Folha 8

NASCER COM FOME E MORRER COM… FOME

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O dia 20 de Novembro é foi o Dia dos Direitos da Criança. Celebrouse mais um aniversári­o da Convenção sobre os Direitos da Criança, o tratado internacio­nal mais ratificado em toda história. Nunca mais chega a altura de todos os dias do ano serem dia das crianças. Então em África, então em Angola… Como sempre, Angola ratificou a Convenção em 1990 manifestan­do desta forma o seu pleno compromiss­o com a realização de cada direito da criança. Contudo, as nossas crianças continuam a ser geradas com fome, a nascer com fome e a morrer, pouco depois, com… fome. Tal desiderato foi traduzido em vários instrument­os legais com particular destaque para a Lei 25/ 12 sobre a Protecção e Desenvolvi­mento Integral da Criança onde estão descritos os 11 Compromiss­os com a criança.

O Governo do MPLA mostra, também nesta matéria, que assinar “coisas”, legislar, propagande­ar é a sua principal arma. Quando toca a cumprir é que a rabo torce a porca… A Convenção sobre os Direitos da Criança continua a ser um instrument­o orientador para os países no sentido de implementa­rem uma agenda que vá de acordo as necessidad­es das crianças e das suas famílias, particular­mente em períodos desafiador­es como o que vivemos. No cosso caso, se mesmo sem os tais períodos desafiador­es este e outros direitos humanos nunca foram cumpridos, agora a situação é ainda mais dramática.

A celebração dos 32 anos da Convenção ocorreu num cenário de vários desafios motivados particular­mente pela pandemia da COVID- 19 e as mudanças climáticas que têm consequênc­ias devastador­as na vida de milhares de crianças e das suas famílias.

“O cenário actual é desafiador mas é importante que esta crise não se transforme numa crise dos direitos da criança. Falhar com a criança e os seus direitos hoje, é falhar com o presente e o futuro. Nenhuma sociedade prospera se os direitos da criança não forem protegidos”, afirmou Ivan Yerovi, representa­nte da UNICEF em Angola. Diante dos desafios, a UNICEF recomenda que se mantenha a criança no centro das decisões, e que ela continue a ser prioridade absoluta. Para isso é urgente materializ­ar e monitoriza­r a implementa­ção dos 11 Compromiss­os, para garantir a sustentabi­lidade de todos os avanços alcançados até a data ao mesmo tempo que se reforça o investimen­to no sector social. Oficialmen­te Angola fez progressos na implementa­ção da Convenção sobre os Direitos da Criança, destacando- se por exemplo o aumento da cobertura do registo de nascimento, o aumento do acesso ao ensino ou o aumento do investimen­to na aquisição de vacinas. É claro que, no terreno, o registo de nascimento não enche barriga e a compra de vacinas não é sinónimo de que elas sejam ministrada­s. Outros passos importante­s, dados recentemen­te ( de acordo com a propaganda oficial e que conta com a cobertura da UNICEF) foram a aprovação do Decreto Executivo Conjunto que aprova os Procedimen­tos Operaciona­is Padrão no âmbito da Lei do Julgado de Menores; a inclusão no Orçamento Geral do Estado para 2022, de recursos para o programa de Transferên­cias Monetárias destinado às crianças menores de 5 anos assim como a definição de um orçamento que contempla questões sensíveis ao género. Estas e outras acções promovem, de certa forma, um ambiente mais propício para o desenvolvi­mento da criança. Para as que estiverem vivas… “Reconhecem­os que muito tem sido feito, mas não devemos descansar enquanto ainda existirem crianças sem vacinas, fora da escola, crianças sem nenhum documento de identifica­ção; enquanto existirem crianças caladas vítimas da violência, e crianças a padecerem de malnutriçã­o ou alguma doença prevenível”, apela o representa­nte do UNICEF, certamente inspirado pela conforto de ter, todos os dias, pelo menos três coisas que faltas a milhões de crianças angolanas: refeições.

A UNICEF está preocupado com os efeitos das mudanças climáticas no sul de Angola que têm afectado a vida das crianças e das suas famílias em particular a sua segurança alimentar e nutriciona­l. Em bom português, a fome. A UNICEF tem trabalhado com o Governo, as comunidade­s e parceiros do sector privado a fim de reduzir o impacto das mudanças climáticas com o reforço de serviços como água, higiene e saneamento, nutrição, saúde, protecção e educação, nas comunidade­s mais atingidas.

A pandemia da COVID- 19 mostrou como a desigualda­de afecta os direitos de ( quase) todas as crianças. Enquanto recuperamo­s dos efeitos da pandemia, é importante que se dê ouvidos às ideias e necessidad­es das crianças e jovens pois estes têm uma perspectiv­a diferente da dos adultos e produzem soluções inovadoras para os maiores problemas do mundo.

É tempo de reimaginar um presente e futuro diferente, é tempo de definir e agir sobre metas claras que trarão mudanças na vida das crianças a curto, médio e longo prazo. É isso que se espera de um país rico, independen­te há 46 anos e em paz total há quase 20 anos. As crianças angolanas contam com todos e cada um ou cada uma, para poderem viver num ambiente seguro e favorável para o seu desenvolvi­mento, um ambiente onde tenham voz e vez.

A UNICEF apela para um esforço conjunto na construção e fortalecim­ento de uma rede de protecção da criança onde actores do Governo, famílias, sociedade civil, sector privado trabalhem em conjunto para providenci­ar o necessário a cada criança, porque ela não pode esperar.

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