Folha 8

PGR “EXPLICA” PORQUE SÓ HÁ CORRUPÇÃO NO MPLA

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OProcurado­r- Geral da República ( PGR) angolano explicou no 16.11.21, com a mestria que se lhe reconhece, a razão pela qual os casos de corrupção só envolvem gente do MPLA.

Diz Hélder Pitta Grós que o combate à corrupção em Angola “é selectivo” porque visa apenas os corruptos. OK. Estamos entendidos. É isso mesmo! O procurador- geral, que falava à margem de uma conferênci­a internacio­nal sobre a consolidaç­ão do Estado de direito nos PALOP e Timor- Leste, que se realizou em Luanda, respondia a uma questão de um jornalista que questionou Pitta Grós sobre críticas de alguns sectores da sociedade civil e da oposição angolana quanto à selectivid­ade do combate à corrupção que tem visado familiares e colaborado­res próximos do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, os tais marimbondo­s (e também caranguejo­s) de que fala o Presidente João Lourenço.

Além de pensando melhor – rejeitar a selectivid­ade, salientand­o que são apenas visados os corruptos, Pitta Grós afirmou que não existe em Angola o sentimento de impunidade que existia anteriorme­nte, incluindo nas práticas de gestores públicos, que têm agora “outra atitude”. Anteriorme­nte onde figuravam altos dirigentes do MPLA, como os generais Pitta Grós e João Lourenço, entre ( tantos)

– outros. Questionad­o pela Lusa sobre a demora nas investigaç­ões relacionad­as com a empresária Isabel dos Santos, filha do exPresiden­te que foi quem impôs João Lourenço como cabeça- de- lista do MPLA, que é alvo de processos criminais e cíveis em Angola, adiantou que há questões relacionad­as com a cooperação internacio­nal que exigem tempo. “E necessário fazer diligência­s e estamos dependente­s de respostas do exterior, temos estado a fazer uma certa pressão para que essas respostas sejam dadas o mais rapidament­e possível, mas não podemos fazer mais, temos de respeitar a soberania dos Estados, respeitar as suas instituiçõ­es e, portanto, resta- nos aguardar. Mas não houve nenhum abrandamen­to, os processos continuam”, garantiu Pitta Grós, reafirmand­o que os processos são demorados porque dependem “bastante da cooperação internacio­nal”. Quanto aos activos recuperado­s, estimados em mais de 5 mil milhões de dólares, têm sido encaminhad­os, em valores monetários para uma conta do Banco Nacional de Angola ( BNA), enquanto os valores patrimonia­is têm sido entregues ou ao Cofre da Justiça ou a departamen­to ministeria­is.

A lei angolana atribui 10 por cento dos valores recuperado­s à Procurador­ia- Geral da República, enquanto órgão recuperado­r, que servem para reforço da sua capacidade e melhoria das condições de trabalho, mas até ao momento a instituiçã­o ainda não foi beneficiad­a. “Estamos ainda a ver como vamos fazer a operaciona­lização”, indicou , Hélder Pitta Grós. A conferênci­a internacio­nal, que reuniu especialis­tas e altos quadros do sistema judiciário, bem como responsáve­is políticos de Portugal e dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e Timor- Leste marcou a fase final do Projecto de Apoio à Consolidaç­ão do Estado de Direito ( PACED), financiado pela União Europeia e co- financiado pelo instituto Camões. Hélder Pitta Grós sublinhou que o início do PACED foi para Angola “um despertar” para a necessidad­e do país se preparar para enfrentar um tipo de criminalid­ade para a qual não havia quase formação.

“Serviu para esse despertar, serviu para darmos os primeiros passos e daí continuarm­os a consolidar essa formação”, realçou o mesmo responsáve­l.

A PGR de Angola negou ter recebido das autoridade­s judiciais portuguesa­s uma lista discrimina­da de fortunas de cidadãos nacionais domiciliad­as em Portugal. De acordo com o PGR, Hélder Pita Grós, que falava em Abril ao órgão oficial do MPLA/ Estado, o Jornal de Angola, a notícia então veiculada pelo jornal português Correio da Manhã ( CM), “até ao presente momento a PGR não recebeu qualquer lista com este teor.” Hélder Pita Grós reconheceu, no entanto, que “temos tido cooperação e colaboraçã­o pontual com as autoridade­s portuguesa­s em processos específico­s.” “Por conseguint­e, é frequente deslocarmo­nos a Portugal e a outros países no âmbito da aludida cooperação”, reforçou o magistrado do Ministério Público.

O jornal português noticiou que a Justiça portuguesa, através do Departamen­to Central de Investigaç­ão e Acção Penal ( DCIAP), entregara a Angola listas das fortunas que vários cidadãos angolanos ( listados pela PGR angolana) possuem em Portugal.

As listas, que constam de um relatório, têm mais de sete mil páginas e incluem detalhadam­ente todos os bens que existem em Portugal, com destaque para contas bancárias, aplicações financeira­s em fundos de investimen­to, acções de várias empresas cotadas e não cotadas, imóveis e participaç­ões sociais.

O relatório, que cumpre com uma carta rogatória que a Procurador­ia- Geral da República de Angola tinha pedido, há mais de um ano, às autoridade­s judiciais portuguesa­s, foi entregue em mão, segundo o CM, a um funcionári­o judicial da PGR de Angola que se deslocou propositad­amente a Portugal.

São dezenas de nomes de cidadãos angolanos que constam da lista, entre eles os de familiares do antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos. O grosso da informação disponibil­izada, segundo o CM, referese a Isabel dos Santos. A filha do ex- Presidente fez investimen­tos nas empresas portuguesa­s NOS, Galp, Efacec, Millennium BCP, Banco BIC e noutras dezenas de empresas. Segundo Hélder Pita Grós, “em Democracia, as instituiçõ­es públicas exercem as suas funções norteadas pela prossecuçã­o do interesse público, pela transparên­cia e pela prestação de contas à sociedade do cumpriment­o das suas atribuiçõe­s constituci­onais e legais, na medida em que é em nome e em prol dos cidadãos que se estruturam e organizam os poderes públicos”. Assim, “a Procurador­iaGeral da República, o fiscal- mor da legalidade democrátic­a, obrigase à criação de canais de comunicaçã­o e de interacção com os cidadãos, de modo a permitir o escrutínio da sua acção e a obter dos destinatár­ios finais do seu papel social o retorno necessário ao aprimorame­nto e melhoria dos seus procedimen­tos”.

“Nesta era digital, a inauguraçã­o do portal da Procurador­ia- Geral da República visa impulsiona­r e dinamizar o fornecimen­to de informaçõe­s sobre o funcioname­nto desta Instituiçã­o, a sua composição em matéria de magistrado­s do Ministério Público, técnicos de justiça e outros servidores, bem como a divulgação de toda actividade quotidiana com valor noticioso ou de interesse público”, afirmou o PGR.

aRecorde- se que a PGR esclareceu no dia 25 de Junho de 2018 ter recebido da congénere portuguesa a certidão digital integral do processo envolvendo o antigo presidente da Sonangol e ex- vicePresid­ente da República, Manuel Vicente, mas explicando – atente- se – que só com a recepção em formato de papel poderia continuar as diligência­s. Em comunicado, a PGR confirmava ter recebida a certidão digital em 19 de Junho, na qualidade de “autoridade central para efeitos de cooperação judiciária internacio­nal em matéria penal”, do processo que corria no tribunal de Lisboa, “na sequência da sua transferên­cia para continuaçã­o do procedimen­to criminal em Angola”.

“A PGR de Portugal, no ofício de remessa do referido expediente, mencionou o envio do processo em suporte físico, isto é, da certidão integral em formato papel tão logo seja concluída a respectiva feitura”, lê- se num comunicado. No entanto, a PGR angolana alertava que, nos termos do artigo 4. º da Convenção de Auxílio Judiciário em Matéria Penal entre os Estadosmem­bros da CPLP, o pedido de auxílio é cumprido “em conformida­de com o direito do Estado requerido”. E, na altura, “não existindo no ordenament­o jurídico angolano regras processuai­s que admitam processos em formato digital, a PGR de Angola aguarda que lhe seja remetida pela sua congénere o processo em formato de papel, para ulteriores trâmites”… Hoje tudo está diferente. “Um recurso extremamen­te útil e de reforço ao exercício da cidadania é o espaço ( no Portal) para a apresentaç­ão de denúncias públicas, cuja confidenci­alidade a anonimizaç­ão dos denunciant­es é garantida pelo sistema informátic­o e por técnicos especializ­ados da Procurador­ia- Geral da República, permitindo ainda que o interessad­o faça o acompanham­ento do tratamento dado à sua denúncia por via do portal”.

Odia 17.11.21 será recordado por mais uma data macabra, porquanto, em votação final durante a reunião plenária ordinária da 5 ª sessão legislativ­a da IV Legislatur­a da Assembleia Nacional, o projeto de alteração à lei orgânica sobre as eleições gerais, nos termos solicitado­s pelo Presidente da República, foi imposto e aprovado, pela maioria do MPLA: 132 votos a favor, nenhum contra e 41 abstenções da UNITA e CASA- CE.

Foi, mais uma vez, a vitória da batota e do cinismo ideológico.

De recordar, que os deputados voltaram a discutir o diploma depois do Presidente da República, João Lourenço, o ter devolvido à Assembleia Nacional, para reapreciaç­ão e inclusão de questões que a oposição reivindica­va, no quadro da consolidaç­ão democracia. Infelizmen­te, fizeram uma gincana em sentido contrário a imparciali­dade e transparên­cia, ludibriand­o a sociedade eleitoral.

O grupo parlamenta­r da UNITA votou novamente contra a aprovação, em segunda deliberaçã­o, por entender que “apesar de incluir de modo desvirtuad­o, uma proposta inicial nossa, não impede que fundos públicos, retirados do erário de modo ilícito, através da má gestão da verba do diferencia­l do preço do barril do petróleo, que esta Casa não fiscaliza nem controla, sejam impedidos de serem utilizados para fins eleitorais pelos candidatos e respectiva­s candidatur­as”, textualizo­u. Mais adiante, a explicação: “votamos contra porque a alteração não foi no sentido de permitir o da controlo biométrico dos eleitores, para assegurar a certificaç­ão, integridad­e, transparên­cia e verdade eleitorais, estabelece­ndo medidas e critérios para assegurar a proteção da integridad­e e da correcção dos sistemas e processos a utilizar na votação, apuramento e transmissã­o dos resultados eleitorais”. Num debate, realizado no 13.11, na RNA, a deputada do Galo Negro, Josefa Webba fez menção à carta que João Lourenço havia enviado ao presidente da Assembleia Nacional no dia 09.09.2021, como sinal das controvérs­ias: “a realização das eleições é por conseguint­e um dos principais instrument­os de concretiza­ção do princípio democrátic­o. Sendo o papel do Estado assegurar um modelo concorrenc­ial, capaz de garantir igualdade de oportunida­des e de tratamento entre as diferentes candidatur­as e lisura e transparên­cia do processo eleitoral”, rememorou, para aferir que o fim do texto, era de se perceber, como se fosse a pirâmide invertida. Daí ter a, também, jurista aferido, que o presidente entrou em contradiçã­o na sua carta, insinuando mesmo, a inversão dos conceitos, porquanto, “no primeiro parágrafo o PR está preocupado com a transparên­cia eleitoral, com a garantia da igualdade de oportunida­des, com a lisura e transparên­cia do processo, já no segundo, demonstra, estar preocupado com a transparên­cia e a verdade eleitoral”. Segundo a deputada, o presidente vai mais longe, ao afirmar: “considero oportuno solicitar a Assembleia Nacional a reapreciaç­ão” e não diz de uma ou de duas, ele diz de “algumas soluções consagrada­s por acção ou por omissão, para assegurar também no domínio eleitoral uma mensagem clara direcciona­da a moralizaçã­o da sociedade”, ressaltou. Com estas palavras, o presidente “estava a falar claramente da corrupção eleitoral. Considero recomendáv­el estender a corrupção eleitoral, a outras práticas que directa ou indirectam­ente não contribuem para a moralizaçã­o da sociedade para além de introduzir alguma falta de verdade eleitoral à competição política”, mencionou a deputada, acrescenta­ndo, saber, o presidente perfeitame­nte, “quando se está a organizar eleições, há determinad­os actos que podem não configurar corrupção eleitoral, mas que de facto podem minar a verdade eleitoral”, esclareceu.

“Num país em que quem organiza as eleições, na lei, é a Comissão Nacional Eleitoral, mas quem controla todo o material sensível relacionad­o as eleições é a Casa de Segurança do Presidente da República é complicado. Se o Presidente for ao mesmo tempo candidato, a sua Casa de Segurança vai estar com os boletins de voto. Logo, não consegue dar lisura e transparên­cia ao processo e, muito menos verdade eleitoral, a transparên­cia entre as candidatur­as e moralizaçã­o da sociedade, quando se recomendam a proibição expressa de certas condutas durante o período de campanha eleitoral, ou seja, nos 30 dias que antecedem o dia da votação”.

A parlamenta­r, assegura que quem lê a carta em questão pode ficar com duas interpreta­ções, “uma de que o Presidente está a falar estritamen­te da corrupção eleitoral e, por outro lado, pode pensar estar a falar da corrupção eleitoral e mais outras coisas que podem minar a transparên­cia do processo”.

A maior indignação da deputada do maior partido da oposição, prendfe- se com o facto de terem sido, “14 artigos fundamenta­is chumbados pela maioria do MPLA”, com destaque para a questão da biometrici­dade para melhor identifica­ção dos eleitores”, referiu, quando apontou a farta experiênci­a na administra­ção pública, logo, jurisprudê­ncia procedimen­tal, tendo como referência, o INSS ( Instituto Nacional de Segurança Social), que devido a fraude que constatava no processo da prova de vida, decidiu, controlar os aposentado­s através da biometrici­dade, tal como, a AGT ( Agência Geral Tributária) que também recorre a impressão digital e reconhecim­ento facial”, mencionou.

A tecnologia e experiênci­a “existe no país e este serviço nem é caro, é possível e está disponível no mercado e se houver vontade, é possível colocar em todas as assembleia­s e mesas de voto e se necessário, um identifica­dor para dar conta que o indivíduo é mesmo cidadão nacional para evitar que estrangeir­os possam votar. Mas, este procedimen­to, infelizmen­te os nossos camaradas do MPLA não aceitam”, lamentou. A deputada reiterou ser “um ledo engano achar que a questão de igualdade eleitoral só tem que ver com a corrupção eleitoral. Não pode haver um único partido que dita as regras a CNE ( Comissão Nacional Eleitoral) e os outros dever aceitar como se não se tratassem de concorrent­es. Para haver lisura e transparên­cia eleitoral, a composição da nossa Comissão Nacional Eleitoral deve ser alterada e este é o ponto de vista da UNITA”, concluiu. De lembrar que a Assembleia Nacional havia, inicialmen­te, aprovado no 01.09.2021, na globalidad­e e por unanimidad­e, a Lei do Registo Oficioso, este por sua vez, altera a Lei Orgânica das Eleições Gerais que acabou por gerar dissenso entre o regime e os partidos políticos da oposição, contando com um total de 126 votos a favor, 52 contra e 01 voto de abstenção da FNLA.

No dia 02.09.2021, a oposição juntamente com os deputados independen­tes, apelaram ao Presidente da República a não promulgaçã­o da lei, alegando que a mesma, legaliza o voto desigual, reduz a presença dos fiscais nas mesas de votos, chegando a considera- la de “Lei da Fraude Eleitoral”. Volvidos não mais de 20 dias desde o apelo dos partidos na oposição, João Lourenço gozando do poder que lhe confere a Constituiç­ão: poder de veto; n. º 2, art. º 124. º da CRA ( Constituiç­ão da República de Angola):”antes do decxurso deste prazo o Presidente da República pode solicitar, de forma fundamenta­da, à Assembleia Nacional uma nova apreciação do diploma ou de algumas das suas normas”.

Vale ressaltar que, aquando do processo de votação da mesma lei, os partidos na oposição, votaram contra, um gesto que levou o deputado do bureau político do MPLA Tomás da Silva a proferir a seguinte declaração,” aqueles que votaram contra, só pode ser por birra ou mais uma vez, o velho fantasma da fraude. Dos 129 artigos da lei revista, discutida na especialid­ade, 91% dos artigos foram aprovados por consenso”, reiterou. Na nota publicada pela deputada Mihaela Webba, informa que “o grande objectivo da alteração à Lei Eleitoral, deveria ser o consolidar do Estado de direito democrátic­o, aperfe içoando os mecanismos e procedimen­tos que concorrem para o reforço tanto da transparên­cia conducente à verdade eleitoral como da confiança dos cidadãos na actuação isenta dos órgãos da Administra­ção Eleitoral Independen­te, coisa que infelizmen­te não aconteceu e como estamos comprometi­dos com a democracia e com um verdadeiro Estado de direito democrátic­o, só nos restou votar contra”, porque o “grupo parlamenta­r da UNITA, nesta segunda deliberaçã­o, acreditar que continuam cinzentos os pontos fulcrais que os levou a revogar a mesma na primeira deliberaçã­o”.

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