DE VLADIMIR “NUREJEV” A JOÃO “BARYSHNIKOV”
OSupremo Tribunal da Rússia ordenou a dissolução da Memorial, a principal organização de direitos humanos do país e guardiã da memória das vítimas dos campos de trabalhos forçados soviéticos. Qualquer semelhança com Angola em matéria de assassinatos ( mesmo dos direitos humanos) poderá ser, ou não, mera coincidência.
A decisão corresponde a um pedido do Ministério Público russo, que acusou a organização nãogovernamental ( ONG) de criar “uma falsa imagem da União Soviética como Estado terrorista”. A dissolução aplica- se à organização de memória histórica e à organização de defesa dos direitos humanos, que compõem a Memorial International, de acordo com as agências de notícias internacionais. “A decisão é de liquidar a Memorial International e as suas filiais regionais”, anunciou a ONG na sua conta na aplicação de mensagens Telegram, segundos depois de se ter iniciado a leitura da decisão do Supremo Tribunal. Considerada um dos pilares da sociedade civil russa desde a queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ( URSS), há 30 anos, a Memorial enfrenta dois julgamentos de extinção separados, por ter sido acusada de ser “agente estrangeiro” ( indivíduos ou organizações que, de acordo com as autoridades russas, são financiados a partir de países estrangeiros). A Memorial e os seus apoiantes consideraram que as acusações têm motivos políticos e os líderes da organização prometeram continuar o seu trabalho mesmo que o tribunal a encerre. A Memorial internacional estuda a história dos abusos da ex- União Soviética e de acordo com seu site, visa trazer a verdade sobre as suas vítimas e apoiar as suas famílias. A advogada do grupo, Tatiana Glushkova, disse à CNN que o grupo apelaria da decisão.
“O verdadeiro motivo pelo qual o Memorial está a ser encerrada é porque os promotores não gostam do trabalho do Memorial na reabilitação de vítimas do terrorismo soviético”, disse Tatiana Glushkova à CNN.
O grupo foi acusado de violar repetidamente a lei ao deixar de marcar todas as suas publicações com advertências obrigatórias de “agente estrangeiro”. O Departamento de Justiça designou o grupo como agentes estrangeiros em 2016 ao abrigo de uma lei destinada a organizações que recebem financiamento internacional. Vídeos postados nas redes sociais mostraram apoiantes da Memorial gritando: “Vergonha, vergonha!” nos corredores do tribunal e na entrada do prédio logo após o julgamento.
A Memorial argumenta que não há motivos legais para o fecho do grupo, e os críticos dizem que o governo russo perseguiu a ONG por motivos políticos.
Andrei Sakharov, vencedor do Prémio Nobel da Paz, foi um dos fundadores originais do grupo e o primeiro presidente honorário da Sociedade Memorial.
A organização irmã do Memorial International, o Memorial Human Rights Center, enfrenta um desafio semelhante. Os promotores de Moscovo acusaram o grupo de justificar o terrorismo e o extremismo nas suas publicações.
O Centro de Direitos Humanos Memorial é uma entidade legal independente focada na opressão na Rússia moderna. Ela foi classificada como agente estrangeira em 2014, de acordo com a Human Rights Watch.
O presidente russo, Vladimir Putin, num discurso no início deste mês, acusou a Memorial de apoiar grupos listados como “organizações terroristas e extremistas”.