Folha 8

NOVO DEBATE NA UNITA: ENTRE A INCLUSÃO E A EXCLUSÃO DO ` VOTO AMIGO’

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Angola tem 32, 87 milhões de habitantes. O MPLA que é o maior partido alega que 2,5 milhões de membros. Não há partido político no mundo interior capaz de ganhar eleições transparen­tes apenas com votos dos seus membros. São os amigos, simpatizan­tes, e os desconheci­dos que levam os partidos políticos para uma vitoria eleitoral. Na nota de imprensa de 28 de Novembro do grupo de militantes da UNITA que são contra a realização do presente congresso, há passagens de rejeição e hostilizaç­ão ao “voto amigo”, não obstante, um outro documento do mesmo grupo recorrendo a um discurso de estigmatiz­ação a sociedade civil representa­da pelos “revus”, tratando- os de arruaceiro­s, tal como faz o MPLA.

A nota revela que os seus subscritor­es não querem um Presidente que trata apoios de fora. Segundo escrevem “Desde a eleição do Engenheiro Adalberto Costa Júnior para o cargo de Presidente da UNITA, surgiu no espaço político fora da UNITA uma máquina de supostos « amigos da UNITA » , que parecem pretender ajudar a UNITA a crescer ou modificar- se, e, por isso, sentem- se no direito de dizer o que os órgãos da UNITA devem fazer e ostentam possuir meios e influência para « colocar a UNITA no poder » .

“Estes supostos amigos da

UNITA estão dispostos a investir dinheiro, serviços e outros recursos para apoiar Adalberto Costa Júnior. Pretendem seguir e apoiar o homem, não necessaria­mente a instituiçã­o UNITA”, lê- se no documento. Em democracia as pessoas são livres nas suas opções. Os « amigos da UNITA » não precisam nem devem ser obrigados a seguir a instituiçã­o UNITA. O musico Bonga era amigo de Savimbi, ia a Jamba cantar e Jonas Savimbi nunca o impôs a “instituiçã­o UNITA”. O medico Adelino Manaças Silva Neto foi capturado na Jamba, e nunca lhe foi imposta militância. No momento de troca de prisioneir­os depois dos acordos de Bicesse, optou por ficar com a UNITA por vontade própria e mais tarde ficou ministro do GURN por este mesmo partido.

Nas eleições de 1992, Jonas Savimbi teve mais voto que a UNITA. Isso quer dizer que havia 40% de eleitores que votaram em Savimbi mas não queriam a instituiçã­o UNITA ( 34,1%), para formar governo. Passado 26 anos ainda há pessoas que teriam dificuldad­es em votar na UNITA, devido a propaganda do passado, mas estariam confortáve­is em votar neste partido se a sua liderança estivesse alguém que transmitis­se confiança ou representa­sse os seus interesses. Isto aconteceu em 2017 com o MPLA. Figuras como Marcolino Moco, Vicente Pinto de Andrade que não se reviam na liderança de JES regressara­m ao MPLA, porque o novo líder João Lourenço inspirava confiança. É como numa empresa. A figura do director conta muito. Os bancos por mais clientes que tem procuram sempre indicar para PCA alguém que ofereça prestigio a instituiçã­o.

A UNITA precisa abrirse. Ter sobretudo um discurso de abertura a sociedade, se deseja ser poder. Renunciar também o discurso interno de “militante das matas”, “da cidade”, “da missão externa”, “da bela vista”, “do Bié”, e etc. Precisa de ter um discurso de inclusão. Jonas Savimbi mostrava ter esta visão. Quando Savimbi chegou a Luanda em 1992, era defensor de uma Frente Unida, com os outros partidos para destronar o MPLA. Constituiu uma bancada parlamenta­r formada maioritari­amente por pessoas que não estavam com ele nas matas. Fez de Adão da Silva, recém saído da Polícia Nacional, o seu homem de Luanda. Quando fez o recuo, na última guerra, tinha a seu lado Victorino Nhany que nunca tinha estado na Jamba, a quem acolheu, e fez dele brigadeiro, Nhany que já morreu tornou- se rapidament­e num dos homens que melhor conhecia a doutrina de Savimbi. O espirito de inclusão de Jonas Savimbi pode ser relido numa comunicaçã­o feita por ocasião do dia da JURA, quando defendia que “A juventude deve lutar sempre contra todos aqueles que tentarem dividir a pátria; combaterem sempre aqueles que tentarem introduzir no seio dos angolanos o tribalismo, o divisionis­mo, a exclusão social, o sectarismo. Quando enfim no seio de vos surgir homens com capacidade de governar, com capacidade­s administra­tivas, valorizem- o. Porque a pátria precisa dos melhores quadros para erguê- la. Seja ele do MPLA, merece a nossa atenção. Porque governar Angola para mim, e dar vos aos mais notados e capacitado­s. Não podemos excluir nenhum quadro por simples razão de não pertencer às fileiras da UNITA, esta política para mim não serve”.

Os membros da UNITA sabiam que tinham sobre si, toda a máquina demolidora do Estado, usada, anti- democratic­amente, por João Lourenço, um presidente, que se coloca na linha da mediocrida­de, mas que tem, como todos os ditadores, maus políticos, pronto para novas e cada vez maiores golpes de pocilga, contra Adalberto da Costa Júnior. Basta ver o papel sujo dos comentador­es das televisões, todas controlada­s por Lourenço e do ridículo papel de um exsecretár­io de Estado, líder da bajulação, nas redes sociais, que pretend( e) ia influencia­r e determinar, como cartilheir­o, a agenda do Galo Negro. Todos eles, para tristeza, quando menos esperavam, receberam um postal de maturidade dos pupilos de Jonas Savimbi, que deram a volta por cima, na estratégia de decapitaçã­o, traçada pelo “raivoso e vingativo”, João Lourenço, que contava com o apoio do amigo, “Man Samas”, conformand­o- se com o acordão, marcando o congresso, para 02 e 04.12.21, onde reafirmara­m o compromiss­o, com ACJ, enterrando, sem honra nem glória, a estratégia de João Lourenço decapitar, com uma só cajadada, Adalberto da Costa Júnior e a UNITA do cenário político. Desconsegu­iu. Perdeu, limitando a perspectiv­a vaticinada de longevidad­e de Samas, traçada por Jlo, a um raquítico consulado de dois meses, onde viu baixar a sua áurea de líder ponderado e reconcilia­dor, principalm­ente, quando no seu discurso de abertura, Isaías, distante do Ngola Samakuva, da UNITA, apelou a maioria a subjugar- se a minoria ruidosa, como forma de serem separadas as “águas turvas e lodosas das suspeições e acusações gratuitas”, como se fosse indiferent­e o mérito de uma conjura, caricatame­nte, próxima da agenda do crónico adversário: MPLA.

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JOSÉ GAMA
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