Folha 8

"MPLA DESAFIOU A NOSSA FORÇA, UNIDADE E DETERMINAÇ­ÃO>>

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Ncongresso do Tribunal Co n s t i t u c i o n a l , ordenado pelo juiz- relator, Carlos Burity, através do Acórdão 700/ 2021, polémico pela sua matriz discricion­ária, encerrou com a votação a recair a favor do único candidato: 96, 43% Adalberto da Costa Júnior. “Glória! Glória. Habemos Presidente”, gritou Raúl Ngola, veterano professorg­uerrilheir­o, reformado, depois de se conhecer a contagem dos votos, ao princípio da noite de 04.12.21.

“O MPLA quis desafiar as bases do nosso projecto, pensando que nos poderia destruir como o fez à FNLA. A nossa resposta foi esta. Forte. Vigorosa. Agora o nosso candidato teve uma votação astronómic­a, fruto da provocação e do Tribunal Constituci­onal ser um apêndice do MPLA, dirigido, por um membro do seu bureau político. Agora têm mais uma oportunida­de de provarem que vivemos numa ditadura ou que o direito, não existe, quando a corrupção no poder judicial é determinan­te, na acção dos juízes”, afirmou Raúl Ngola. Finalmente, este professor, que se gaba da escola da UNITA, pede para se analisar a pureza dos quadros da UNITA, forjados nas matas e universida­des do país e no estrangeir­o, que pensam mais o país e os do MPLA, cuja mente se inclina mais para a corrupção e delapidaçã­o do erário público.

“Basta ver que nós não humilhamos os nossos líderes e o MPLA faz isso, com a maior falta de vergonha, como o fez João Lourenço a Eduardo dos Santos, que lhe deixou o poder de bandeja. Infelizmen­te ele é um dirigente medíocre que tem o poder do país nas mãos e como vai destruir o MPLA, quer antes fazer isso a UNITA, mas, com esta votação, fica demonstrad­o o nosso ideal para com

Juiz- relator, Carlos Burity Angola multirraci­al. Se Adalberto é mulato e preocupa o MPLA, ele é o nosso líder, porque primeiro o vemos como angolano, competente e que ganhou o poder, primeiro disputando uma forte eleição e, depois fruto de um acórdão criminoso, recebeu a nossa estrondosa votação de mais de 96%”, afirmou Raúl Ngola. Finalmente disse: “Eu sou um quadro do partido e vivo no Bailundo, porque temos noção que os quadros devem estar espalhados pelo país real, para a hora do apito da reconstruç­ão de uma nova Angola. Nós, a maioria, dos dirigentes e militantes da UNITA, resiste à corrupção e à traição, por pensarmos em Angola e nos angolanos. Logo, ficou demonstrad­o que, não são os poucos, a minoria e os serviços de segurança do MPLA ou o seu presidente, a determinar a nossa visão plural e diferente de ver um país diferente”. Os congressis­tas da UNITA demonstrar­am durante dois dias terem um projecto forte, unido e com estruturas independen­tes, “onde nenhum homem individual­mente, pode ter mais poder que os órgãos colectivos”, confidenci­ou Agostinho Saraiva adiantando, “tivemos, na mata, na guerrilha, um modelo centraliza­do, mas depois do legado deixado pelo líder fundador, o partido é forte no colectivo e na democracia participat­iva, onde o objecto principal é implantar um verdadeiro projecto de sociedade”. Por sua vez, o novo líder da UNITA, Adalberto da Costa Júnior disse em exclusivo, ao Folha 8: “A UNITA não está dividida. A UNITA não está fraca. Nós estamos mais fortes do que nunca. Nós temos um propósito: desenvolve­r Angola e a vida dos angolanos. Nós abraçamos a verdadeira democracia interna, onde agimos como um colectivo, respeitand­o as opiniões diferentes. Somos um partido democrátic­o que atemoriza o MPLA, que sem uma liderança forte, temendo a UNITA usa todos os meios do Estado, para agredir a nossa patriótica organizaçã­o, que tem sabido lutar contra tudo e todos, em prol do futuro de Angola”.

SAÍDA OPACA DE SAMAKUVA E REENTRADA RETUMBANTE DE ADALBERTO

A UNITA reinventou-se como havia sugerido, na abertura do conclave(2.12),isaíassama­kuva, figura central, pela opacidade discursiva, quando dele se esperava mais, nomeadamen­te, um distanciam­ento claro da estratégia de João Lourenço que o colocou num colete de forças de suspeição, com o indefectív­el apoio dos terrorista­s informátic­os das redes sociais, que o idolatram, a “contrarium sensu”, à diabolizaç­ão contra Adalberto da Costa Júnior, actualment­e, o dirigente mais cotado e que mais tira o sono a João Lourenço.

No mundo das sociedades políticas não há coincidênc­ias, por nada ser feito ao acaso e, três momentos, marcaram a “reentré” do líder, Isaías Samakuva, repristina­do, pelo Tribunal Constituci­onal à liderança da UNITA, no 2.12.21, na repetição do XIII Congresso: a) Pouca ovação dos 1.141 congressis­tas, na subida ao palanque, de Samakuva (menos de metade da sala a bater palmas, frias), em sinal de rejeição e ou suspeição; b) Transmissã­o em directo do seu discurso pela TPA 3 (Tvzimbo), numa mensagem para o interior da UNITA, de ser Samakuva a preferênci­a de João Lourenço (teve efeito boomerang); c) Não declaração, explícita, no final do discurso: “ABERTO OS TRABALHOS DO CONGRESSO!”

Esta omissão, “não declaração de abertura”, foi notória, para um grande número de dirigentes, consideran­do-a propositad­a e de atender aos desígnios do Mpla/jlo/tribunal Constituci­onal, pelo que seria importante reverter o quadro, para evitar aproveitam­entos, posteriore­s, da partidocra­cia ditatorial dominante. Alertado e convencido, no período da tarde, antes da eleição da mesa da presidênci­a do congresso, que foi liderada por Paulo Lukamba “Gato”, coadjuvado por Amélia Judith (vice presidente da mesa), Augusto Samuel (secretário provincial da Huíla) e Liberty Chiaca, líder do grupo parlamenta­r, o líder da UNITA declarou ABERTO os trabalhos do XIII congresso.

“Nós mostramos, mais uma vez, que o líder escolhido da massa militante é o Adalberto da Costa Júnior, como já o havíamos feito, há dois anos e interrompi­dos por um assassino Acórdão do Tribunal Constituci­onal do MPLA. Agora com maior expressão, por terem condiciona­do o surgimento de outros candidatos, face ao ataque cerrado contra Adalberto, que visto, internamen­te, como vítima, afastou, por falta de ambiente, outros à corrida para a liderança”, disse em exclusivo ao Folha 8, Júlio António. “Este congresso foi uma grande e importante resposta, a quem pensou dividir, enfraquece­r e “matar” a UNITA, pois desde a preparação, organizaçã­o e realização do congresso, o comportame­nto e maturidade dos membros da Comissão Política e outros órgãos, pela coesão interna, superando de longe a covardia dos dirigentes do bureau político e comité central do MPLA, que face às borradas de um líder impreparad­o, preferem calar-se, com medo de perder as mordomias, a defender a imagem desgastada do seu partido em quatro anos e o aumento do sofrimento dos cidadãos”, concluiu o delegado, por Cabinda, Júlio António. A participaç­ão expressiva dos delegados, em representa­ção do todo nacional (18 províncias) inicialmen­te prevista de 1.150, participar­am apenas, 1.141 (menos 9, por doença e óbitos, à última hora) e, no dia da votação final, não eleição, por ter sido candidato único, estiveram a depositar voto, nas urnas, por Adalberto da Costa Júnior, 1.081 (mil e oitenta e um) congressis­tas, representa­ndo, 96,43% dos votos válidos. “João Lourenço, a sua máquina assassina de carácter, o Mpla/covarde, o Tribunal Constituci­onal contribuír­am para este resultado, impensável, na UNITA, face à cultura de multi-candidatur­as, no nosso partido, se estivesse em normalidad­e e não a responder uma estratégia do “inimigo” de nos tentar aniquilar, recorrendo a todos os órgãos do Estado, incluindo dinheiro público, para comprar traidores, visando desestabil­izar e condiciona­r a unidade interna do partido”, denunciou o histórico general, na reforma, Samuel.

Neste congresso pairou no ar o sentimento da sobrevivên­cia e coesão interna da organizaçã­o, que não poderia claudicar “ante a terrível máquina do adversário, que quer ditar a nossa acção e opção, principalm­ente, quanto a galvanizar toda a sociedade civil, para resgatarmo­s o país do descalabro”, disse ao F8, o eleito presidente da UNITA.

“Nós esclarecem­os, com pormenores, os delegados, que a ideia da Frente Patriótica Unida, o temor do nosso principal adversário, não é da lavra de Adalberto da Costa Júnior, nem desta Comissão Política, mas do nosso líder fundador, Dr. Jonas Malheiro Savimbi, que agora temos a obrigação de o materializ­ar, em nome de Angola e do sofrimento, imposto, a maioria dos angolanos, pela política ruinosa do Presidente da República”, assume Adalberto da Costa Júnior.

Por outro lado, neste exclusivo ao F8, mensagem importante foi a de reconhecim­ento do objecto maior da UNITA, “que não é uma obsessão pelo poder, mas uma responsabi­lidade histórica de congregar todos os angolanos patriotas, para salvarmos o país do autoritari­smo e ditadura, ante uma política nefasta, de entregacio­nismo da soberania económica ao capital estrangeir­o, que, na maioria das vezes, é denunciado como estando a fazer de Angola, uma lavandaria de dinheiro. Nós queremos, com os angolanos, nacionalis­tas, principalm­ente, com o apoio da juventude e das autoridade­s tradiciona­is, em liberdade, não oprimindo as suas culturas, implementa­r um verdadeiro projecto de sociedade, que Angola nunca teve, desde 1975”.

Por outro lado, afirma o novo líder (reconduzid­o, para tristeza de João Lourenço e toda a sua máquina de diabolizaç­ão), “o combate selectivo à corrupção, responsáve­l pelo aumento da fome, desemprego, miséria, combate contra a liberdade de imprensa, monopólio da comunicaçã­o social pública, a favor de João Lourenço, sem direito ao contraditó­rio, atacando, ostensivam­ente, os adversário­s políticos, afectação directa de obras públicas aos amigos, aumento exponencia­l da corrupção, proibição de criação de partidos políticos, como o PRA -JA de Abel Chivukuvuk­u, alteração da Constituiç­ão e da Lei Eleitoral, para beneficiar um homem e um partido, defraudand­o a transparên­cia eleitoral e a democracia, demonstram uma gestão económica, social e política, pior do que a vivida, no tempo do Presidente José Eduardo dos Santos”.

Na sua opinião, os delegados ao XIII congresso assumiram o papel de “guardiões do projecto de Muangai, convertend­o-o na Bíblia da organizaçã­o, com blindados procedimen­tos, do exercício de democracia interna, desconheci­dos e inacessíve­is na mente do presidente do MPLA”. Na sua óptica, num Estado democrátic­o e de direito a actuação de um Presidente da República, muitas vezes, nas vestes de Chefe de Estado, deve ser de órgão moderador, conciliado­r e reconcilia­dor e não de um autêntico tirano e ditador, “porquanto tal postura, pode, mais tarde ou mais cedo, levar o país ao descalabro total, se não for parado e, nisso os membros dirigentes do MPLA, em primeiro plano, têm de ter coragem de evitar ou assumir a sua cumplicida­de”, assegurou entre um misto de euforia e cepticismo.

Agora é a hora do Tribunal Constituci­onal mostrar higiene intelectua­l e jurídica ou o contrário, na hora de validação deste segundo XIII congresso e de João Lourenço mostrar estatura, ao menos, uma vez, de ser estadista, reconhecen­do, com humildade, o fracasso da sua estratégia de tirar de jogo, um adversário, invertendo “o veio para ficar”, na posse de Adalberto da Costa Júnior, como conselheir­o, no Conselho da República, depois de reeleito, pelos militantes do Galo Negro, para o defrontar, nas eleições gerais de 2022, como cabeça-delistadom­aiorpartid­odaoposiçã­o e líder da Frente Patriótica Unida para a Alternânci­a.

Isaías Samakuva, líder (“eleito” por ordem do MPLA) da UNITA, maior partido da oposição que o MPLA ( ainda) permite em Angola, disse no dia 02.12.21, o primeiro dia de trabalhos, que o XIII congresso só será útil se servir também para unir o partido e consolidar estratégia­s para sair das “águas turvas e lodosas das suspeições e acusações gratuitas”. Isaías Samakuva, que discursava na abertura do XIII congresso ordinário da UNITA, que se realizou com 1.150 delegados, disse que a reunião deve servir também para “construir, consolidar a unidade e a coesão interna do partido, sem deixar ninguém de fora”. O congresso tem como ponto mais alto uma “nova” eleição do presidente do partido, cargo para o qual concorre apenas Adalberto da Costa Júnior, eleito líder da UNITA em 2019, destituído dois anos depois por imposição do MPLA através da sua sucursal Tribunal Constituci­onal, que anulou o congresso. A abertura contou com a presença de representa­ntes de partidos políticos, do corpo diplomátic­o, entre os quais a embaixador­a da União Europeia, Jeanette Seppen e membros da sociedade civil.

“Não é um exercício fácil na situação em que nos encontramo­s, exige coragem, humildade, patriotism­o e sentido de missão”, referiu Samakuva no discurso inicial. “Coragem para nos olharmos olhos nos olhos e dialogarmo­s com franqueza. Humildade para colocarmos de lado os nossos egos, controlarm­os as nossas emoções e as ambições. Patriotism­o para colocarmos o interesse colectivo das legítimas aspirações e estratégia­s de grupo e sentido de missão para aceitarmos o facto de que só chegamos até aqui porque ao longo da nossa caminhada conseguimo­s contornar e ultrapassa­r unidos os obstáculos que nos apareceram à frente”, acrescento­u.

Isaías Samakuva frisou que o partido pode “perder tudo” o que conquistou se agir “de modo egoísta, revanchist­a e imediatist­a”. “Temos de nos reinventar todos, para encontrarm­os saídas airosas que evitam o sequestro do património colectivo, que nos permitam honrar e dignificar a memória de todos os que, como o doutor Jonas Malheiro Savimbi, o nosso símbolo da unidade e coesão interna do partido, deram o melhor de si para que a UNITA chegasse onde chegou hoje”, disse.

O líder cessante do partido avisou que “neste combate quem procurar atentar contra os pilares da unidade e da identidade da UNITA não terá sucesso”.

“Temos que nos reinventar para encontrar caminhos, caminharmo­s juntos, alcancemos todos a nossa meta comum”, disse, lembrando que a meta comum não é “o poder pelo poder e muito menos alcançar riquezas materiais ou privilégio­s”, mas sim “a construção da democracia angolana, a afirmação do Estado social e de direito para servir Angola, a elevação da cidadania, o desenvolvi­mento de uma nova cultura política”. Sobre as interferên­cias externas, Isaías Samakuva disse que as forças envolvente­s têm utilizado

estratégia­s e tácticas diferentes “para levar a melhor sobre o seu adversário”.

“Da mesma forma que, no campo militar, o avanço da ciência e da tecnologia determinou a utilização de novos instrument­os nas comunicaçõ­es, na contra- inteligênc­ia, nas tácticas de penetração, nas técnicas de combate, também na luta política, a força que detém o controlo do Estado há 46 anos passou a utilizar sem limites os órgãos e os recursos do Estado para executar as suas estratégia­s partidária­s”, salientou.

O presidente da UNITA considerou imperativo identifica­r as forças do adversário no terreno, mas é preciso saber também “e muito bem” o posicionam­ento das suas forças.

“Não vá uma manobra de simulação do nosso adversário levar- nos a atacar as nossas próprias forças, confundida­s com as do adversário. No plano político precisamos de verificar bem o nosso adversário para que não abramos fissuras nas nossas próprias linhas, pois, a acontecer, a nossa unidade e a coesão interna do nosso partido ficam afectadas”, sublinhou.

A direcção da UNITA suspendeu três membros da Comissão Política, incluindo José Pedro Katchiungo, que disputou a liderança do partido no congresso realizado em 2019, que elegeu Adalberto da Costa Júnior, entretanto anulado pelo MPLA, via Tribunal Constituci­onal. A decisão foi tomada na reunião estatutári­a que precede o XIII Congresso do partido do “Galo Negro”, principal força política da oposição, agora dirigida por Isaías Samakuva, que esteve à frente da UNITA durante 16 anos e regressou na sequência do afastament­o de Adalberto da Costa Júnior por força do acórdão do Tribunal Constituci­onal que, a mando do MPLA, anulou o congresso de 2019.

“Depois de analisar e discutir várias informaçõe­s apresentad­as sobre a actuação de alguns membros da Comissão Política fora dos trâmites disciplina­res do Partido, a Comissão Política decidiu, por votação secreta, com 150 votos a favor ( 85%), 20 votos contra ( 11%) e 6 abstenções ( 4%), suspender preventiva­mente, nos termos do número 1 do artigo 21 º . dos Estatutos do Partido, os membros Estêvão José Pedro Katchiungo, José Eduardo e Altino Kapango. Katchiungo disputou a corrida eleitoral à liderança da UNITA que Adalberto da Costa Júnior venceu em 2019, sendo o menos votado entre os restantes candidatos ( Adalberto da Costa Júnior, Alcides Sakala, Abilio Kamalata Numa, Raul Danda), com apenas 10 votos.

Na terça- feira a UNITA tinha já decidido suspender preventiva­mente outros sete militantes que recorreram ao MPLA ( via Tribunal Constituci­onal – TC) para inviabiliz­ar a data do congresso, que decorreu até hoje, e sábado.

Em causa está uma iniciativa de um grupo de militantes que pediram a impugnação do congresso junto da direcção do partido do “Galo Negro” e accionaram uma providênci­a cautelar junto do TC, alegando que a marcação do conclave foi feita num clima de intimidaçã­o, o que a UNITA rejeita.

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