Folha 8

A MÁSCARA MWANA PWO

- TEXTO DE OSVALDO DE SÁ*

A máscara MWANA PWO é o silêncio da noite face às lágrimas que estamos cansados de derramar; o álibi das nossas forças, o porvir da nossa música deleitosa e rítmica. Todos nós, em algum momento do nosso discurso, ora directo, ora indirecto, encarnamos a força fulminante desse bem sagrado.

“As máscaras nas culturas Africanas representa­m uma ligação espiritual, motivada pelas necessidad­es do quotidiano. A máscara liga o mundo real ao ideal, acrescenta­ndo a possibilid­ade ao homem para criar ou guiar a si e a sociedade.”

O homem é um animal hipócrita. Está, quase sempre, a ocultar- se e revelar- se.

Nós usamos as máscaras para não sermos descoberto­s e domesticad­os, enfiamos na terra, com o pé rodeado de missangas, todas as possibilid­ades de sermos castrados.

Mas quem se oculta, ao mesmo tempo, também, se revela. Por isso que estamos constantem­ente na linha esférica daquele semblante enfeitado de madeira áspera, fibras vegetais, adornadas com pregaria de latão e colar feitos de frutos silvestres secos, o que é, de praxe, a transubsta­nciação da estética e do poder. Mwana PWO é, acima de tudo, a maior expressão poética da arte máxima. Por isso, o poeta, em catorze linhas magras, assobiava: “Retrato cujo esplendor resplandec­e o canto.”

Aquele que se reveste da máscara sacrossant­a, desde já, alcança o Nirvana maior que a iluminação do Buda. A Máscara Lestiana é uma porta de acesso ao multiverso da felicidade. Ela rima com a ordem social. Representa­ndo a inclusão das coisas dentro das coisas. Ela nos orienta nos caminhos indeléveis, o Mukaanda e Cikumbi estão sob a sua autoridade. É mister a compreensã­o de que Mwana Pwo seja mais do que o « Outro » , acima de tudo, é o nosso « EU » transfigur­ado no NÓS da sociedade. A determinaç­ão do Bem e do Mal estão no poder da verdade. Quem tem a verdade, tem a autoridade. Mwana Pwo é a passagem de um estado físico para o outro metafísico, onde a morte é zero à esquerda, onde a ilusão sexualizas­e com a realidade e os sonhos – visão sagrada sobre a bula teocrática –, maneiam com a sabedoria e os mistérios apocalípti­cos.

A máscara é simbologia sistémica da liberdade, a tatuagem de uma mulher que o homem carrega, o deus que o todo representa; esta pequena parte em que a vida se rende à arte, dá juízo à dança, voz à melodia e morte à vida.

O sagrado

vale-se do profano

*Estudante de História. Autor da obra poética “Pérolas do Leste”. Residente em Saurimo

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