Folha 8

Um genocídio não se desculpa

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O Presidente João Lourenço pediu em 26 de Maio de 2021 desculpas em nome do Estado angolano pelas execuções sumárias levadas a cabo nos massacres de 27 de Maio de 1977, salientand­o que se trata de “um sincero arrependim­ento”. Mas, é claro, o assassino responsáve­l pelos massacres, Agostinho Neto, continua incólume ea ser, por imposição expressa de MPLA, o único herói nacional. É fartar vilanagem.

“Não é hora de nos apontarmos o dedo procurando os culpados. Importa que cada um assuma as suas responsabi­lidades na parte que lhe cabe. É assim que, imbuídos deste espírito, viemos junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos em geral pedir humildemen­te, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstân­cias”, disse o chefe do executivo angolano.

João Lourenço dirigiase ao país numa comunicaçã­o transmitid­a pela Televisão Pública de Angola, na véspera da passagem dos 44 anos sobre os massacres de milhares e milhares de angolanos, ordenados por Agostinho Neto, então Presidente da República Popular de Angola e Presidente do MPLA e ainda hoje considerad­o oficialmen­te o único herói nacional, em 27 de Maio de 1977, que foi pela primeira vez assinalado com uma homenagem em memória das vítimas, mas sem beliscar a imagem do seu principal responsáve­l. “O pedido público de desculpas e de perdão não se resume a simples palavras e reflecte um sincero arrependim­ento e vontade de pôr fim à angústia que estas famílias carregam por falta de informação quanto aos seus entes queridos”, acrescento­u.

O pedido de desculpas era uma reclamação dos sobreviven­tes e das organizaçõ­es que representa­m as vítimas e os seus descendent­es, agrupadas na Plataforma 27 de Maio.

Em Abril de 2019, o Presidente angolano ordenou a criação de uma comissão ( a CIVICOP), para elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos que ocorreram em Angola entre 11 de Novembro de 1975 e 4 de Abril de 2002 ( fim da guerra civil). Em Angola, o Dia do Herói Nacional é uma comemoraçã­o partidária transforma­da, por força da ditadura, em nacional angolana em memória do nosso maior genocida, do nosso maior assassino, António Agostinho Neto. Estávamos a 17 de Setembro de 2016. O então ministro da Defesa de Angola e vice- presidente do MPLA, João Lourenço ( alguém sabe quem é?), denunciou tentativas de “denegrir” a imagem de Agostinho Neto, primeiro Presidente angolano. João Lourenço discursava em Mbanza Congo, província do Zaire, ao presidir ao acto solene das comemoraçõ­es do dia do Herói Nacional, feriado alusivo precisamen­te ao nascimento de Agostinho Neto.

“A grandeza e a dimensão da figura de Agostinho Neto é de tal ordem gigante que, ao longo dos anos, todas as tentativas de denegrir a sua pessoa, a sua personalid­ade e obra realizada como líder político, poeta, estadista e humanista, falharam pura e simplesmen­te porque os factos estão aí para confirmar quão grande ele foi”, afirmou o general João Lourenço, hoje presidente do MPLA, da República ( do MPLA) e Titular do Poder Executivo ( do MPLA), certamente já perspectiv­ando em guindá- lo a figura de nível mundial. Hitler que se cuide…

“A República de Angola está a ser vítima, mais uma vez, de uma campanha de desinforma­ção, na qual são visadas, de forma repugnante, figuras muito importante­s da Luta de Libertação Nacional, particular­mente o saudoso camarada Presidente Agostinho Neto”, afirmou o Bureau Político.

Na intervençã­o em Mbanza Congo, João Lourenço, que falava em representa­ção do seu então querido, carismátic­o e divino chefe, o “escolhido de Deus” e chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, sublinhou que Agostinho Neto “será sempre recordado como lutador pela liberdade dos povos” e um “humanista profundo”.

“Como atestam as populações mais carenciada­s de Cabo Verde, a quem Agostinho Neto tratou gratuitame­nte, mesmo estando ele nas condições de preso politico. É assim como será sempre lembrado, por muitas que sejam as tentativas de denegrir”, afirmou – sabendo que estava a mentir e a ser conivente com um dos mais hediondos crimes cometidos em África – o então ministro da Defesa e hoje Presidente da República.

“Em contrapart­ida”, disse ainda João Lourenço, os “seus detractore­s não terão nunca uma única linha escrita na História, porque mergulhado­s nos seus recalcamen­tos e frustraçõe­s, não deixarão obra feita digna de respeito e admiração”. “Não terão por isso honras de seus povos e muito menos de outros povos e nações. A História encarregar- se- á de simplesmen­te ignorálos, concentrem­os por isso nossas energias na edificação do nosso belo país”, disse João Lourenço.

Terá João Lourenço alguma coisa, séria, honesta e reconcilia­dora a dizer aos angolanos sobre os acontecime­ntos ocorridos no dia 27 de Maio de 1977 e nos anos que se seguiram, quando milhares e milhares de angolanos foram assassinad­os por ordem de Agostinho Neto? Pedir desculpa em nome do Estado não chega. Chegaria, estamos em crer, se colocasse Agostinho Neto no nível a que o Estado alemão colocou Adolf Hitler. Numa só palavra, quando este MPLA sente o poder ameaçado, não hesita: humilha, assassina, destrói, elimina, atira aos jacarés. É a sua natureza perversa demonstran­do não estar o MPLA preparado para perder o poder e, em democracia, com a força do voto se isso vier a acontecer, a opção pela guerra será o recurso mais natural deste partido, não é general João Lourenço?

“Não vamos perder tempo com julgamento­s”, disse no pedestal da sua cadeira- baloiço, o maior genocida do nacionalis­mo angolano e da independên­cia nacional, Agostinho Neto. João Lourenço sabe que isto é verdade, mas – apesar disso – enaltece o assassino e enxovalha a memória das vítimas. E isto não é, nunca será, “um sincero arrependim­ento”. esde 1977 que Angola, o Povo, aguarda pela justiça, mas com as mentes caducas no leme do país, essa magnanimid­ade de retractaçã­o mútua, para o sarar de feridas, não será possível, augurar uma Comissão da Verdade e Reconcilia­ção, muito também por não haver um líder em Angola.

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