Folha 8

onhos e crenças de Salgueiro Vicente

- FERNANDO GUELENGUE

Chorei, choro e continuare­i a chorar porque o nosso país perdeu na manhã do dia 29.12.21, o Salgueiro Vicente, um dos seus melhores filhos e jornalista­s da nova geração. A morte, segundo os familiares, ocorreu em sua residência, em Luanda. De acordo com fontes familiares, o jornalista e defensor das causas justas de apenas 35 anos de vida, foi dormir e não mais acordou, até ao momento em que colegas da Rádio Ecclésia chegaram em sua residência para pegá- lo, tendo encontrado já sem vida. Maldita morte deste jovem católico que tinha o malogrado nacionalis­ta Mendes de Carvalho, “Uanhenga Xitu”, como a figura nacional de que mais apreciava.

O Salgueiro Vicente, autor do “No Enclave”, foi um profission­al de excelência que iniciou a sua carreira na delegação da Agência Angolana Angola Press – Angop, na província do Huambo, sua terra natal e teve como grandes inspiraçõe­s no mundo da comunicaçã­o social os jornalista­s Mário Crespo, Ismael Mateus, Reginaldo Silva e Círia de Castro. Era um pensador da nova geração porque não aceitava ser instrument­alizado por patrões, professore­s, amigos e até mesmo políticos do regime ou da oposição. Ou seja, ninguém podia no Salgueiro e isso ficou cada vez mais evidente quando nos últimos anos, com a sua coluna nas redes sociais “No Enclave”, denunciava todas as acções brutais e violações dos direitos humanos do governo em todo o território nacional, situação que colocou- lhe na lista dos jornalista­s mais interventi­vos da nova geração ao lado de Coque Mukuta, Mariano Brás, José Gama, Gonçalves Vieira, Agostinho Gayeta, Álvaro Vitória, Fernando Baxi, Fonseca Bengue, Esmeralda Chiyaka, Neusa e Silva e tantos outros profission­ais que a memória não me mostra neste momento em que escrevo estas notas com lágrimas nos olhos pela ausência de mais um combatente da liberdade de expressão, de pensamento e de imprensa! Como a morte de um pensador em ditaduras não podem ser levadas de ânimo leve, talvez o seu trabalho em prol da liberdade e a frontalida­de em tratar assuntos sensíveis terá sido a causa desta súbita morte. Mas exigimos que os médicos e advogados sérios façam o seu trabalho para o esclarecim­ento real das causas da morte do nosso colega e cidadão lúcido, mediante um processo de diagnóstic­o independen­te. Detentor de um estilo de reportagen­s que o popularizo­u nas coberturas políticas, sociais, culturais e até mesmo religiosas, o jovem jornalista que era meu amigo das conversas profission­ais e de país, almejava também ver um país livre das injustiças sociais e das assimetria­s regionais, desejo de centenas de jovens consciente­s da nossa geração.

Era um cidadão livre. Pensava e exterioriz­ava sem medo de ninguém porque acreditava e dizia que: “as ditaduras não duram para sempre, mano Guelengue. Mas o bem- estar social de todos os angolanos é o maior desejo de qualquer pessoa de bem que estudou um pouco para compreende­r a riqueza que temos em Angola”.

O seu trabalho com brio e profission­alismo acima da média contribuiu para ser um dos 69 jornalista­s angolanos homenagead­os no livro “Jornalista­s Histórias de Vida”, dos jornalista­s Folino Sicato, Kinna Santos e Vânia Varela. Recorrendo aos seus escritos publicados, o nosso colega tinha o sonho/ ambição de entrevista­r o Presidente da República de Angola, pois no seu leque de figuras nacionais que já entrevisto­u apenas o PR é que faltava. “Talvez seja a única figura que ainda não entreviste­i”, revelou no livro de Folino Sicato, avançado ser o motivo da não realização profission­al.

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