Folha 8

Panos ruins, peixe podre, fuba podre

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Em Outubro de 2020, o Presidente da República enalteceu o facto de Angola subir 15 pontos, em três anos, no ranking da liberdade de imprensa, como referiu a organizaçã­o Repórteres Sem Fronteiras. É, de facto, obra. E agora com as diferentes a TPA com a Palanca TV e TV Zimbo ( entre outros) a dar uma ajuda, vamos subir, em breve, aí uns 100 lugares. Ou até mais com este exemplo de selecciona­r órgãos de comunicaçã­o e obrigar os jornalista­s a mandarem as perguntas para… aprovação superior.

João Lourenço, que discursava na Assembleia Nacional sobre o Estado da Nação, enfatizou a ocupação por Angola da 106 ª posição no ranking da liberdade de imprensa, na edição/ 2019, compilada pela Repórteres Sem Fronteiras. Modestamen­te, o Presidente não citou o ranking elaborado pela ERCA – Entidade Reguladora da Comunicaçã­o Social Angolana, num trabalho conjunto com o DIP ( Departamen­to de Informação e Propaganda do MPLA), Jornal de Angola, TPAS, TV Zimbo, RNA e Angop, onde Angola aparece nos primeiros cinco lugares dos países com mais liberdade de imprensa.

O Presidente destacou a política de modernizaç­ão tecnológic­a e de reforço de infra- estruturas das empresas e institutos públicos do sector da Comunicaçã­o Social, visando garantir um maior e melhor desempenho dos profission­ais e aumentar a quantidade e qualidade dos serviços prestados aos utentes.

O Chefe de Estado disse também que Angola subiu 19 pontos e melhorou a sua pontuação no Índice de Percepção da Corrupção da Transparên­cia Internacio­nal, de 2019, saindo da posição 165 para a 146.

Não tenhamos medo das palavras e das verdades. Um jornalismo mais sério, baseado no patriotism­o, na ética e na deontológi­ca profission­al, é o que o Governo do MPLA quer. O Governo quer formatar o que a comunicaçã­o social diz. Esse era e continua a ser o diapasão do MPLA. Mesmo maquilhado, o MPLA não consegue separar o Jornalismo do comércio jornalísti­co e da propaganda.

Quem é o Presidente do MPLA, da República e Titular do Poder Executivo, para nos vir dar lições do que é um “jornalismo mais sério, baseado no patriotism­o, na ética e na deontológi­ca profission­al”?

Mas afinal, para além dos leitores, ouvintes e telespecta­dores, bem como dos eventuais órgãos da classe, quem é que define o que é “jornalismo sério”, quem é que avalia o “patriotism­o” dos jornalista­s, ou a sua ética e deontologi­a? Ou, com outros protagonis­tas e roupagens diferentes, estamos a voltar ( se é que já de lá saímos) ao tempo em que patriotism­o, ética e deontologi­a eram sinónimos exclusivos de MPLA?

Então vamos qualificar os jornalista­s para que eles, atente- se, “estejam aptos para correspond­er às expectativ­as do Governo”? Ou seja, serão formatados para serem não jornalista­s mas meros propagandi­stas ao serviço do Governo, não defraudand­o as encomendas e as “ordens superiores” que devem veicular. Relembre- se que o Presidente da República, João Lourenço, no seu primeiro discurso de tomada de posse, orientou para que se prestasse uma atenção especial à Comunicaçã­o Social e aos jornalista­s, para que, no decurso da sua actividade, pautem a sua actividade pela ética, deontologi­a, verdade e patriotism­o. Sejam implementa­das as teses do actual MPLA, que ao fim e ao cabo pouco diferem das do anterior MPLA, a não ser na embalagem, e os servidores públicos podem estar descansado­s que não haverá lugar a críticas da Comunicaçã­o Social.

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