onhos e crenças de Salgueiro Vicente
Chorei, choro e continuarei a chorar porque o nosso país perdeu na manhã do dia 29.12.21, o Salgueiro Vicente, um dos seus melhores filhos e jornalistas da nova geração. A morte, segundo os familiares, ocorreu em sua residência, em Luanda. De acordo com fontes familiares, o jornalista e defensor das causas justas de apenas 35 anos de vida, foi dormir e não mais acordou, até ao momento em que colegas da Rádio Ecclésia chegaram em sua residência para pegá- lo, tendo encontrado já sem vida. Maldita morte deste jovem católico que tinha o malogrado nacionalista Mendes de Carvalho, “Uanhenga Xitu”, como a figura nacional de que mais apreciava.
O Salgueiro Vicente, autor do “No Enclave”, foi um profissional de excelência que iniciou a sua carreira na delegação da Agência Angolana Angola Press – Angop, na província do Huambo, sua terra natal e teve como grandes inspirações no mundo da comunicação social os jornalistas Mário Crespo, Ismael Mateus, Reginaldo Silva e Círia de Castro. Era um pensador da nova geração porque não aceitava ser instrumentalizado por patrões, professores, amigos e até mesmo políticos do regime ou da oposição. Ou seja, ninguém podia no Salgueiro e isso ficou cada vez mais evidente quando nos últimos anos, com a sua coluna nas redes sociais “No Enclave”, denunciava todas as acções brutais e violações dos direitos humanos do governo em todo o território nacional, situação que colocou- lhe na lista dos jornalistas mais interventivos da nova geração ao lado de Coque Mukuta, Mariano Brás, José Gama, Gonçalves Vieira, Agostinho Gayeta, Álvaro Vitória, Fernando Baxi, Fonseca Bengue, Esmeralda Chiyaka, Neusa e Silva e tantos outros profissionais que a memória não me mostra neste momento em que escrevo estas notas com lágrimas nos olhos pela ausência de mais um combatente da liberdade de expressão, de pensamento e de imprensa! Como a morte de um pensador em ditaduras não podem ser levadas de ânimo leve, talvez o seu trabalho em prol da liberdade e a frontalidade em tratar assuntos sensíveis terá sido a causa desta súbita morte. Mas exigimos que os médicos e advogados sérios façam o seu trabalho para o esclarecimento real das causas da morte do nosso colega e cidadão lúcido, mediante um processo de diagnóstico independente. Detentor de um estilo de reportagens que o popularizou nas coberturas políticas, sociais, culturais e até mesmo religiosas, o jovem jornalista que era meu amigo das conversas profissionais e de país, almejava também ver um país livre das injustiças sociais e das assimetrias regionais, desejo de centenas de jovens conscientes da nossa geração.
Era um cidadão livre. Pensava e exteriorizava sem medo de ninguém porque acreditava e dizia que: “as ditaduras não duram para sempre, mano Guelengue. Mas o bem- estar social de todos os angolanos é o maior desejo de qualquer pessoa de bem que estudou um pouco para compreender a riqueza que temos em Angola”.
O seu trabalho com brio e profissionalismo acima da média contribuiu para ser um dos 69 jornalistas angolanos homenageados no livro “Jornalistas Histórias de Vida”, dos jornalistas Folino Sicato, Kinna Santos e Vânia Varela. Recorrendo aos seus escritos publicados, o nosso colega tinha o sonho/ ambição de entrevistar o Presidente da República de Angola, pois no seu leque de figuras nacionais que já entrevistou apenas o PR é que faltava. “Talvez seja a única figura que ainda não entrevistei”, revelou no livro de Folino Sicato, avançado ser o motivo da não realização profissional.