Quando todos têm razão
As recentes eleições presidenciais zambianas criaram nas redes sociais angolanas dois campos que se “digladiaram” até ao limite.
De um lado, posicionaramse aqueles que defendem que, tal como na Zâmbia, em Angola a alternância presidencial é possível e está no horizonte de muitos cidadãos.
Do outro, colocaramse aqueles para quem a alternância, no nosso país, só mesmo em sono. “Zâmbia não é Angola”, repetiram, até à “rouquidão aqueles que entendem que o MPLA e o seu presidente são inamovíveis. Estranhamente, os dois lados têm razão.
1. Como na Zâmbia, em Angola também haverá alternância. É uma questão de tempo. O MPLA não está petrificado no poder. Por isso, é legítimo o paralelismo entre os dois países.
2. Angola e Zâmbia são, efectivamente, diferentes. Em Angola, o Governo acaba de autorizar o aumento de propinas no ensino privado e público entre 15 a 25 %. António Pacavira, presidente da Associação Nacional do Ensino Particular, quase desdenhou de tais aumentos, qualificandoos como pouco significativos.
Na Zâmbia, mal foi eleito, o novo Presidente ordenou o fim das propinas escolares para garantir ensino gratuito a todos os cidadãos. A imprensa zambiana dá como certo que, de visita aos Estados Unidos, o Presidente Hakainde Hichilema já tem garantida audiência na Casa Branca. Na quintafeira, 23, ele será recebido na Casa Branca pela vicepresidente Kamala Harris. Uma delegação de altos funcionários da Presidência angolana está nos Estados Unidos há mais de uma mês a “torrar dinheiro” para tentar que o Presidente João Lourenço seja recebido na Casa Branca. Não conseguiu.
O Jornal de Angola está a comemorar como sucesso da digressão americana de João Lourenço uma homenagem que lhe será feita por uma associação de ambientalistas. É uma bela “consolação”. A activista Laura Macedo diz que a ICCF, a fundação que promoverá a homenagem a João Lourenço, é detida por um grupo que é financiado pelo Governo angolano. Outra diferença marcante entre a Zâmbia e Angola: o Presidente Hakainde Hichilema viajou aos Estados Unidos a bordo de um avião de carreira da Qatar Airways e comanda uma comitiva de apenas 4 indivíduos, ele incluído. Em Angola e por causa da dita parceria estratégica que se diz que vai de vento em popa, contamse pelos dedos das mãos – e ainda sobrarão muitos – os ministros que não foram incorporados na delegação presidencial.