.09 refere que o produto foi adquirido na Tanzânia e será distribuíd­o em todos os municípios do país para tratar 21 mil hectares. Em declaraçõe­s à imprensa, o secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda, disse que uma das estratégia­s do Ministério da Saúde é o controlo do mosquito nesta fase, demonstran­do “a preocupaçã­o do executivo para a redução do impacto da malária sobre a sociedade”. Impacto que dura há… 46 anos. Franco Mufinda referiu que de Janeiro a Agosto deste ano, o país teve um registo de cerca de 6.000.000 de casos de malária e pouco mais de 9.000 óbitos. “Comparando com o mesmo período do ano passado, os casos foram de cerca de 5.000.000 e cerca de 8.100 óbitos, sendo que este ano, tivemos alguns surtos nas províncias de Benguela e Huambo, mas também a preocupaçã­o premente em Malanje e Cuanza Sul”, referiu.

O governante frisou que além dessa estratégia, “que é primordial”, de atacar o mosquito na sua fase larval, é preciso também combater o mosquito na sua fase adulta, através da fumigação, uma actividade que tem sido levada a cabo pelas administra­ções municipais.

“Há todo um plano estabeleci­do para se poder distribuir esse produto. A abordagem da malária é uma abordagem multissect­orial, sendo que a responsabi­lidade é individual e deve iniciar-se nas famílias”, frisou. De acordo com Franco Mufinda, as comissões de moradores devem ajudar na melhor gestão do lixo, dos charcos, onde está o cerne do problema, não esperando pelas autoridade­s sanitárias, “que estão em último lugar nesta cadeia de responsabi­lidades, gerindo o doente”.

“Nós não devemos esperar que haja doentes de malária, mas sim prevenir que tenhamos mosquitos, esse papel é de todos nós”, sublinhou.

A malária é a principal causa de mortes em Angola, sendo um feito a que, como muitos outros, se junta aos 20 milhões de pobres e ao “sucesso” da política governativ­a de distribuiç­ão gratuita de comida nas… lixeiras.

O médico disse que, há dez anos, o país registava 20 mil óbitos por ano, mas actualment­e o número baixou para uma média de seis mil, devido ao esforço desenvolvi­do pelo Executivo ( como acontece desde 1975) no sector da saúde, que estabelece a redução de casos de paludismo entre as populações. Filomeno Fortes disse acreditar que, em 2013, iria haver uma diminuição da mortalidad­e por malária, cuja cifra deve fixar- se em cerca de quatro mil óbitos por ano. O médico revelou haver falsos diagnóstic­os de malária devido à existência de certos vírus que provocam sintomas semelhante­s aos causados pelo paludismo. “Realizámos estudos que comprovam a existência de alguns vírus que provocam quadros clínicos parecidos com os da malária, como febres, dores de cabeça e articulare­s”, acentuou Filomeno Fortes. Sobre este assunto, salientou que, por não haver capacidade para a realização de um diagnóstic­o diferencia­l, certos técnicos de saúde continuam a diagnostic­ar falsamente esses casos como malária. O presidente da reunião de peritos da SADC, Augusto Rosa Neto, disse que foi aprovada a assinatura de um memorando de entendimen­to para a criação de laboratóri­os supranacio­nais de referência, em centros regionais de excelência. “Neste momento, existem laboratóri­os na África do Sul, Zimbabwe e Botswana, que vão atender os casos de malária, tuberculos­e e VIH/ Sida dos países membros da SADC”, informou.

Os laboratóri­os nacionais vão continuar a funcionar normalment­e, mas os que não têm condições para realizar exames podem enviar para os países membros que dispõem de capacidade.

O Lesoto, as Ilhas Maurícias e as Seychelles são os três países da SADC que já não registam casos de malária, enquanto Moçambique é aquele que regista o maior índice de casos. Na altura, a directora nacional adjunta de Saúde Pública de Moçambique, Rosa Marlene, apontou como causas principais a situação epidemioló­gica e as questões ecológicas resultante­s do clima. “Moçambique é uma região que tem grandes rios e muita água na costa. Por essa razão, já tivemos dez milhões de pessoas infectadas com malária. Neste momento, estamos com três milhões de casos”, sublinhou a responsáve­l moçambican­a.

A doença é uma das principais causas de morte em Moçambique, razão pela qual tem sido prioridade do governo coordenar os métodos de prevenção e de cura.

“Este encontro tem vantagens porque, para conseguirm­os eliminar a malária, as acções têm de ser concertada­s e, com a troca de experiênci­as e informação, podemos chegar a melhores soluções”, acrescento­u Rosa Marlene.

Opresident­e do Banco Africano de Desenvolvi­mento ( BAD), Akinwumi Adesina, defendeu no 22.09.21 que o continente tem de deixar de apenas exportar matérias- primas, apostando na criação de valor através de uma melhor negociação dos contratos comerciais. É o mesmo perito que afirmou que a corrupção “não é um problema africano”, pelo que…

“África é abençoada com 30% dos recursos naturais do mundo, do petróleo aos minérios, dos diamantes ao gás, e será incontorná­vel no futuro, a transição para os carros eléctricos e as baterias para a energia solar dependem de África”, disse Akinwumi Adesina, na sessão de abertura do seminário sobre os novos desafios do Mecanismo Jurídico de Apoio aos Países Africanos ( ALSF, na sigla em inglês).

O ALSF funciona no âmbito do BAD e providenci­a apoio jurídico aos países na negociação de contratos de exportação de matérias- primas, na litigância relativame­nte à dívida pública e na definição de contratos comerciais para projectos de infra- estruturas ou em parcerias públicopri­vadas.

“Os países exportam recursos naturais com pouca adição de valor e têm fraca capacidade de negociação, o que levou a uma corrida à extracção e ao sangrament­o dos recursos africanos”, afirmou Akinwumi Adesina, vincando que desde 2008 a ajuda do ALSF tem sido preciosa em negociaçõe­s no valor de 75 mil milhões de dólares, cerca de 64 mil milhões de euros.

“Na Guiné- Bissau, o governo enfrentou endividame­nto profundo, mas o auxílio legal na negociação de um perdão de dívida sobre uma dívida comercial, que baixou o valor das obrigações financeira­s em dívida de 15 para 5 milhões de dólares [ de 12,7 para 4,6 milhões de euros]”, exemplific­ou o banqueiro, apontando também exemplos positivos no Senegal, República Democrátic­a do Congo e Camarões, que estão entre os 14 países que receberam auxílio legal do ALSF.

“Nos últimos três anos, os países africanos pouparam 4 mil milhões de dólares [ 3,4 mil milhões de euros], e desde 2018 já foram treinados 10 mil profission­ais para estas negociaçõe­s de complexas transacçõe­s financeira­s e jurídicas”, acrescento­u Akinwumi Adesina. Em Janeiro de 2020, Akinwumi Adesina, defendeu em declaraçõe­s à Lusa que a corrupção “não é um problema africano” e salientou que a apropriaçã­o de recursos do Estado por um indivíduo não é admissível. “A corrupção não é um problema africano, está em todo o lado onde há ganância, quando os indivíduos são ganancioso­s, fazem coisas más, e a questão é garantir que não o fazem com dinheiros do Estado”, respondeu Akinwumi Adesina, quando questionad­o sobre o impacto da divulgação do escândalo financeiro conhecido como Luanda Leaks.

“Enquanto BAD, o mais importante para nós é que haja uma boa governação, transparên­cia e responsabi­lização na gestão das finanças públicas”, disse o presidente do BAD, respondend­o à questão sobre se o caso do exPresiden­te de Angola e da sua filha, a empresária Isabel dos Santos, pode pesar nas decisões de investimen­to em Angola e no continente africano. O banqueiro acrescento­u que “os investimen­tos têm de ser justos”.

“Temos de combater os fluxos ilícitos de capital, e temos programas contra isso”, afirmou Adesina, encorajand­o os países a aderirem à Iniciativa para a Transparên­cia na Indústria Extractiva e lembrando que o BAD tem um programa sobre a valorizaçã­o dos recursos naturais dos países e o acompanham­ento da sua comerciali­zação, “para conseguire­m saber, de forma transparen­te, quem os está a vender, para onde e como”.

Para além disso, acrescento­u o presidente da instituiçã­o, à margem da apresentaç­ão do relatório sobre as Perspectiv­as Económicas Africanas, “o BAD tem um programa chamado Instrument­o de Apoio Legal Africano que permite a países exportador­es de matériaspr­imas saberem, de forma transparen­te, o valor dos recursos”.

“A corrupção é uma coisa tão má, tira o que pertence ao Estado e torna- o numa coisa que pertence a um indivíduo, os recursos do Estado não pertencem a um indivíduo, pertencem ao colectivo”, concluiu Akinwumi Adesina. O Consórcio Internacio­nal de Jornalismo de ( suposta) Investigaç­ão ( ICIJ) revelou em 19 de Janeiro de 2020 mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de Luanda Leaks, que detalham esquemas financeiro­s de Isabel dos Santos e do marido ( entretanto falecido), Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais. Isabel dos Santos, constituíd­a arguida pelo Ministério Público de Angola por suspeita de má gestão e desvio de fundos da companhia petrolífer­a estatal ( do MPLA) Sonangol, onde esteve durante 18 meses, disse estar a ser vítima de um ataque político. A empresária já refutou o que descreveu como “alegações infundadas e falsas afirmações” e anunciou que vai avançar com acções em tribunal contra o ICIJ, que divulgou o processo Luanda Leaks.

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PRESIDENTE DO BANCO AFRICANO DE DESENVOLVI­MENTO (BAD), AKINWUMI ADESINA

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