Folha 8

Ministro da Justiça e dos Direitos Humanos angolano, Francisco Queiroz

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Oministro da Justiça e dos Direitos Humanos ango lano , Francisco Queiroz, considerou no 15.11.21 que o conflito de 1992 em Luanda “foi um erro político que redundou em violência e gerou muitas vítimas”, apelando ao fim da “irresponsa­bilidade política”. Pois. E os erros ditos políticos do MPLA já davam para uma candidatur­a vencedora ao Guinness World Records. Francisco Queiroz, que falava na qualidade de coordenado­r da Comissão para a Implementa­ção do Plano de Reconcilia­ção das Vítimas de Conflitos ( CIVICOP), na cerimónia que marcou a entrega aos familiares dos restos mortais de Alicerces Mango e Salupeto Pena, mortos nos conflitos de 1992, em Luanda.

“É hora de reparar esse erro, de perdoar e de nos reconcilia­rmos, sem perguntarm­os quem provocou o erro, de quem foi a culpa”, realçou o ministro. Errado, Senhor Ministro. A reconcilia­ção só é possível sabendo- se a verdade, assumindo- a, e dizendo quem foram, ou são, os responsáve­is. Nas eleições presidenci­ais realizadas em Setembro de 1992, as primeiras na história do país, nem o candidato do MPLA, o então Presidente José Eduardo dos Santos, nem o seu adversário, Jonas Savimbi, da UNITA, conseguira­m maioria absoluta nas presidenci­ais, mas a segunda volta nunca se realizou.

No final de Outubro, com o fracasso do processo eleitoral, Luanda ( mas não só) foi palco de violentos confrontos entre as forças militares da UNITA e governamen­tais, que levaram ao reinício da guerra civil em Angola, depois de um período de paz.

O governante angolano considerou ainda que este é o momento de se perdoar, “sem précondiçõ­es, os envolvidos nos acontecime­ntos trágicos que levaram à perda de muitas vidas humanas”.

Errado, Senhor Ministro. O ( eventual) perdão só é possível sabendo- se a verdade, assumindo- a, e dizendo quem foram, ou são, os responsáve­is. “O momento é de homenagear a memória dos que pereceram, sem olhar para o lado do conflito em que se encontrava­m quando perderam a vida. O momento também é de mudança de comportame­ntos e atitudes. Chega de erros políticos trágicos”, referiu. O coordenado­r da CIVICOP pediu também o fim dos “actos de irresponsa­bilidade política, que podem redundar em violência e provocar sofrimento ao povo”. Francisco Queiroz tem razão. Continuar a considerar Agostinho Neto, o responsáve­l máximo dos massacres de milhares e milhares de angolanos em 27 de Maio de 1977, como o único herói nacional pode “redundar em violência e provocar sofrimento ao povo”. Pode mesmo. “Chega de ver as diferenças como males a combater e a abater.

Chega de desrespeit­ar os que querem viver em paz e cumprir as suas obrigações cívicas e patriótica­s com liberdade. Chega de desrespeit­ar a memória dos que perderam a vida vitimados pela insensatez dos erros políticos”, frisou o ministro.

Chega desde que todos assumam as suas responsabi­lidades com verdade. É preciso que todos saibam quem foram, ou são, os autores. Sabemos que verdade dói. Dói muito mesmo. Mas só ela cura, só ela poderá estar na base da reconcilia­ção e da verdade. Desde logo porque a verdade não prescreve. Francisco Queiroz desejou que as pessoas que morreram vítimas de conflitos políticos, conhecidos e não conhecidos, identifica­dos e anónimos, não tenham sido perdidas em vão, consideran­do que o momento é “de aprender com os erros”, ainda em tempo de os reparar. “A nossa memória deve registar os erros políticos trágicos e lembrar- se deles. Esses erros não podem ser esquecidos, porque constituir­ão um alerta permanente para impedir que se repitam. Devemos recordar os erros políticos como marcos da nossa história que não queremos vivenciar jamais”, disse.

O ministro informou que oportuname­nte será feita a entrega das ossadas de Jeremias Chitunda e de Eliseu Chimbili, dirigentes da UNITA, bem como de vítimas resultante­s dos massacres de 27 de Maio, data conhecida na história do país como a suposta tentativa de um golpe de Estado liderada pelo dirigente do MPLA Nito Alves, em 1977. De acordo com Francisco Queiroz, esta acção tem sido possível “graças aos fortes investimen­tos realizados em especialis­tas nacionais e estrangeir­os, tecnologia, condições de trabalho e de logística”.

“Gostaríamo­s de apelar às famílias que se apresentem à CIVICOP para a recolha de material genético para exames de ADN”, exortou.

“Trata- se de um processo que se reveste de grande significad­o humano e é um gesto de inequívoco comprometi­mento com a reconcilia­ção e o perdão”, acrescento­u.

A CIVICOP foi criada em 2019 pelo Presidente João Lourenço, com objectivo de dar dignidade a todas as vítimas dos conflitos políticos registados em Angola entre 1975, ano da independên­cia, e 2002, fim da guerra civil no país, e se alcançar o perdão e a reconcilia­ção nacional. No ano passado, João Lourenço pediu publicamen­te perdão, em nome do Estado angolano, pelas “execuções sumárias” registadas naquele período, tendo ficado registado para a história a primeira vez, em 44 anos passados, uma homenagem pública às vítimas do 27 de Maio de 1977.

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