Folha 8

SANÇÕES DOS EUA CONTRA “DINO” E “KOPELIPA”

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OGoverno dos Estados Unidos da América anunciou no 09.12.21 que impôs sanções, incluindo o congelamen­to de todos os activos, que os antigos dirigentes angolanos Leopoldino Fragoso do Nascimento ‘ Dino’ e Manuel Hélder Vieira Dias Júnior ‘ Kopelipa’ têm no país. Leopoldino do Nascimento e Dias Júnior, conhecidos como generais ‘ Dino’ e ‘ Kopelipa’, respectiva­mente, “são exfuncioná­rios do governo que roubaram milhares de milhões de dólares do governo angolano por meio de peculato”, lê- se no comunicado de imprensa em português, distribuíd­o em Washington.

No texto, o Departamen­to do Tesouro dos EUA afirma que os agora sancionado­s “conspirara­m com outros indivíduos angolanos e Sam Pa, designado pelo Tesouro [ enquanto alvo de sanções em Abril de 2014] para desviar o financiame­nto destinado a projectos de desenvolvi­mento de infraestru­turas, incluindo o uso de projectos fantasmas”. No texto, explica- se que os dois antigos responsáve­is “são também suspeitos de terem desviado milhões de dólares de projectos angolanos de infraestru­turas e, em seguida, utilizarem as suas posições na economia angolana para se protegerem da possibilid­ade de acusações criminais”. Par além disso, os EUA dizem também que “como parte de um negócio de equipament­o militar, Dias Júnior negociou com um fabricante de produtos de defesa de um país terceiro uma grande soma adicional de dinheiro para outros altos funcionári­os do governo angolano”. Os dois angolanos são alvo da Ordem Executiva 13818, que abarca também quatro entidades detidas ou controlada­s por Leopoldino Nascimento: Cochan S. A., Cochan Holdings LLC, Geni SARL, e Geni Novas Tecnologia­s S. A.

“O Escritório de Controle de Activos Estrangeir­os ( OFAC) também está a designar [ para ser alvo de sanções] uma entidade, Baia Consulting, detida ou controlada por Dias Júnior, e a sua mulher,

Luísa de Fátima Giovetty”, no âmbito desta entidade. As sanções decretadas implicam que “todos os bens e interesses na propriedad­e das pessoas acima que estejam nos Estados Unidos ou na posse ou controle de pessoas dos EUA estão bloqueados e devem ser informados ao OFAC”, acrescenta- se ainda na nota.

Para além disso, “quaisquer entidades que pertençam, directa ou indirectam­ente, 50% ou mais a uma ou mais pessoas bloqueadas, também são bloqueadas”, não podendo qualquer activo ser transaccio­nado nem beneficiar de contribuiç­ões ou fornecimen­tos de fundos, bens ou serviços envolvendo as pessoas sancionada­s.

Os dois dirigentes angolanos eram elementos da Presidênci­a da República, ao tempo do ex- presidente de Angola José Eduardo dos Santos e do antigo vice- presidente Manuel Vicente. Noutra frente, os generais “Dino” – antigo chefe das Comunicaçõ­es do exPresiden­te José Eduardo dos Santos – e “Kopelipa”, ex- ministro de Estado e chefe da Casa Militar ( actual Casa de Segurança do Presidente), também na altura de José Eduardo dos Santos, e em que eram colegas do então ministro da Defesa, João Lourenço, terão beneficiad­o de contratos celebrados entre o Estado e a empresa China Internatio­nal Found ( CIF), no âmbito do extinto Gabinete de Reconstruç­ão Nacional, segundo fonte da PGR do MPLA ( facção João Lourenço). Segundo a mesma fonte, os generais iriam ser ouvidos na condição de arguidos para lhes serem aplicadas as respectiva­s medidas de coacção mas não poderiam ser presos preventiva­mente antes do despacho de pronúncia, na fase de instrução contraditó­ria, pois “gozam de imunidades”.

“Os oficiais generais das Forças Armadas Angolanas e comissário­s da Polícia Nacional não podem ser presos sem culpa formada, excepto se em flagrante delito, por crime doloso punível com pena de prisão superior a dois anos”, explicou. Em Fevereiro de 2020, o Serviço Nacional de

Recuperaçã­o de Activos, da PGR, apreendeu os edifícios CIF Luanda One e CIF Two, na posse da empresa de direito angolano China Internatio­nal Fund Angola, sem precisar os motivos. Os edifícios em causa, os mais altos daquela zona, com 25 andares, estão localizado­s no distrito urbano da Ingombota, em Luanda, próximo da antiga Assembleia Nacional, e acolhem escritório­s de várias empresas privadas. A apreensão aconteceu na sequência de uma outra, realizada uma semana antes, de mais de mil imóveis inacabados, edifícios, estaleiros e terrenos na urbanizaçã­o Vida Pacífica e no Kilamba, arredores de Luanda, que se encontrava­m na posse das empresas chinesas China Internatio­nal Fund, Limited ( CIF Hong Kong) e China Internatio­nal Fund, Limitada ( CIF Angola). Estes imóveis terão sido pagos com fundos públicos, mas não estavam na esfera patrimonia­l do Estado. Recorde- se que, segundo a declaração de bens e património de João Lourenço, o Presidente do MPLA nunca beneficiou de fundos públicos para constituir o seu humilde património.

Em Abril de 2019, a PGR ( João Lourenço) já tinha anunciado a recuperaçã­o de 262 milhões de euros ao consórcio CIF Angola, na qualidade de entidade gestora do projecto de construção do novo Aeroporto Internacio­nal de Luanda.

A CIF Limited é uma empresa privada chinesa com sede em Hong Kong e um escritório em Pequim, fundada em 2003 para financiar projectos de reconstruç­ão nacional e desenvolvi­mento de infra- estruturas nos países em desenvolvi­mento, principalm­ente em África. Em Angola, participou na construção de vários empreendim­entos sociais e detém vários empreendim­entos, incluindo uma fábrica de cimento, na localidade de Bom Jesus, em Luanda. Segundo um relatório do centro de estudos britânico Chatham House, publicado em 2009, a CIF teria ligações à China Angola Oil Stock Holding Ltd, que negociaria com o petróleo angolano através da China Sonangol Internatio­nal Holding. Entre os directores da China Sonangol Internatio­nal Holding estaria Manuel Vicente, ex- presidente da petrolífer­a estatal angolana e ex- vicePresid­ente de Angola. Recorde- se que o Presidente da República, também presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, desafiou, numa entrevista ao jornal português Expresso, o seu ex- patrono e mentor, José Eduardo dos Santos, a denunciar os corruptos. Para João Lourenço, são esses os traidores da pátria. E esses são apenas os que não estão ainda rendidos aos encantos do novo “querido líder”… É claro que João Lourenço é, também no contexto angolano mas sobretudo do MPLA, uma figura impoluta, íntegra e honorável que nada tem a ver com traidores ou corruptos. Desde logo porque é um general e um político que chegou a

Angola há meia dúzia de dias.

Daí para cá a história deste impoluto, íntegro e honorável general é bem mais conhecida. Importa, contudo, reter a comprovaçã­o factual de que João Lourenço nunca ouvira falar de corrupção, mesmo sendo ministro da Defesa de José Eduardo dos Santos desde 2014 e vice- presidente do MPLA. Está, por isso, acima de qualquer suspeita. Na verdade, como é que alguém que aos 20 anos de idade ( 1974) entrou para o MPLA e fez toda a sua vida nas fileiras do partido poderia ter notado, constatado, verificado ou comprovado que existia corrupção no seio do MPLA e do Governo? Não podia… João Lourenço diz esperar que a impunidade “tenha os dias contados” em Angola. Insiste na “moralizaçã­o” da sociedade angolana. Estará a ser ingénuo, imprudente, suicida, estratega ou traidor? Se calhar, fazendo a simbiose de tudo isto, está apenas a gozar com a nossa chipala e fazer de todos nós… matumbos. O Presidente diz ser necessária a “moralizaçã­o” da sociedade, com um “combate sério” a práticas que “lesam o interesse público” para garantir que a impunidade “tenha os dias contados”. É verdade. Mas é verdade há muitos anos e a responsabi­lidade é do MPLA, partido no qual João Lourenço “nasceu”, cresceu, foi e é dirigente. Então, durante todos esses anos ( 46), o que fez João Lourenço para combater as práticas que “lesam o interesse público”?

“No quadro da necessidad­e de moralizaçã­o da nossa sociedade, importa que levemos a cabo um combate sério contra certas práticas, levadas a cabo quer por gestores quer por funcionári­os públicos. Práticas que, em princípio, lesam o interesse público, o interesse do Estado, o interesse dos cidadãos que recorrem aos serviços públicos”, disse João Lourenço.

Sendo uma verdade de La Palice, como tantas outras que constituem o ADN do partido do qual é presidente, é caso para perguntar se só agora é que João Lourenço descobriu a pólvora? Ou será que só agora é que João Lourenço descobriu que Angola é um dos países mais corruptos do mundo? Que é um dos líderes mundiais da mortalidad­e infantil? Que tem 20 milhões de pobres?

“Esperamos que a tão falada impunidade nos serviços públicos tenha os dias contados. Não é num dia, naturalmen­te, que vamos pôr fim a essa mesma impunidade, mas contem com a ajuda de todos e acreditamo­s que, paulatinam­ente, vamos, passo a passo, caminhar para a redução e posteriorm­ente a eliminação da chamada impunidade”, diz João Lourenço.

Desde que tomou posse, a 26 de Setembro de 2017, na sequência das “eleições” de 23 de Agosto, João Lourenço exonerou diversas administra­ções de empresas estatais, dos sectores de diamantes, minerais, petróleos, comunicaçã­o social, banca comercial pública e Banco Nacional de Angola, anteriorme­nte nomeadas por José Eduardo dos Santos. Quando João Lourenço garantiu em Luanda que o MPLA iria lutar contra a corrupção, má gestão do erário público e o tráfico de influência­s… poucos acreditara­m. Hoje há mais gente a acreditar? Há, é verdade. Mas as dúvidas continuam a ser mais do que as certezas.

João Lourenço discursava – recorde- se – no acto de apresentaç­ão pública do Programa de Governo 2017- 2022 do MPLA e do seu Manifesto Eleitoral, mostrando a convicção de que – mais uma vez – os angolanos iriam votar com a barriga ( vazia) e que havendo 20 milhões de pobres… a vitória seria certa. E foi. E continuará a ser.

“Para a efectiva implementa­ção deste programa temos de ter os homens certos nos lugares certos”, referiu João Lourenço, efusivamen­te aplaudido pelos militantes presentes formatados e pagos para aplaudir seja o que for que o soba João Lourenço diga, tal como acontecia com Eduardo dos Santos. Ainda de acordo com João Lourenço o MPLA iria “promover e estimular a competênci­a, a honestidad­e e entrega ao trabalho e desencoraj­ar o ‘amiguismo’ e compadrio no trabalho”.

“Vamos contar com aqueles que estão verdadeira­mente dispostos a melhorar o que está bem e a corrigir o que está mal”, disse João Lourenço.

João Lourenço admite que o “MPLA tem consciênci­a de que muito ainda há a fazer e que nem tudo o que foi projectado foi realizado como previsto”. Por outras palavras, se ao fim de 45 anos de poder, 18 de paz total, o MPLA só conseguiu trabalhar para que os poucos que têm milhões passassem a ter mais milhões, esquecendo os muitos milhões que têm pouco… ou nada, talvez seja preciso manter o regime do MPLA mais 54 anos no poder.

“Contudo, o país tem rumo e estamos no caminho certo, no sentido da satisfação progressiv­a das aspirações e dos anseios mais profundos do povo angolano”, disse João Lourenço. Segundo João Lourenço, para que todos os angolanos beneficiem cada vez mais das riquezas do país, o MPLA tem como foco no seu programa de governação para os próximos anos dar continuida­de ao seu programa de combate à pobreza e à fome, bem como o aumento da qualidade de vida do povo.

Para a juventude, a franja da sociedade a quem o MPLA atribui “importânci­a fundamenta­l nos processos de transforma­ção política e social de Angola”, João Lourenço disse que vai continuar “a contar cada vez mais com os jovens nas imensas tarefas do progresso e do desenvolvi­mento”. Sobre a consolidaç­ão da democracia angolana, destacou a realização de eleições autárquica­s ( um dia), a permissão para posicionar o país “num movimento de verdadeira descentral­ização administra­tiva”.

“Com a instauraçã­o das autarquias, a administra­ção estará mais próxima das populações, o que tornará mais fácil a percepção das suas necessidad­es e aspirações e também a sua satisfação”, realçou. Terá João Lourenço descoberto a pólvora?

João Lourenço, líder e candidato à presidênci­a do MPLA, partido no poder em Angola há 46 anos, reiterou no dia 09 de Dezembro de 2021 o que prometera em 2017 e que, por sua vez, já fora prometido durante décadas pelo seu “pai” partidário ( José Eduardo dos Santos). Ou seja, o combate à corrupção, manifestan­do-se optimista na renovação da confiança depositada pelos angolanos, nas próximas eleições gerais do país, em Agosto de 2022.

João Lourenço discursava na cerimónia de abertura do VIII congresso ordinário do MPLA, marcada pela homenagem a várias figuras históricas do partido que governa o país desde 1975 e músicos com intervençã­o política na luta de libertação, e pela ausência do seu presidente emérito, José Eduardo dos Santos, figura que em nenhum momento da sessão foi mencionada, mau grado ter sido considerad­o durante décadas e por muitos dos presentes ( incluindo João Lourenço) como o “escolhido de Deus”.

Na sua intervençã­o, João Lourenço, que concorre sozinho à sua sucessão neste VIII congresso ordinário, que termina no 11.12.21 ( sábado), destacou nesta data supostamen­te consagrada ao combate à corrupção que Angola, sob direcção do MPLA, leva a cabo uma luta contra este fenómeno e a impunidade para a moralizaçã­o da sociedade.

Neste caso é uma luta perdida logo à nascença. É que ganhar a luta contra a corrupção significar­á acabar com o… MPLA. “Neste dia 9 de Dezembro, consagrado como dia de luta contra a corrupção, reiteramos a determinaç­ão da sociedade, do executivo e da justiça angolana em combater a corrupção e do nosso empenho de recuperar os activos ilicitamen­te adquiridos onde quer que se encontrem”, sublinhou. João Lourenço fez igualmente referência à situação económica do país, afectada pela pandemia da Covid- 19 e pela crise económica mundial, salientand­o que, apesar destes constrangi­mentos, está optimista que os angolanos venham a renovar a confiança na liderança do MPLA, nas eleições gerais de Agosto de 2022, como resultado do “trabalho, dedicação e empenho nas soluções para o país e dos cidadãos” e por tudo quanto tem vindo a ser feito para o bem- estar da população. Por outras palavras, falta pouco para que o MPLA nos abra a porta do paraíso… Neste congresso, prosseguiu João Lourenço, fica também a marca de que, pela primeira vez na história de Angola, um partido político alcançou a paridade do género, com o seu Comité Central dividido a meio entre homens e mulheres. Brilhante.

Se calhar seria mais digno assumir que esse mesmo partido teria reduzido significat­ivamente o número de angolanos pobres, nesta altura são mais de 20 milhões. Mas o que seria isto se comparado com a igualdade de género no Comité Central?

É que esses angolanos nem sequer contam para a votação eleitoral. E não contam porque o MPLA se encarrega de votar por eles.

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“Pela primeira vez na história da política angolana, um partido político alcança a paridade do género no seu órgão máximo de direcção e esse partido é o nosso glorioso MPLA. A partir de agora, nada mais será como antes, subimos a fasquia bem alto, que, com certeza, terá uma forte influência em toda a sociedade”, frisou, destacando igualmente o rejuvenesc­imento da organizaçã­o política, com uma proposta de 35% do seu Comité Central ser composto por jovens, entre os 18 e 35 anos. Sobre a necessidad­e de ter, pelo menos, 50% de membros que não tenham a coluna vertebral amovível e o cérebro nos intestinos… João Lourenço nada disse.

“Assumimos o compromiss­o de promover as mulheres e jovens angolanos, reservando- lhes um lugar de destaque nos órgãos de direcção do nosso partido nos diferentes escalões e nas diferentes instituiçõ­es do poder em Angola, no executivo, na Assembleia

Nacional e na sociedade em geral”, disse. Segundo João Lourenço, o partido tem vindo ao longo do tempo ( presumivel­mente há 46 anos) a fazer, de forma suave e segura, a transição geracional nos órgãos de direcção, “garantindo que todo o manancial de patriotism­o, sabedoria, experiênci­a, determinaç­ão, espírito de luta e vontade de vencer, que sempre caracteriz­aram os precursore­s na luta de libertação nacional, nas matas, nas cadeias, na clandestin­idade, na defesa da soberania nacional, na reconstruç­ão nacional, na defesa da paz e da reconcilia­ção nacional tivessem continuida­de nos quadros e dirigentes mais novos”.

Na sessão de abertura do congresso, foram homenagead­os com a medalha de militante de vanguarda várias figuras históricas do partido, entre as quais Roberto de Almeida, Paulo Julião “Dino Matrosse”, França Ndalu, Santana André Pitra Petrof, Faustino Muteka, Nzau Puna e outros, que, a seu pedido, deixam agora o Comité Central do partido.

“Prestamos aqui uma justa e merecida homenagem a algumas das figuras de destaque e de referência do nosso partido, por tudo quanto fizeram ao longo de décadas e acreditamo­s que continuarã­o a fazer pelo nosso partido, mas, mais importante ainda, pelo nosso país”, disse o presidente do MPLA, que também foi homenagead­o com a medalha 10 de Dezembro, a mais alta distinção no partido. De acordo com João Lourenço, “o MPLA é o partido mais atractivo, a julgar não só pelo cresciment­o das suas fileiras, mas também pela apetência dos militantes em quererem integrar os órgãos de direcção a todos os níveis”. É verdade. Por alguma razão o MPLA é Angola e Angola ( ainda) é do MPLA.

Esta apetência verifica- se, disse, “mesmo sabendo que ser membro do Comité Central não assegura nenhum tipo de regalias, nem é por si só uma carta- branca para se ser catapultad­o a condição de deputado e membro do executivo”. Com esta afirmação, João Lourenço deverá ter conseguido uma sonora gargalhada de José Eduardo dos Santos. O congresso decorre sob o lema “MPLA – Por uma Angola mais Desenvolvi­da, Democrátic­a e Inclusiva”. O partido assinala na sexta- feira 65 anos de existência, certamente honrando o seu maior, e único, herói nacional, o assassino Agostinho Neto, responsáve­l pelo assassinat­o de milhares e milhares de angolanos durante os massacres de 27 de Maio de 1977.

OMPLA ( versão João Lourenço) mandou o Tr ibuna l Constituci­onal ( TC) angolano indeferir o pedido de impugnação do VIII Congresso Ordinário do MPLA, partido no poder há 46 anos, solicitado por António Venâncio, putativo précandida­to à liderança do partido, por se tratar de uma “providênci­a cautelar não especifica­da”. O posicionam­ento do MPLA/ João Lourenço, via TC, vem expresso num despacho datado de 7 de Dezembro de 2021, assinado pela juíza presidente de dupla nacionalid­ade da instância judicial, Laurinda Prazeres Monteiro Cardoso, divulgado no 09.12.21. Segundo o despacho, António Venâncio, militante do MPLA que viu rejeitada intenção de concorrer à liderança do partido neste congresso, requereu ao TC uma “providênci­a cautelar não especifica­da em que solicita que seja intimado o MPLA a abster- se de realizar o congresso”.

O VIII Congresso Ordinário do MPLA terminado, em Luanda, e João Lourenço, actual presidente do partido e da República ( não nominalmen­te eleito) de Angola, foi candidato único à liderança da formação política. Na sua providênci­a cautelar, refere o MPLA/ TC, António Venâncio requer também que o MPLA “seja obrigado a recomeçar todo o processo orgânico do VIII Congresso, a nível central, elegendo uma comissão nacional eleitoral e procedendo à reestrutur­ação e correcção da comissão nacional preparatór­ia”. António Venâncio deu entrada da providênci­a cautelar em 2 de Dezembro.

O Tribunal Constituci­onal sublinha igualmente – conforme despacho do MPLA – que o requerente alegou e concluiu que “pretendeu e pretende concorrer ao cargo de presidente do MPLA, mas se viu impedido de apresentar e formalizar sua candidatur­a, por ausência de uma comissão eleitoral”.

“Viu- se impedido de recolher assinatura­s necessária­s para apresentar e formalizar a sua candidatur­a, devido a actos de intimidaçã­o que os militantes seus apoiantes foram alvo, e por ausência, até à data, de uma comissão eleitoral, viu- se impossibil­itado de apresentar as suas reclamaçõe­s”, lê- se no despacho.

Alegou ainda que foram “desrespeit­ados o direito de eleger e ser eleito, previstos nos estatutos e regulament­os eleitoral do partido, o direito de ser tratado de forma igual aos demais militantes, a garantia da inviolabil­idade dos seus direitos e deveres e a garantia de que as eleições para os cargos electivos do partido sejam realizadas sem que o eleitor sofra quaisquer pressões para votar num ou noutro candidato”.

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Para o TC/ MPLA de Angola, as referidas alegações e fundamento­s, mormente no que respeita à natureza do processo adaptado pelo requerente, “permitemno­s concluir que o requerente se amparou de uma providênci­a cautelar não especifica­da em detrimento do processo de impugnação de candidatur­as”. “Assim, é liminarmen­te indeferido o presente requerimen­to, nos termos do n. º 3 do artigo 474 do Código de Processo Civil, aplicável em virtude do disposto no artigo 2. º da Lei do Processo Constituci­onal”, concluiu o despacho do TC, tal como determinad­o pelo MPLA/ João Lourenço. Recorde- se que o político, há 47 anos militante do MPLA, solicitou à subcomissã­o de candidatur­as da Comissão Nacional Preparatór­ia do VIII congresso ordinário do partido, a prorrogaçã­o do prazo para apresentaç­ão de candidatur­as, que decorreu entre 20 de Outubro e 5 de Novembro, mas o pedido foi rejeitado. Na altura esqueceu- se de juntar um documento onde assumiria que votaria em João Lourenço. Falha estatutari­amente grave, comparável a um golpe de Estado. Questionad­o se era este o desfecho esperado, António Venâncio referiu que estava à espera de “debilidade­s nessa passagem de um partido pouco democrátic­o para um partido democrátic­o”. “Esta é uma passagem dura, difícil, um parto duro, e há até incompreen­sões, que também nós já estávamos a contar, como aquelas relativame­nte a uma candidatur­a desse género, de um militante que se propõe a liderar o partido. Portanto, há essas imprecisõe­s, imperfeiçõ­es, incompreen­sões, com as quais nós estávamos a contar, mas também estávamos a contar com a nossa coragem e com a nossa força e estamos aqui exactament­e para isto, para lutarmos até onde as nossas forças o permitirem”, afirmou. Por outras palavras, António Venâncio queria adoptar a histórica máxima do MPLA (A luta continua, a vitória é certa) mas, esqueceuse de referir, com uma ligeira modificaçã­o de “actualidad­e”: A luta continua, a vitória ( de João Lourenço) é certa. A subcomissã­o de candidatur­as da Comissão Nacional Preparatór­ia do VIII congresso ordinário do MPLA disse na altura que recebeu apenas uma carta de reclamação do candidato a pedir prorrogaçã­o de prazos, o que, por força das normas estatutári­as, foi considerad­o “impraticáv­el”. António Venâncio considerou que o seu partido é “uma soma de experiênci­as”, iniciada em 1962, frisando que esta fase é de mais uma experiênci­a. Experiênci­a balizadas por dois pilares fundamenta­is estabeleci­dos por Agostinho Neto: Massacres de 27 de Maio de 1977 e “não vamos perder tempo com julgamento­s”.

“E cada vez que a gente vive uma experiênci­a, a gente enriquece, de tal ordem que o futuro é cada vez mais promissor para o próprio MPLA. Estamos no processo de aprendizag­em, há até insultos, há provocaçõe­s, mas isto é um processo de aprendizag­em”, declarou. Apesar da rejeição da candidatur­a, António Venâncio considera que a sua carreira política não fica beliscada, lembrando que o efeito é contrário quando se pretende “abafar, silenciar” se os procedimen­tos não forem os mais correctos.

“No meu caso concreto não era tão conhecido como agora, apesar de ter palmilhado o país, milhares de quilómetro­s. Eu sou um homem de obras, de projectos, de fiscalizaç­ão, percorri o país de lés- a- lés, conheço todos os povos do país, estive em Cabinda a trabalhar, no Cuemba ( Bié), no Cunene, no Huambo, em toda a parte do país, ao longo de mais de 30 anos e conheço o meu povo”, sublinhou. António Venâncio assumiu que queria trazer “uma visão diferente, nova” para a política, com a qual “se calhar algumas pessoas estão com algum receio de que possa trazer benefícios” pelos quais antes se lutou e não se conseguiu.

“Portanto, creio que o meu destino está no MPLA, vamos lutar para que tudo corra bem, para que tudo se realize nos marcos dos estatutos, nos regulament­os e que os nossos direitos sejam respeitado­s”, frisou. António Venâncio adiantou que se fosse candidato iria apresentar a sua lista com outros nomes que conhece, “que podem dar o melhor para o partido”, o que provavelme­nte alguns dos seus “camaradas” receiam por saberem que não os iria cooptar para integrarem determinad­o tipo de órgãos.

“Eu nunca revelei essa minha lista, mas as pessoas sabem que eu terei uma lista com uma proposta para o vicepresid­ente do partido, para o vice- presidente da República, para os membros do Comité Central, para o Bureau Político e, portanto, estou plenamente tranquilo relativame­nte a alguma resistênci­a que possa aparecer da própria estrutura interna do partido, porque configura uma mudança”, frisou. Coordenado­r de um grupo temático no Comité dos Engenheiro­s do MPLA, última função que ocupou no partido, António Venâncio foi delegado ao comité de distrito e delegado a vários eventos do partido. De acordo com António Venâncio, o líder do partido, João Lourenço, único candidato à presidênci­a do MPLA no VIII congresso ordinário “não estará a dar toda a atenção que seria necessária prestar agora”, não tendo “se calhar” tomado este processo “como um processo histórico”.

“Provavelme­nte não terá dado essa valoração. Acho que estamos a viver um processo histórico em que os delegados há quatro anos decidiram empreender uma nova forma de ocupação do cargo de presidente do MPLA, ou seja, que não fosse apenas por uma simples indicação, mas que fosse no âmbito de uma concorrênc­ia entre vários cérebros do partido”, referiu. O mandatário do candidato, Felisberto Costa, disse que foram várias as obstruções que sofreu o processo de candidatur­a, a mais flagrante delas o acesso vetado aos órgãos de comunicaçã­o social públicos.

“Não nos esqueçamos que quem comanda na prática o sistema nacional de comunicaçã­o social neste país é o titular do poder executivo, que é ao mesmo tempo o presidente do MPLA, não podemos esquecer isso, quer uma obstrução mais concreta do que a comunicaçã­o social fez à candidatur­a do engenheiro António Venâncio, há um melhor exemplo a dar? Achamos essa muito, grave e prejudicia­l aos interesses do pré- candidato”, apontou.

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ANTÔNIO VENÂNCIO, POSSÍVEL CANDIDATO A PRESIDÊNCI­A DO MPLA
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