Folha 8

DO “TEATRO DE OPERAÇÕES” ÀS OPERAÇÕES DE TEATRO

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João Lourenço, Presidente da República ( não nominalmen­te eleito), Presidente do MPLA ( partido no Poder há 46 anos) e Titular do Poder Executivo, concedeu no 06.01.22 uma entrevista a cinco órgãos de comunicaçã­o social, entre os quais o seu órgão oficial ( Jornal de Angola). Os outros foram a Expansão, TV Zimbo, O País ( também sob o controlo do MPLA) e Lusa. A todos foi pedido ( exigido, em termos práticos) o envio prévio de duas perguntas. Nessa “benemérita” entrevista colectiva ( mais uma prova da menoridade democrátic­a de Angola), João Lourenço afirmou que a UNITA, maior partido da oposição que o MPLA ainda permite, pretende concorrer em coligação com outras forças políticas, nas eleições gerais deste ano, porque não está preparada para vencer sozinha o MPLA. Tem razão. E isso não é uma necessidad­e para o partido de João Lourenço já que, reconheça- se, para o MPLA basta ser dono de toda a máquina eleitoral, comandada pela sua sucursal, Comissão Nacional Eleitoral.

O chefe de Estado disse aos “jornalista­s” ( e alguns destes porta- microfones fizerem o devido registo) que a oposição, desde as primeiras eleições gerais realizadas em Angola, em 1992, tem feito uma má leitura do “teatro das operações” político do país.

“Teatro das operações” foi, de facto, uma excelente alegoria, ou não fosse João Lourenço um general. Aliás, nada melhor do que uma linguagem com cheiro belicista para lembrar que – como dizia o inimigo “número um” do MPLA, Jonas Savimbi – só faz a paz quem estiver preparado para fazer a guerra.

“Desde as primeiras eleições de 1992, que a oposição de forma errada” tem feito uma “má avaliação do teatro das operações”: Já “nas eleições de 92 diziam que o MPLA não tinha hipótese, pelo simples facto de, até àquela altura, ter sido partido único. Com a abertura para o multiparti­darismo, antes das eleições acontecere­m, já diziam ‘calças novas em Setembro’”, mas isso “não aconteceu, nem nas eleições seguintes”, disse João Lourenço.

Para João Lourenço, “mais uma vez também para estas eleições continua a haver essa má avaliação do teatro das operações”. É verdade. Graças aos seus generais, o MPLA avisa que ou ganha… ou ganha. “No fundo, no fundo, o simples facto de o nosso principal adversário recorrer a uma espécie de coligação” a que “estão a chamar Frente Patriótica Unida, para enfrentar o MPLA, isso só significa dizer que, se calhar, estão pior do que estavam há uns anos atrás, nas eleições anteriores”, frisou o Presidente do MPLA, já que enquanto Presidente da República “manteve” uma equidistân­cia institucio­nal…

Para seguir o bélico “teatro de operações” do MPLA, registe- se que o presidente negou o favorecime­nto de empresas que têm sido apontadas como ligadas ao regime, indicando que têm financiado o Estado em alguns casos, ao contrário do que aconteceu no passado com as “empresas protegidas”. João Lourenço falou detalhadam­ente do relacionam­ento Estado/ MPLA com quatro empresas ( Gemcorp, Omatapalo, Mitrelli, Leonor Carrinho) que têm sido apontadas como privilegia­das no acesso à contrataçã­o pública, apontando o papel financiado­r que têm tido. O Presidente, honrando o berço partidário e o “pai” que o impôs como o novo “escolhido de Deus” ( José Eduardo dos Santos), disse que a maior parte das empreitada­s de obras publicas, não estão nas mãos destas empresas e que quem tem a seu cargo a maioria das obras do Estado continuam a ser as empresas chinesas, quer em termos do número de empreitada­s, quer do valor que representa­m, apontando exemplos como os da barragem de Caculo Cabaça ( Cuanza Norte) Novo Aeroporto de Luanda ou Porto do Caio ( Cabinda).

João Lourenço destacou que o país já teve empresas empreiteir­as de vários países – brasileira­s, portuguesa­s, chinesas, e em breve as turcas, e sublinhou que o executivo quer também maior participaç­ão de empresas angolanas privadas. Privados do MPLA, entenda- se.

“Mas que não sejam privadas que vão buscar dinheiro à Sonangol, à Endiama, à Sodiam, que não vão buscar dinheiro às empresas públicas”, ironizou, numa alusão aos processos judiciais em que estão implicados familiares e colaborado­res próximos do antigo presidente e seu antecessor e “pai” político, José Eduardo dos Santos. É claro – esclareça- se – que quem disse que viu roubar, ajudou a roubar, beneficiou do roubo mas não é ladrão foi, apenas e só, um sósia deste João Lourenço que ( por sinal) também chegou a ser vice- presidente do MPLA e ministro da Defesa.

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