A MÁSCARA MWANA PWO
A máscara MWANA PWO é o silêncio da noite face às lágrimas que estamos cansados de derramar; o álibi das nossas forças, o porvir da nossa música deleitosa e rítmica. Todos nós, em algum momento do nosso discurso, ora directo, ora indirecto, encarnamos a força fulminante desse bem sagrado.
“As máscaras nas culturas Africanas representam uma ligação espiritual, motivada pelas necessidades do quotidiano. A máscara liga o mundo real ao ideal, acrescentando a possibilidade ao homem para criar ou guiar a si e a sociedade.”
O homem é um animal hipócrita. Está, quase sempre, a ocultar- se e revelar- se.
Nós usamos as máscaras para não sermos descobertos e domesticados, enfiamos na terra, com o pé rodeado de missangas, todas as possibilidades de sermos castrados.
Mas quem se oculta, ao mesmo tempo, também, se revela. Por isso que estamos constantemente na linha esférica daquele semblante enfeitado de madeira áspera, fibras vegetais, adornadas com pregaria de latão e colar feitos de frutos silvestres secos, o que é, de praxe, a transubstanciação da estética e do poder. Mwana PWO é, acima de tudo, a maior expressão poética da arte máxima. Por isso, o poeta, em catorze linhas magras, assobiava: “Retrato cujo esplendor resplandece o canto.”
Aquele que se reveste da máscara sacrossanta, desde já, alcança o Nirvana maior que a iluminação do Buda. A Máscara Lestiana é uma porta de acesso ao multiverso da felicidade. Ela rima com a ordem social. Representando a inclusão das coisas dentro das coisas. Ela nos orienta nos caminhos indeléveis, o Mukaanda e Cikumbi estão sob a sua autoridade. É mister a compreensão de que Mwana Pwo seja mais do que o « Outro » , acima de tudo, é o nosso « EU » transfigurado no NÓS da sociedade. A determinação do Bem e do Mal estão no poder da verdade. Quem tem a verdade, tem a autoridade. Mwana Pwo é a passagem de um estado físico para o outro metafísico, onde a morte é zero à esquerda, onde a ilusão sexualizase com a realidade e os sonhos – visão sagrada sobre a bula teocrática –, maneiam com a sabedoria e os mistérios apocalípticos.
A máscara é simbologia sistémica da liberdade, a tatuagem de uma mulher que o homem carrega, o deus que o todo representa; esta pequena parte em que a vida se rende à arte, dá juízo à dança, voz à melodia e morte à vida.
O sagrado
vale-se do profano
*Estudante de História. Autor da obra poética “Pérolas do Leste”. Residente em Saurimo